terça-feira, 24 de setembro de 2013

RAÍZES HISTÓRICAS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Por: Alderi Souza de Matos

O evangelicalismo brasileiro apresenta características apreciáveis e preocupantes. Entre estas últimas está o gosto por novidades. Líderes e fiéis sentem que, para manter o interesse pelas coisas de Deus, é preciso que de tempos em tempos surja um ensino novo, uma nova ênfase ou experiência. Geralmente tais inovações têm sua origem nos Estados Unidos. Assim como outros países, o Brasil é um importador e consumidor de bens materiais e culturais norte-americanos. Isso ocorre também na área religiosa. Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele.

Ao contrário do que muitos imaginam, as idéias básicas da confissão positiva não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20. Todavia, por causa de algumas afinidades com a cosmovisão pentecostal, como a crença em profecias, revelações e visões, foi em círculos pentecostais e carismáticos que a confissão positiva teve maior acolhida, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A história de seus dois grandes paladinos irá elucidar as raízes dessa teologia popular e mostrar por que ela é danosa para a integridade do evangelho.

Essek W. Kenyon, o pioneiro
Embora os adeptos da teologia da prosperidade considerem Kenneth Hagin o pai desse movimento, pesquisas cuidadosas feitas por vários estudiosos, como D. R. McConnell, demonstraram conclusivamente que o verdadeiro originador da confissão positiva foi Essek William Kenyon (1867-1948). Esse evangelista de origem metodista nasceu no condado de Saratoga, Estado de Nova York, e se converteu na adolescência. Em 1892 mudou-se para Boston, onde estudou no Emerson College, conhecido por ser um centro do chamado movimento “transcendental” ou “metafísico”, que deu origem a várias seitas de orientação duvidosa. Uma das influências recebidas e reconhecidas por Kenyon nessa época foi a de Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã.

Kenyon iniciou o Instituto Bíblico Betel, que dirigiu até 1923. Transferiu-se então para a Califórnia, onde fez inúmeras campanhas evangelísticas. Pregou diversas vezes no célebre Templo Angelus, em Los Angeles, da evangelista Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Pastoreou igrejas batistas independentes em Pasadena e Seattle e foi um pioneiro do evangelismo pelo rádio, com sua “Igreja do Ar”. As transcrições gravadas de seus programas serviram de base para muitos de seus escritos. Cunhou muitas expressões populares do movimento da fé, como “O que eu confesso, eu possuo”. Antes de morrer, em 1948, encarregou a filha Ruth de dar continuidade ao seu ministério e publicar seus escritos.

Quais eram as crenças dos tais grupos metafísicos? Eles ensinavam que a verdadeira realidade está além do âmbito físico. A esfera do espírito não só é superior ao mundo físico, mas controla cada um dos seus aspectos. Mais ainda, a mente humana pode controlar a esfera espiritual. Portanto, o ser humano tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influência sobre o espiritual, principalmente no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon acreditava que essas idéias não somente eram compatíveis com o cristianismo, mas podiam aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional. Mediante o uso correto da mente, o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação.

Kenneth Hagin, o divulgador
O grande divulgador dos ensinos de Kenyon, a ponto de ser considerado o pai do movimento da fé, foi Kenneth Erwin Hagin (1917-2003). Ele nasceu em McKinney, Texas, com um sério problema cardíaco. Teve uma infância difícil, principalmente depois dos 6 anos, quando o pai abandonou a família. Pouco antes de completar 16 anos sua saúde piorou e ele ficou confinado a uma cama. Teve então algumas experiências marcantes. Após três visitas ao inferno e ao céu, converteu-se a Cristo. Refletindo sobre Marcos 11.23-24, chegou à conclusão de que era necessário crer, declarar verbalmente a fé e agir como se já tivesse recebido a bênção (“creia no seu coração, decrete com a boca e será seu”). Pouco depois, obteve a cura de sua enfermidade.

Em 1934 Hagin começou seu ministério como pregador batista e três anos depois se associou aos pentecostais. Recebeu o batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. No mesmo ano foi licenciado como pastor das Assembléias de Deus e pastoreou várias igrejas no Texas. Em 1949 começou a envolver-se com pregadores independentes de cura divina e em 1962 fundou seu próprio ministério. Finalmente, em 1966 fez da cidade de Tulsa, em Oklahoma, a sede de suas atividades. Ao longo dos anos, o Seminário Radiofônico da Fé, a Escola Bíblica por Correspondência Rhema, o Centro de Treinamento Bíblico Rhema e a revista “Word of Faith” (Palavra da Fé) alcançaram um imenso número de pessoas. Outros recursos utilizados foram fitas cassete e mais de cem livros e panfletos.

