sexta-feira, 30 de agosto de 2013

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O PODER DA IGREJA

A. A Fonte do Poder da Igreja.
Jesus Cristo não somente fundou a igreja, mas também a revestiu do necessário poder ou autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas também no sentido administrativo, isto é, Ele é não somente a Cabeça do corpo, mas também o Rei da comunidade espiritual.* É em Sua capacidade de Rei da igreja que Ele a revestiu de poder ou autoridade. Ele mesmo falou da igreja como fundada tão solidamente sobre uma rocha que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela, Mt 16.18; e na mesma ocasião – exatamente a primeira em que Ele fez menção da igreja – também prometeu dota-la de poder, quando disse a Pedro: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19). É evidente que as expressões “igreja” e “reino dos céus” são empregadas uma pela outra aqui. As chaves são um emblema de poder (cf. Is 22.15-22), e com as chaves do reino dos céus Pedro recebe poder para ligar e desligar, o que neste contexto, parece significar, determinar o que é proibido e o que é permitido na esfera da igreja. E a sentença que ele passar – neste caso, não as pessoas, mas as ações – será sancionada no céu.** Pedro recebe este poder como representante dos apóstolos, e estes constituem o núcleo e o alicerce da igreja, em sua qualidade de mestres da igreja. A igreja de todos os séculos é ligada pela palavra deles, Jo 17.20; 1 Jo 1.3. A passagem de Jo 20.23 torna evidente que Cristo dotou não somente a Pedro, mas a todos os apóstolos de poder e do direito de julgar, e não quanto às ações apenas, mas também a pessoas: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos”. Cristo deu este poder, antes de tudo e no grau supremo, aos apóstolos, mas também o estende, embora em menor grau, à igreja em geral. A igreja tem direito de excluir da comunhão o pecador impenitente. Mas, pode fazê-lo somente porque Jesus Cristo em pessoa habita na igreja e, pela instrumentalidade dos apóstolos, supriu a igreja de um apropriado padrão de julgamento. Que Cristo deu poder à igreja em geral, é muito bem evidenciado por várias passagens do Novo Testamento, quais sejam: At 15.23-29; 16.4; 1 Co 5.7, 13; 6.2-4; 12.28; Ef 4.11-16. Os oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e não dos homens, mesmo que a congregação sirva de instrumento para instale-los no ofício. Quer dizer que, de um lado, eles não o recebem das mãos de nenhuma autoridade civil, que não tem poder nenhum nas questões eclesiásticas, e, portanto, não pode outorgar nenhum poder; mas, de outro lado, quer dizer que eles não o derivam do povo em geral (da igreja), apesar de serem eles representantes do povo. Porteous observa acertadamente: “O fato de que o presbítero é denominado representante do povo, mostra que ele é o seu governante, por ele escolhido. O que é designado pelo título de representante é o modo pelo qual o ofício é adquirido, não a fonte do seu poder”.
B. A Natureza Deste Poder.
1. PODER ESPIRITUAL. Quando se afirma que o poder da igreja é espiritual, não se quer dizer que é totalmente interno e invisível, desde que Cristo governa tanto o corpo como a alma, Sua Palavra e os sacramentos se dirigem ao homem todo, e o ministério do diaconato tem até referência especial às necessidades físicas. É um poder espiritual porque é dado pelo Espírito de Deus, At 20.28, só pode ser exercido em nome de Cristo e pelo poder do Espírito Santo, Jo 20.22, 23; 1 Co 5.4, pertence exclusivamente aos crentes, 1 Co 5.12, e só pode ser exercido de maneira moral e espiritual, 2 Co 10.4. O estado representa o governo de Deus sobre a condição externa e temporal do homem, ao passo que a igreja representa o Seu governo sobre a condição interna e espiritual do homem. O primeiro tem por objetivo assegurar aos seus súditos a posse e o gozo dos seus direitos externos e civis, e muitas vezes é forçado a exercer poder coercivo em contraposição à violência humana. O último é edificado em oposição a um mau espírito e com o propósito de livrar os homens da escravidão espiritual infundindo-lhes o conhecimento da verdade, cultivando neles graças espirituais, e elevando-os a uma vida de obediência aos preceitos divinos. Visto que o poder da igreja é exclusivamente espiritual, não recorre à força. Em mais de uma ocasião Cristo declarou que a administração do Seu reino na terra envolve um poder espiritual, e não um poder civil, Lc 12.13 e segtes.; Mt 20.25-28; Jo 18.36, 37. A igreja de Roma não vê este fato grandioso, quando insiste na posse do poder temporal e está determinada a gerir toda a vida do povo que está sob o seu domínio.