Hagin dizia ter recebido a unção divina para ser mestre e profeta. Em seu fascínio pelo sobrenatural, alegou ter tido oito visões de Jesus Cristo nos anos 50, bem como diversas outras experiências fora do corpo. Segundo ele, seus ensinos lhe foram transmitidos diretamente pelo próprio Deus mediante revelações especiais. Todavia, ficou comprovado posteriormente que ele se inspirou grandemente em Kenyon, a ponto de copiar, quase palavra por palavra, livros inteiros desse antecessor. Em uma tese de mestrado na Universidade Oral Roberts, D. R. McConnell demonstrou que muito do que Hagin afirmou ter recebido de Deus não passava de plágio dos escritos de Kenyon. A explicação bastante suspeita dada por Hagin é que o Espírito Santo havia revelado as mesmas coisas aos dois.

Reflexos no Brasil
Os ensinos de Hagin influenciaram um grande número de pregadores norte-americanos, a começar de Kenneth Copeland, seu herdeiro presuntivo. Outros seguidores seus foram Benny Hinn, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles Capps, Hobart Freeman, Jerry Savelle e Paul (David) Yonggi Cho, entre outros. Em 1979, Doyle Harrison, genro de Hagin, fundou a Convenção Internacional de Igrejas e Ministros da Fé, uma virtual denominação. Nos anos 80, os ensinos da confissão positiva e do evangelho da prosperidade chegaram ao Brasil. Um dos primeiros a difundi-lo foi Rex Humbard. Marilyn Hickey, John Avanzini e Benny Hinn participaram de conferências promovidas pela Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep). Outros visitantes foram Robert Tilton e Dave Robertson.

Entre as primeiras manifestações do movimento estavam a Igreja do Verbo da Vida e o Seminário Verbo da Vida (Guarulhos), a Comunidade Rema (Morro Grande) e a Igreja Verbo Vivo (Belo Horizonte). Alguns líderes que abraçaram essa teologia foram Jorge Tadeu, das Igrejas Maná (Portugal); Cássio Colombo (“tio Cássio”), do Ministério Cristo Salva, em São Paulo; o “apóstolo” Miguel Ângelo da Silva Ferreira, da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, e R. R. Soares, responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil. Talvez a figura mais destacada dos primeiros tempos tenha sido a pastora Valnice Milhomens, líder do Ministério Palavra da Fé, que conheceu os ensinos da confissão positiva na África do Sul. As igrejas brasileiras sofreram o impacto de uma avalanche de livros, fitas e apostilas sobre confissão positiva. Ricardo Gondim observou em 1993: “Com livros extremamente simples, [Hagin] conseguiu influenciar os rumos da igreja no Brasil mais do que qualquer outro líder religioso nos últimos tempos”.

Conclusão
Além de apresentar ensinos questionáveis sobre a fé, a oração e as prioridades da vida cristã, e de relativizar a importância das Escrituras por meio de novas revelações, a teologia da prosperidade, através dos escritos de seus expoentes, apresenta outras ênfases preocupantes no seu entendimento de Deus, de Jesus Cristo, do ser humano e da salvação. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais norte-americanas se posicionaram oficialmente contra os excessos desse movimento (Assembléias de Deus, Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus). Autores como Charles Farah, Gordon Fee, D. R. McConnell e Hank Hanegraaff, todos simpatizantes do movimento carismático, escreveram obras contestando a confissão positiva e suas implicações. Eles destacaram como, embora essa teologia pareça uma maneira empolgante de encarar a Bíblia, ela se distancia em pontos cruciais da fé cristã histórica.

No Brasil, três obras significativas publicadas em 1993 -- “O Evangelho da Prosperidade”, de Alan B. Pieratt; “O Evangelho da Nova Era”, de Ricardo Gondim; e “Supercrentes”, de Paulo Romeiro -- alertaram solenemente as igrejas evangélicas para esses perigos. Tristemente, vários grupos, principalmente os que têm maior visibilidade na mídia, estão cada vez mais comprometidos com essa teologia desconhecida da maior parte da história da igreja. Ao defenderem e legitimarem os valores da sociedade secular (riqueza, poder e sucesso), e ao oferecerem às pessoas o que elas ambicionam, e não o que realmente necessitam aos olhos de Deus, tais igrejas crescem de maneira impressionante, mas perdem grande oportunidade de produzir um impacto salutar e transformador na sociedade brasileira.


• Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e "Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil".
asdm@mackenzie.com.br
Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/313/raizes-historicas-da-teologia-da-prosperidade

"HIPERGRAÇA", A MAIS NOVA HERESIA NAS IGREJAS

Os Estados Unidos são responsáveis pela produção da maior parte da teologia consumida e ensinada no mundo todo. Desde os movimentos missionários dos séculos 19 e 20, que levaram o evangelho por todo o mundo, até as mais novas heresias e modismos do mundo gospel. Segundo o site da revista pentecostal Charisma, um movimento novo tem preocupado pastores e líderes americanos, pois está se espalhando rapidamente por outros países. Chamado de “Hipergraça”, seus ensinamentos se baseiam em uma visão de que Deus não pune ninguém. Provavelmente influenciados pela exigência quase onipresente para que as pessoas sejam “politicamente corretas”, muitos de seus ensinamentos confrontam diretamente a Bíblia. Para os críticos, o movimento é uma “evolução” de uma igreja que nas últimas décadas tem presenciado um declínio na doutrina e pregação bíblica. Paulatinamente, a teologia da lugar à terapia motivacional nos púlpitos. De outro lado, a busca pela prosperidade minou alguns dos fundamentos onde o cristianismo se sustentou por séculos. Com isso, muitas igrejas e pregadores se recusam a combater o pecado. Raramente se menciona a necessidade de arrependimento ou nem se fala sobre temas como inferno e julgamento. Muitas dessas igrejas permitem que seus líderes vivam sem se preocupar em prestar contas, mesmo que claramente estejam distantes do que se esperaria deles. O movimento da Hipergraça seria uma versão atualizada da antiga heresia conhecida como antinomianismo (em grego, anti significa “contra” e nomos , “lei”). Trata-se da crença que a lei moral do Antigo Testamento foi totalmente abolida. Como vivemos depois da vinda de Cristo, podemos viver do jeito que queremos, pois já não estamos debaixo da Lei, mas debaixo da graça. Assim, resta ler o Antigo Testamento apenas metáforas, tipos e símbolos sobre a vinda de Cristo. O Novo Testamento acaba com a Lei do Antigo Testamento, por isso tudo é graça! Ideias como palavras proféticas, busca pelo Espírito Santo, batalha espiritual, ou ouvir a voz de Deus são propositalmente ignoradas e muitas vezes ridicularizadas. Para os teólogos e pastores que estão alertando sobre esse movimento, ele pode colocar em risco o futuro do cristianismo e enganar milhares de pessoas. Obviamente os líderes que integram esse movimento não admitirão que pertencem a ele. Afinal, não se trata de um movimento organizado, mas sua existência e influência tem crescido através de literatura cristã que enfatiza o sucesso pessoal e eclesiástico. Possivelmente não usam o termo e dirão que chegaram a essas conclusões sozinhos. Com certeza a Bíblia fala sobre graça, mas aparentemente essas pessoas não leram ou convenientemente esqueceram de textos como Romanos 6: 1-2 “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” Contudo, o teólogo Joseph Mattera listou os 8 sinais mais claros de que uma igreja está seguindo a Hipergraça: 1. Os pregadores nunca falam contra o pecado Se você estiver em uma igreja como esta, irá notar que a palavra “pecado” normalmente só é mencionada no contexto do perdão dos pecados em Cristo. Por vezes, recrimina-se as pessoas que ousam insistir no assunto, classificando-as de “legalistas” e “fariseus”. 2. O pastor nunca toma uma posição firme sobre a santidade Na tentativa de atrair mais pessoas, tudo é feito para tornar os cultos mais agradáveis, em especial o sermão. Os ministros não tomam posição pública, nem ensinam os membros, sobre questões que estão na ordem do dia como aborto, homossexualidade, legalização das drogas, ou qualquer coisa que possa confrontar o público presente. Ignora-se qualquer tentativa de se estabelecer ou cobrar dos membros os parâmetros para uma vida de santidade. 3. O Antigo Testamento é quase totalmente ignorado Nessas igrejas, o Antigo Testamento é tratado como um registro que não tem valor real com nosso estilo de vida moderno. Convenientemente, não se menciona os Dez Mandamentos nem as porções bíblicas onde Deus é mostrado como juiz. 4. Os líderes são autorizados a ensinar e pregar mesmo vivendo abertamente em pecado Se não há mais condenação, pecados como imoralidade sexual, ganância e embriaguez são tolerados. Seja para membros comuns ou pessoas em posição de liderança, isso não é “importante”, pois não refletiria o amor ao próximo e respeito pelas suas escolhas. 5. As mensagens muitas vezes se voltam contra a “igreja institucional” Os pastores que adotaram a hipergraça constantemente se voltam contra as igrejas mais “conservadoras”, pois acreditam que sua mensagem não é mais relevante para a cultura de hoje. Além disso, esses “fundamentalistas” apenas colaboram para que as pessoas em geral tenham uma má impressão dos evangélicos. 6. Os pastores pregam contra o dízimo A hipergraça não estimulas as pessoas a lerem a Bíblia e chegarem às suas próprias conclusões, mas se preocupa em dizer no que elas não podem acreditar. Embora falem sobre ofertas e anunciem as necessidades financeiras da igreja, os pastores defendem que o dízimo é mais uma lei que foi abolida em Cristo. Portanto, cada membro pode decidir se deseja ou não se envolver financeiramente. 7. Os pastores pregam apenas mensagens motivacionais positivas Dos púlpitos dessas igrejas ecoam apenas mensagens positivas sobre saúde, riqueza, prosperidade, o amor de Deus, o perdão de Deus e como se obter sucesso na vida. Não há preocupação nem interesse de se anunciar “todo o conselho de Deus”, nem estimular trabalhos evangelísticos ou missionários que exijam arrependimento e mudança de vida. Não se menciona a existência do diabo ou de seus anjos. Deus ama a todos e cuida para que nenhum mal chegue perto deles. 8. Os membros da igreja não precisam temer nenhum tipo de reprimenda da liderança Os participantes de uma igreja da hipergraça serão convencidos que, por causa da forte ênfase na graça, tudo é permitido. Ou seja, nenhuma mudança real se espera deles, apenas que frequentem os cultos e sejam “pessoas melhores e mais felizes”. Fonte:http://pastorguedes.blogspot.com.br/2013/08/conhecam-hipergraca-mais-nova-heresia.html