2. PODER MINISTERIAL. É copiosamente evidente na Escritura que o poder da igreja não é um poder independente e soberano, Mt 20.25, 26; 23.8, 10; 2 Co 10.4,5; 1 Pe 5.3, mas, sim, uma diakonia leitourgia, um poder ministerial (de serviço), At 4.29, 30; 20.24; Rm 1.1, derivado de Cristo e subordinado à Sua autoridade soberana sobre a igreja, Mt 28.18. Deve ser exercido em harmonia com a Palavra de Deus e sob a direção do Espírito Santo, por meio de ambos os quais Cristo governa a Sua igreja, e em nome do próprio Cristo como o Rei da igreja, Rm 10.14, 15; Ef 5.23; 1 Co 5.4. Todavia, é um poder muito real e abrangente, que consiste na administração da Palavra e dos sacramentos, Mt 28.19, na determinação do que é e do que não é permitido no reino de Deus, Mt 16.19, no perdão e na retenção do pecado, Jo 20.23, e no exercício da disciplina na igreja, Mt 16.18
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 595)

Diferentes Espécies de Poder Eclesiástico

Em conexão com os três ofícios de Cristo, há também um poder tríplice na igreja, a saber, o poder dogmático ou docente (potestas dogmática ou docendi), o poder de governo ou de ordem (potestas gubernans ou ordinans), do qual o poder de julgamento ou de disciplina (potestas iudicans ou disciplinae) é uma subdivisão, e o poder ou ministério da misericórdia (potestas ou ministerium misericordiae).
1. POTESTAS DOGMATICA OU DOCENDI. A igreja tem uma tarefa divina, com relação à verdade. É seu dever ser uma testemunha da verdade perante os de fora, e tanto uma testemunha como um mestre para os de dentro. A igreja deve exercer este poder:
a. Na preservação da Palavra de Deus. Pela dádiva da Sua Palavra à igreja, Deus constituiu a igreja em guardiã do precioso depósito da verdade. Enquanto forças hostis são colocadas contra ela e o poder do erro transparece em toda parte, a igreja deve providenciar para que a verdade não pereça na terra, para que o volume no qual ela está incorporada seja mantido puro e sem mutilações, a fim de que o seu propósito não seja derrotado, e para que ela seja transmitida de geração em geração. Ela tem a grande e responsabilizante tarefa de manter e defender a verdade contra todas as forças da incredulidade e do erro, 1 Tm 1.3, 4; 2 Tm 1.13; Tt 1.9-11. A igreja nem sempre se lembra deste dever sagrado. Durante o último século, muitíssimos líderes da igreja até deram boas-vindas aos ataques de uma crítica hostil à Bíblia, e se regozijaram com o fato de que ela foi rebaixada ao nível de uma produção meramente humana, uma mescla de verdade e erro. Eles demonstraram possuir pouco da determinação que levou Lutero a bradar: “Das Wort Sollen Sie sthen lassen”. (“È preciso que a Palavra esteja apegada a você”).