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

PR. ARIOVALDO RAMOS CONVIDA IGREJAS A CORRIGIREM ERROS SOBRE A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Num artigo, publicado em seu blog, Ariovaldo faz uma síntese da teologia praticada por muitas igrejas neo-pentecostais: “Estamos, há mais de vinte anos convivendo com isso, talvez, por isso, a grande pergunta sobre essa teologia seja: Como têm conseguido permanecer por tanto tempo?”, questiona o pastor.
Tratada por Ariovaldo Ramos como uma prática de engano e sem base bíblica, a teologia da prosperidade já pintou quadros de absurdo, segundo ele: “Lembro-me de ter ouvido de um ferrenho seguidor dessa teologia que, quem tivesse fé poderia, inclusive, negociar com Deus a data de sua morte”, contextualiza.
Para o pastor, a teologia da prosperidade “se sustenta pela criatividade” e pelo fato de oferecer diversificação da mensagem cristã: “Os pregadores dessa mensagem estão sempre se reinventando, vivem de promover espetáculos ás custas da boa fé do povo”.
-É uma sucessão de invencionices: um dia é passar pela porta x, outro é tocar a trombeta y, ou empunhar a espada z, ou cobrir-se do manto x, e, por aí vai. Isso sem contar o sem número de amuletos ungidos, de águas fluidificadas e de bênçãos especiais. Suas igrejas são verdadeiros movimentos de massa, dirigidos por “pop stars” que tornam amadores os mais respeitados animadores de auditório da TV brasileira – critica.
Há questões culturais envolvidas, segundo o texto de Ariovaldo Ramos: “Os pregadores dessa panaceia descobriram que o povo gosta de pagar pelos benefícios que recebe, algo como ‘não dever nada a ninguém’, fruto da cultura de penitência amplamente disseminada na igreja romana medieval [...] Tudo nessas igrejas é pago. Ainda que cada movimento financeiro seja chamado de oferta, trata-se, na prática, de pagamento pela benção”.
O pastor afirma que a teologia da prosperidade tem gerado “decepção” às pessoas que buscam a mensagem cristã e convoca o corpo de Cristo para reverter a situação: “Hoje, para além de tudo o que encerra a sua missão, a Igreja tem de corrigir os erros que, em seu nome, e, em muitos casos, sob a sua silenciosa conivência, foram e, ainda, estão sendo cometidos”.
Confira abaixo, a íntegra do artigo “Uma Pastoral para a Decepção!”, do pastor Ariovaldo Ramos.
Fonte: http://ariovaldoramosblog.blogspot.com.br/2013/01/uma-pastoral-para-decepcao.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
http://noticias.gospelmais.com.br/ariovaldo-ramos-convoca-igrejas-corrigir-teologia-prosperidade-49196.html

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O GOVERNO DA IGREJA

Diferentes Teorias a Respeito do Governo da Igreja, como se segue:

CONCEITO DOS QUACRES E DOS DARBISTAS

É questão de princípio para os quacres e os darbistas a rejeição de todo e qualquer governo eclesiástico. Segundo eles, toda formação externa da igreja necessariamente degenera e leva a resultados que contrariam o espírito do cristianismo, pois exalta o elemento humano em detrimento do divino. Todo governo da igreja negligencia os carismas dados por Deus e os substitui por ofícios instituídos pelo homem, e, conseqüentemente, oferece à igreja a casca do conhecimento humano, em vez das comunicações vitais do Espírito santos. Daí, eles consideram não apenas desnecessário, mas decididamente pecaminoso organizar a igreja visível. Assim, os ofícios são abandonados, e no culto publico cada qual segue as sugestões do Espírito. A tendência transparente nestas seitas, tendência que patenteia o fermento do misticismo, deve ser considerada como uma reação contra a organização hierárquica e o formalismo da igreja estabelecida da Inglaterra. Nos Estados Unidos, alguns do quacres ordenam ministros regularmente e dirigem seu culto de maneira muito parecida com a das outras igrejas.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 579)

O SISTEMA ERASTIANO, CUJO NOME VEM DE ERASTO, 1524-1583

Os erastianos consideram a igreja como uma sociedade que deve sua existência e sua forma às regulamentações promulgadas pelo estado. Os oficiais da igreja são meros instrutores ou pregadores da Palavra, sem nenhum direito ou poder de governar, exceto o que eles derivam dos magistrados civis. É função do estado governar a igreja, exercer a disciplina e aplicar a excomunhão. As censuras eclesiásticas são punições civis, embora a sua aplicação possa ser confiada aos legítimos oficiais da igreja. Este sistema tem sido aplicado diversamente na Inglaterra, na Escócia e na Alemanha (igrejas luteranas). Ele entra em conflito com o princípio fundamental da Chefia de Jesus Cristo, e não reconhece o fato de que a igreja e o estado são distintos e independentes em sua origem, em seus objetos primordiais, no poder que exercem e na administração desse poder.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.579)

O SISTEMA EPISCOPAL

Os episcopais afirmam que Cristo, como Chefe da igreja, confiou o governo da igreja direta e exclusivamente a uma ordem de prelados ou bispos, considerados estes como sucessores dos apóstolos; e que Ele constituiu estes bispos numa ordem separada, independente e capacitada para perpetuar-se. Neste sistema, o coetus fidelium, ou seja, a comunidade dos crentes, não tem absolutamente nenhuma participação no governo da igreja. Nos primeiros séculos [de sua história], era este o sistema da Igreja Católica Romana. Na Inglaterra, foi feito uma combinação dele com o sistema erastiano. Mas a Bíblia não oferece base para a existência de tal classe separada de oficiais superiores, dotados do direito inerente de ordenação e jurisdição, e que, portanto, não representam o povo e nem tampouco, em nenhum sentido da expressão, derivam do povo o seu ofício. A Escritura mostra claramente que o ofício apostólico não era de natureza permanente. Os apóstolos compunham uma classe claramente distinta e independente, mas a sua tarefa especial não era a de governar e administrar os assuntos das igrejas. Era seu dever levar o Evangelho às regiões não evangelizadas, fundar igrejas, e, então, designar dentre o povo outras pessoas para a tarefa de governar essas igrejas. Antes do final do primeiro século, o apostolado já tinha desaparecido inteiramente.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 580)

O SISTEMA CATÓLICO ROMANO

Este é o sistema episcopal levado à sua conclusão lógica. O sistema católico romano tem a pretensão de abranger, não somente os sucessores dos apóstolos, mas também os sucessores de Pedro, que, segundo dizem, teve o primado entre os apóstolos e cujo sucessor é agora tido como representante especial de Cristo. A igreja de Roma é da natureza de uma monarquia absoluta, sob o domínio de um papa infalível, que tem o direito de determinar e regulamentar a doutrina, o culto e o governo da igreja. Abaixo dele há classes e ordens inferiores às quais é dada uma graça especial e cujo dever é governar a igreja com a obrigação de prestar rigorosas contas aos seus superiores e ao sumo pontífice. O povo não tem absolutamente nenhuma voz no governo da igreja. Este sistema também conflita com a Escritura, que não reconhece nenhum primado de Pedro como aquele sobre o qual o sistema em foco é edificado, e reconhece definidamente a voz do povo nas questões eclesiásticas. Além disso, a alegação da Igreja Católica Romana, de que há uma linha ininterrupta de sucessão desde o tempo de Pedro até os dias atuais, é contraditada pela história. O sistema papal é insustentável, tanto exegética como historicamente.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 580)