b. Ministração da Palavra e dos sacramentos. O dever da igreja não é somente preservar a Palavra de Deus, mas também pregá-la no mundo e na assembléia do povo de Deus, para a conversão dos pecadores e a edificação dos santos. A igreja tem uma tarefa evangelística ou missionária no mundo. O Rei, revestido de autoridade no céu e na terra, deu-lhe a grande comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado”. Pelo ministério da igreja, o Filho está reunindo incessantemente, dentre toda a raça humana, uma igreja escolhida para a vida eterna. A igreja empírica de qualquer época particular deve estar ativamente empenhada no alargamento e expansão da igreja mediante esforços missionários, deve servir de instrumento para reunir os eleitos dentre todas as nações do mundo, juntando pedras vivas ao templo espiritual que está em processo de construção, e, desta maneira, deve promover a completação do número dos que finalmente constituirão a igreja ideal do futuro, a noiva perfeita de Cristo, a nova Jerusalém de Apocalipse 21. Se a igreja de Jesus for negligente na realização desta grande tarefa, provará que é infiel ao seu Senhor. Essa obra deverá continuar e deverá completar-se antes do glorioso retorno do Salvador, Mt 24.14. E o grande meio que está à disposição da igreja para a realização da sua obra é, não a educação, a civilização, a cultura humana ou reformas sociais, embora todas estas coisas possam ter significação subsidiária, mas, sim, o Evangelho do Reino, que não é outro, a despeito do que possam dizer os premilenistas, senão o Evangelho da livre graça de Deus, da redenção pelo sangue do Cordeiro. Mas a igreja não deve satisfazer-se em trazer pecadores a Cristo pela instrumentalidade do Evangelho; também é preciso que ela se engaje na pregação da Palavra nas assembléias dos que já vieram a Cristo. E, na realização desta tarefa, seu principal trabalho não consiste em chamar pecadores a Cristo, embora o convite pra virem a Cristo não deva faltar mesmo nas igrejas organizadas, mas em edificar os santos, fortalecer sua fé, conduzi-los no caminho da santificação e, assim, solidificar o templo do Senhor. Paulo tem isto em mente quando afirma que Cristo deu à igreja os oficiais docentes “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”, Ef 4.12, 13. A igreja não deve ficar satisfeita com ensinar os primeiros princípios da fé, mas deve prosseguir, ascendendo a um terreno mais elevado, para que os que são bebês em Cristo se tornem homens e mulheres plenamente desenvolvidos em Cristo, Hb 5.11-6.3. Somente uma igreja realmente forte e que tenha uma firme compreensão da verdade é que poderá, por sua vez, tornar-se uma poderosa agência missionária e fazer extraordinárias conquistas para o Senhor. Assim, a tarefa da igreja é amplamente compreensiva. Ela deve apontar o caminho da salvação, deve advertir os ímpios da condenação que lhes sobrevirá, deve animar os santos com as promessas de salvação, deve fortalecer os fracos, encorajar os desanimados e consolar os tristes. E, para que esta obra seja realizada no território todo e em todas as nações, ela deve providenciar para que a Palavra de Deus seja traduzida para todas as línguas. O ministério dos sacramentos deve, naturalmente, seguir ao lado do ministério da Palavra. Aquele é simplesmente uma apresentação simbólica do Evangelho, dirigida aos olhos, antes que aos ouvidos. O dever que a igreja tem de pregar a Palavra é ensinado claramente em muitas passagens da Escritura, como Is 3.10, 11; 2 Co 5.20; 1 Tm 4.13; 2 Tm 2.15; 4.2; Tt 2.1-10. Em vista das claras instruções do seu Rei, ela jamais deverá permitir que nenhum governo ditatorial lhe dite o que deve pregar; tampouco deverá acomodar-se, no que se refere ao conteúdo da sua mensagem, às exigências de uma ciência naturalista, ou às solicitações de uma cultura que reflita o espírito do mundo. Os modernistas fizeram justamente isso durante as décadas passadas, em seus esforços suicidas para adaptar-se, em sua pregação, às exigências de uma alta crítica racionalista, e de ciências como a biologia, a psicologia, a sociologia e a economia, até que, por fim, perderam a mensagem do Rei completamente. Muitos deles agora estão chegando à descoberta de que a mensagem recomendada na obra Rethinking Missions (Repensando as Missões), e na de Vernon White, A New Theology for Missions (Nova Teologia para Missões), é completamente diferente da mensagem original e contém pouco daquilo que é peculiar ao púlpito cristão; e de que, como as coisas estão agora em seus círculos, a igreja não tem mensagem propriamente sua. Modernistas há que fazem tentativas frenéticas para descobrir para si alguma mensagem que eles possam levar às igrejas, se bem que deviam procurar recuperar a mensagem cristã original e posicionar-se humildemente aos pés de Jesus.