O SISTEMA CONGREGACIONAL

Também chamado sistema de independência. Segundo ele, cada igreja ou congregação é uma igreja completa, independente de todas as demais. Nesse tipo de igreja o poder de governo fica exclusivamente com os membros da igreja, que têm autoridade para regulamentar os seus próprios assuntos. Os oficiais são simples funcionários da igreja local, designados para ensinarem e para administrarem os interesses da igreja, e não têm poder de governo além do que possuem como membros da igreja. Se se achar conveniente que as diversas igrejas exerçam comunhão umas com as outras, como às vezes se dá, esta comunhão se expressa em concílios ou convenções eclesiásticos e em reuniões ou conferências locais ou regionais, para a consideração dos seus interesses comuns. Mas é determinado que os atos desses corpos associados sejam estritamente consultivos ou declarativos, e não sejam impostos a nenhuma igreja particular. Esta teoria de governo popular, que torna o ofício do ministério totalmente dependente da ação do povo, certamente não está em harmonia com o que aprendemos da Palavra de Deus. Além disso, a teoria de que cada igreja é independente de qualquer outra igreja, não expressa a unidade da igreja de Cristo, tem efeito desintegrador e abre as portas para toda sorte de arbitrariedade no governo da igreja. Não há para onde apelar de quaisquer decisões da igreja local.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg 580)

O SISTEMA DA IGREJA NACIONAL

Este sistema, também denominado sistema colegial (que superou o sistema territorial), foi desenvolvido na Alemanha, principalmente por C. M. Pfaff (1686-1780), e mais tarde foi introduzido na Holanda. Ele parte do pressuposto de que a igreja é uma associação voluntária, igual ao estado. As igrejas ou congregações separadas são meras subdivisões da igreja nacional única. O poder original reside numa organização nacional, e esta organização tem jurisdição sobre as igrejas locais. Este sistema é justamente o inverso do sistema presbiteriano, segundo o qual o poder original tem sua sede no conselho ou consistório. O sistema territorial reconhecia o direito inerente ao estado de reformar o culto público, resolver contendas sobre doutrina e conduta, e convocar sínodos, ao passo que o sistema colegial atribui ao estado unicamente o direito de supervisão como direito inerente, e considera todos os outros direitos, que o estado poderia exercer em questões da igreja, como direitos que a igreja, por um entendimento tácito ou por um pacto formal, conferiria ao estado. Este sistema desconsidera completamente a autonomia das igrejas locais, ignora os princípios de governo e de direta responsabilidade para com Cristo, gera formalismo e confina uma igreja professadamente espiritual dentro dos limites e geográficos. Um sistema como este, semelhante que é ao sistema erastiano, naturalmente se adapta melhor à idéia atual do estado totalitário.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 581)

Os Princípios Fundamentais do Sistema Reformado ou Presbiteriano

As igrejas reformadas (calvinistas) não têm a pretensão de que o seu sistema de governo seja determinado, em todas as minúcias, pela Palavra de Deus, mas asseveram que os seus princípios fundamentais são derivados diretamente da Escritura. Elas não se arrogam um jus divinum (direito divino) quanto aos pormenores, mas unicamente quanto aos princípios gerais e fundamentais do sistema, e estão mui dispostas a admitir que muitas das suas particularidades são determinadas pela utilidade e pela sabedoria humana. Decorre disto que, enquanto que a estrutura geral deve ser mantida rigidamente, alguns pormenores podem ser mudados, conforme a maneira eclesiástica própria, por razões de prudência, como o proveito geral das igrejas. Os seus princípios mais fundamentais são os seguintes:
(Teolia Sistemática - Louis Berkhof.Pg. 584)

CRISTO É O CHEFE E CABEÇA DA IGREJA E A FONTE DE TODA A SUA AUTORIDADE

A igreja de Roma considera da maior importância afirmar a chefia do papa sobre a igreja. Os Reformadores sustentavam e defendiam a posição, antagonicamente às pretensões do papado, segundo a qual Cristo é o único Chefe da igreja. Contudo, eles não evitaram inteiramente o perigo de reconhecer, uns mais, outros menos, a supremacia do estado sobre a igreja. Conseqüentemente, as igrejas presbiterianas e reformadas tiveram que librar outra batalha posterior, a batalha prol da chefia de Jesus em oposição às infundadas intrusões do estado. Esta batalha foi empreendida primeiramente na Escócia e, mais tarde, também na Holanda. O próprio fato de que a peleja foi contra poderes externos tais como o papado e o estado ou o rei, ambos os quais alegavam ser o chefe visível da igreja, claramente implica que aqueles que estavam empenhados nesta batalha estavam particularmente interessados em estabelecer e manter a posição de que Cristo é o único Chefe visível da igreja, e, portanto, o único e supremo Legislador e Rei da Igreja. Naturalmente, eles também reconheciam a Cristo como a Cabeça orgânica da igreja invisível. Eles compreendiam que as duas não podem separar-se, mas, desde que o papa e o rei dificilmente poderiam arrogar-se a posição de cabeça orgânica da igreja invisível, realmente não era este o ponto em questão. A respeito dos mestres escoceses, diz Walker: “Eles queriam dizer que Cristo é o verdadeiro Rei e Cabeça da igreja, considerada como organização visível, governando-a por meio dos Seus estatutos, ordenanças, oficiais e poderes, tão real e literalmente como Davi e Salomão governaram o povo da aliança na antiguidade”. A Bíblia nos ensina que Cristo é o Chefe de todas as coisas: Ele é o Senhor do universo, não simplesmente como a segunda pessoa da Trindade, mas em sua capacidade mediatária, Mt 28.18; Ef 1.20-22; Fp 2.10, 11; Ap 17.14; 19.16. Num sentido muito especial, porém, Ele á a Cabeça* da igreja, que é o Seu corpo. Ele mantém relação viva e orgânica com ela, enche-a de vida e a governa espiritualmente, Jo 15.1-8; Ef 1.10, 22, 23; 2.20-22; 4.15; 5.30; Cl 1.18; 2.19; 3.11. Os premilenistas alegam que este é o único sentido em que Cristo é a Cabeça da igreja, pois negam exatamente o ponto pelo qual os nossos pais reformados (calvinistas) pelejaram, a saber, que Cristo é o Rei da igreja. No sentido orgânico e vital, Ele é primordialmente, embora não de modo exclusivo, a Cabeça da igreja invisível, que constitui o Seu corpo espiritual. Mas Ele é também a Cabeça da igreja visível, não somente no sentido orgânico, mas também no sentido de que Ele tem autoridade sobre ela e a governa, Mt 16.18, 19; 23.8, 10; Jo 13.13; 1 Co 12.5; Ef 1.10-23; 4.4, 5, 11, 12; 5.23, 24. Esta chefia de Cristo sobre a igreja visível é a parte do domínio entregue a Ele como resultado dos Seus sofrimentos. Sua autoridade se manifesta nos seguintes pontos: (a) Ele instituiu a igreja do Novo Testamento, Mt 16.18, de maneira que esta não é, como também a consideram hoje em dia, uma simples sociedade voluntária, cuja única base é o consenso dos membros. (b) Ele instituiu os meios de graça que a igreja deve administrar, a saber, a Palavra e os sacramentos, Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16; Lc 22.17-20; 1 Co 11.23-29. Nestas questões, ninguém mais tem o direito de legislar. (c) Ele deu à igreja a sua estrutura e os seus oficiais, e revestiu a estes de autoridade divina, para que pudessem falar e agir em Seu nome, Mt 10.1; 16.19; Jo 20.21-23; Ef 4.11, 12. (d) Ele sempre está presente na igreja quando esta se reúne para o culto, e fala e age por meio dos seus oficiais. É Cristo como Rei que lhes possibilita falar e agir com autoridade, Mt. 10.40; 2 Co 13.3.
(Teolgia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 484)

CRISTO EXERCE A SUA AUTORIDADE POR INTERMÉDIO DA SUA PALAVRA REAL

O reinado de Cristo não é similar ao dos reis terrenos em todos os aspectos. Ele não governa a igreja pela força, mas, sim, subjetivamente, por Seu Espírito, que age na igreja, e objetivamente, pela Palavra de Deus como o padrão de autoridade. Todos os crentes estão incondicionalmente obrigados a obedecer à palavra do Rei. Como Cristo é o único Governador soberano da igreja, a Sua palavra é a única que é lei no sentido absoluto. Conseqüentemente, todo poder despótico na igreja é contrabando. Não existe poder de governar independente de Cristo. O papa de Roma está sob condenação em que ele, conquanto se declare vigário de Cristo na terra, virtualmente se põe acima de Cristo e invalida a palavra de Cristo com inovações humanas. Ele não somente coloca a tradição no mesmo nível da Escritura, mas também se proclama intérprete infalível de ambas, quando fala ex cathedra (de cadeira) em matéria de fé e moralidade. A Escritura e a tradição podem ser as regras de fé mediatas ou remotas, ao passo que a regra imediata é o ensino da igreja, que tem sua garantia na infalibilidade papal. A palavra do papa é a palavra de Deus. Mas a verdade é que, embora seja um fato que Cristo exerce a Sua autoridade na igreja por intermédio dos oficiais, não se deve entender isto no sentido que Ele transfere Sua autoridade a Seus servos. Ele mesmo governa a igreja através de todos os séculos mas, ao fazê-lo, utiliza os oficiais da igreja como Seus órgãos. Estes não têm poder absoluto ou independente, mas unicamente um poder derivado e ministerial.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 584)