c. Na estruturação de símbolos e confissões. Toda igreja deve lutar pelo senso de identidade própria na confissão da verdade. Para realizar isso, não somente terá que refletir profundamente na verdade, mas terá também que formular uma expressão daquilo em que crê. Fazendo-o, gerará em seus membros uma clara concepção da sua fé, e transmitirá aos de fora um definido entendimento de suas doutrinas. A necessidade de faze-lo foi grandemente incrementada pelas históricas perversões da verdade. O surgimento de heresias invariavelmente reclamava a elaboração de símbolos e confissões, afirmações claramente formuladas da fé esposada pela igreja. Mesmo os apóstolos às vezes achavam necessário reafirmar com maior precisão certas verdades, devido a erros que se haviam imiscuído na igreja. João reafirmou a verdade central da manifestação de Cristo no mundo, em vista de um gnosticismo incipiente (cf. seu evangelho e sua primeira carta); Paulo reafirmou a doutrina da ressurreição, que alguns negavam (1 Co 15; 1 Tm 1.20; 2 Tm 2.17, 18), e também a da segunda vinda de Cristo, que fora mal compreendida (2 Ts 2); e o concílio de Jerusalém achou necessário reafirmar a doutrina da liberdade cristã (At 15). Naturalmente, a Bíblia não contém nenhum exemplo de credo. Os credos não são dados por revelação, mas são fruto da reflexão da igreja sobre a verdade revelada. Em nossos dias, muitos são avessos a símbolos e confissões, e entoam glorias a uma igreja sem credo. Mas as objeções levantadas contra os credos não são insuperáveis absolutamente.os credos não são, como alguns insinuam, considerados como iguais em autoridade à Bíblia, e muito menos como superiores a ela. E nada acrescentam à Escritura, quer por afirmações expressas, quer por implicação. Não militam contra a liberdade de consciência, nem retardam o progresso dos estudos teológicos científicos. Tampouco podem ser considerados como causa de divisões da igreja, embora a possam expressar. As divisões vieram primeiro, e , então deram surgimento aos diversos credos. De fato, eles servem, em grande medida, para promover a unidade da igreja visível. Além disso, se uma igreja não quer estar caladas, é obrigada a desenvolver um credo, escrito ou não. Isso tudo não significa, porém, que não possa haver mau uso de um credo.
d. No cultivo do estudo da teologia. A igreja não pode descansar sobre os seus louros e dar-se por satisfeita com o conhecimento que alcançou da verdade divina e que formulou em suas confissões. Ela deve cavar cada vez mais fundo na mina da Escritura, a fim de trazer à luz os seus tesouros ocultos. Pelo estudo científico, ela deve procurar um conhecimento cada vez mais profundo uma compreensão cada vez maior das palavras de vida. Ela deve isto à própria verdade, como revelação de Deus que é, e também o deve à necessidade de preparação dos seus futuros ministros. A igreja tem a obrigação de subministrar, ou ao menos supervisionar, o treinamento das sucessivas gerações de seus mestres e pastores. Isto parece estar implícito nas palavras de Paulo a Timóteo: “E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros”, 2 Tm 2.2.
2. POTESTAS GUBERNANS. Esta se divide em potestas ordinans e potestas iudicans.
a. Potestas ordinans. “Deus não é de confusão; e, sim, de paz”, 1 Co 14.33. daí, Ele deseja que em Sua igreja “tudo ... seja feito com decência e ordem”, versículo 40. isto fica evidente pelo fato de que Ele fez provisão para o bom andamento das coisas da igreja. A autoridade normativa que Ele deu à igreja inclui poder.
(1) De impor as leis de Cristo. Quer dizer que a igreja tem o direito de levar a efeito as leis que Cristo promulgou para ela. Há neste ponto uma importante diferença entre a Igreja Católica Romana e as igrejas protestantes. Aquela virtualmente reivindica a autoridade de decretar leis que obrigam a consciência e cuja transgressão leva consigo a mesma pena ligada a qualquer infração da lei divina. Estas, porém,repudiam qualquer autoridade deste tipo, mas defendem o direito de impor a lei de Cristo, o Rei da igreja. E mesmo assim, elas não se arrogam nenhum outro poder que o poder ministerial ou declarativo, consideram a lei como obrigatória somente porque ela se apóia na autoridade de Cristo, e não aplica outras censuras além das que Ele sancionou. Além disso, elas acham que a compulsão entraria em conflito com a natureza do poder que lhes foi dado e jamais poderia resultar num real benefício espiritual. Todos os membros da igreja possuem este poder, em certa medida, Rm 15.14; Cl 3.16; 1 Ts 5.11, mas os oficiais são revestidos dele em proporção especial, Jo 21.15-17; At 20.28; 1 Pe 5.2. O caráter ministerial deste poder é exposto em 2 Co 1.24; 1 Pe 5.2,3.
(2) De redigir cânones ou ordens da igreja. Inúmeras ocasiões surgem em que a igreja é incitada a elaborar decretos e regulamentos, muitas vezes chamados cânones ou ordens da igreja. Tais decretos não devem ser considerados novas leis, mas apenas regulamentos para a adequada aplicação da lei. São necessários para darem à política externa da igreja uma forma definida, para estipularem os termos em que se permite que estas ou aquelas pessoas exerçam ofício na igreja, para regulamentarem o culto e para determinarem a forma apropriada de disciplina a exercer-se, e assim por diante. A Escritura estabelece os princípios gerais do culto de Deus, Jo 4.23; 1 Co 11.17-33; 14.40; 16.2; Cl 3.16 (?); 1 Tm 3.1-13; mas, na regulamentação dos pormenores do serviço divino, permite-se grande latitude às igrejas. Elas podem adaptar-se às circunstâncias, sempre tendo em mente, porém, que devem cultuar publicamente a Deus de maneira mais bem ajustada ao propósito de edificação. Em nenhuma situação os regulamentos da igreja poderão contrariar as leis de Cristo.
b. Potestas iudicans. A potestas iudicans é o poder exercido para proteger a santidade da igreja, admitindo os aprovados após exame, e excluindo os que se desviam da verdade ou levam vidas desonradas. Este poder é exercido especialmente em questões de disciplina.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 600)

Ensinos escriturísticos a respeito da disciplina

Em Israel, os pecados involuntários podiam ser expiados por um sacrifício, mas os pecados cometidos “com mão alta” (voluntários ou intencionais) eram punidos com o extermínio. O cherem (a expulsão, ou aquilo que é amaldiçoado) não era somente uma punição eclesiástica; também era uma punição civil. Os incircuncisos, os leprosos e os impuros não tinham permissão para entrar no santuário, Lv 5.6; Ez 44.9. Foi só depois que Israel perdeu sua independência nacional e o seu caráter de assembléia religiosa se tornou mais proeminente, que a expulsão, que consistia na exclusão da assembléia, passou a ser uma medida de disciplina eclesiástica, Ed 10.8; Lc 6.22; Jo 9.22; 12. 42; 16.2. Jesus instituiu a disciplina na igreja quando deu aos apóstolos e, em conexão com a palavra destes, também à igreja em geral o poder de ligar e desligar, de declarar o que é proibido e o que é permitido, e de perdoar e reter pecados declarativamente, Mt 16.19; 18.18; Jo 20.23. E é somente porque Cristo deu este poder à igreja que ela pode exercê-lo. Várias passagens do Novo Testamento se referem ao exercício deste poder, 1 Co 5.2, 5, 7, 13; 2 Co 2.5-7; 2 Ts 3.14, 15; 1 Tm 1.20; Tt 3.10. Passagens como 1 Co 5.5 e 1 Tm 1.20 não se referem à disciplina normal,mas a uma medida só permitida aos apóstolos e que consistia em entregar o pecados a Satanás para punição física temporária, com o fim de lhe salvar a alma.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 600)

O propósito duplo da disciplina

O propósito da disciplina da igreja é duplo. Em primeiro lugar, ela procura levar a efeito a lei de Cristo concernente à admissão e exclusão de membros e em segundo lugar, tem por objetivo promover a edificação espiritual dos membros da igreja assegurando a sua obediência às leis de Cristo. Estes dois objetivos são subservientes a um fim superior, a saber, a manutenção da santidade da igreja de Jesus Cristo. Com referência a ,membros enfermos da igreja, a disciplina é antes de tudo medicinal, no sentido de que procura obter a cura, mas pode tornar-se cirúrgica, quando o bem-estar da igreja exige a amputação de um membro enfermo. Quando um processo de disciplina começa, é impossível dizer se será efetuada a cura, ou se o membro enfermo finalmente precisará ser removido. Provavelmente a igreja conseguirá levar o pecador ao arrependimento – e, naturalmente, este é o fim mais desejável; mas também é possível que ela tenha que recorrer à medida extrema de excluí-lo da comunhão. Em todos os casos de disciplina, a igreja terá que figurar com as duas possibilidades. Mesmo na aplicação da medida extrema, ela deve ter em mente a salvação do pecador, 1 Co 5.5. Ao mesmo tempo, ela sempre deve lembrar-se de que a consideração primordial é a manutenção da santidade da igreja.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 600)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O exercício da disciplina pelos oficiais

Embora os membros comuns da igreja sejam freqüentemente chamados a tomar parte na aplicação da disciplina, geralmente ela é aplicada pelos oficiais da igreja, e só pode ser aplicada por eles quando a disciplina se torna censura. Há duas diferentes maneiras pelas quais pode vir a ser dever do consistório ou conselho lidar com questões de disciplina. (a) Pecados privados podem tornar-se causa de disciplina no sentido mais técnico da palavra, da maneira indicada em Mt 18.15-17. Se alguém pecar contra um irmão, este deverá admoestar o que pecou; se isto não obtiver o efeito desejado, ele deverá admoesta-lo de novo, na presença de uma ou duas testemunhas; e se mesmo isto falhar, deverá notificar a igreja, e passará a ser dever dos oficiais tratar da questão. Contudo, devemos lembrar-nos de que este método é prescrito somente para pecados privados. A ofensa causada por pecados públicos não poderá ser removida privadamente, mas unicamente mediante uma transação pública. (b) Pecados públicos sujeitam imediatamente o pecador a ação disciplinar do consistório ou conselho, sem a formalidade de quaisquer admoestações privadas prévias, mesmo que não haja nenhuma acusação formal. Com pecados públicos se quer dizer, não meramente pecados cometidos em público, mas pecados que causam ofensa pública e muito geral.. o consistório nem deve esperar que alguém chame a sua atenção para tais pecados, mas deve tomar a iniciativa. Não foi nenhuma honra para os coríntios que Paulo tenha tido que lhes chamar a atenção para o escândalo que grassava entre eles, antes deles começarem a agir, 1 Co 5.1 e segts.; tampouco houve alguma honra para as igrejas de Pérgamo e Tiatira, em não repreenderem e não excluírem do seu meio os mestres heréticos, Ap 2.14, 15, 20. No caso dos pecados públicos, o consistório ou conselho não tem direito de esperar até alguém lhe trazer denúncias formais; tampouco tem ele o direito de exigir de alguém que finalmente se sentiu constrangido a lhe chamar a atenção para esses pecados, que admoeste privadamente o pecador primeiro. A questão dos pecados públicos não pode ser resolvida privadamente.
(Berkhof, Louis – Teologia Sistemática Pg.601)