COMO REI, CRISTO REVESTIU A IGREJA DE PODER

Levanta-se neste ponto uma questão delicada, a saber, Quem são os primeiros e legítimos agentes do poder da igreja? A quem Cristo delegou em primeira instância este poder? Os católicos romanos e os episcopais respondem: Aos oficiais, entendidos como uma classe separada, em contra-distinção dos membros comuns da igreja. Alguns eminentes teólogos presbiterianos, como Rutherford e Baillie, também defenderam este conceito. Diametralmente oposta a isto é a teoria dos independentes (igrejas livres), de que a igreja em geral é investida deste poder, sendo os oficiais meros órgãos do corpo global. O grande teólogo puritano Owen adota esta idéia com algumas modificações. Em anos recentes, alguns teólogos reformados (calvinistas) aparentemente apoiaram este conceito, embora sem subscrever o separatismo dos independentes.
Há, porém, outro modo de ver, que representa um meio termo entre estes dois extremos, que nos parece merecer preferência. De acordo com este conceito, o poder eclesiástico é delegado por Cristo à igreja como um todo, isto é, aos membros comuns e aos oficiais, igualmente, mas, em acréscimo, os oficiais recebem uma porção adicional de poder, como se requer para o cumprimento dos seus respectivos deveres na igreja de Cristo. Participam do poder original concedido à igreja e recebem sua autoridade e poder como oficiais diretamente de Cristo. São representantes do povo, não, porém, meros deputados ou delegados. Os teólogos mais antigos diziam com freqüência: “Todo o poder da igreja está, actu primo, ou fundamentalmente, na própria igreja; actus secundo, ou em seu exercício, naqueles que são especialmente chamados para isso”. É este, substancialmente, o conceito defendido por Voetius, Gillespie (em sua obra sobre Cerimônias), Bannerman, Porteous e Vos.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 584)

CRISTO PROVIDENCIOU ÓRGÃOS REPRESENTATIVOS PARA O EXERCÍCIO ESPECÍFICO DESTE PODER

Enquanto que Cristo delegou poder à igreja como um todo, também providenciou para que este poder fosse exercido ordinária e especificamente por órgãos representativos, separados para a manutenção da doutrina, do culto e da disciplina. Os oficiais da igreja são os representantes do povo, escolhidos por voto popular. Isto não significa porém, que eles recebem a sua autoridade do povo, pois o chamamento do povo á apenas a confirmação do chamamento interior feito pelo Senhor; e é do Senhor que eles recebem a sua autoridade e a Ele são responsáveis. Quando são chamados representantes, é meramente uma indicação do fato de que eles foram escolhidos pelo povo para o seu ofício, e não implica que derivam dele a sua autoridade. Daí, eles não são deputados ou instrumentos, servindo apenas para levar a cabo os desejos do povo, mas governantes cujo dever é apreender e aplicar as leis de Cristo. Ao mesmo tempo, têm o dever de reconhecer o poder do qual a igreja como um todo foi investida, procurando o seu assentimento ou o seu consentimento nas questões importantes.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 584)

O PODER DA IGREJA RESIDE PRIMARIAMENTE NO CORPO GOVERNANTE LOCAL

Um dos princípios fundamentais do governo reformado ou presbiteriano é que o poder ou autoridade da igreja não reside antes de tudo na assembléia mais geral de alguma igreja. E só secundariamente e por derivação dessa assembléia, confiado ao corpo governante da igreja local; mas, sim, que tem sua sede original no consistório ou sessão ou conselho da igreja local e por este é transferido para as assembléias maiores, como classes ou presbitérios e sínodos ou assembléias gerais.* Assim, o sistema reformado ou presbiteriano honra a autonomia da igreja local, apesar de sempre considerá-la sujeita às limitações que lhe podem sobrevir como resultado de sua associação com outras igrejas, formando uma denominação, e lhe assegura o mais completo direito de governar os seus interesses internos por meio dos seus oficiais. Ao mesmo tempo, mantém o direito e dever da igreja local de unir-se a outras igrejas similares sobre uma base confessional comum, e de formar uma organização mais ampla com propósitos doutrinários, judiciais e administrativos, com a adequada estipulação de mútuas obrigações e direitos. Essa organização mais ampla impõe, sem dúvida, certas limitações à autonomia das igrejas locais, mas também promove o crescimento e o bem-estar das igrejas, garante os direitos dos membros da igreja e serve para dar mais plena expressão à unidade da igreja.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 584)

Apóstolos

Estritamente falando, este nome só é aplicável aos doze escolhidos por Jesus e a Paulo; mas também se aplica a certos homens apostólicos que assessoram a Paulo em seu trabalho e que foram dotados de dons e graças apostólicas, At 14.4, 14; 1 Co 9.5, 6; 2 Co 8.23; Gl 1.19 (?).** Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da igreja de todos os séculos. Somente através da sua palavra é que os crentes de todas as eras subseqüentes têm comunhão com Jesus Cristo. Daí, eles são os apóstolos da igreja dos dias atuais, como também o foram da Igreja Primitiva. Eles tinham certas qualificações especiais. (a) Foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo, Mc 3.14; Lc 6.13; Gl 1.1; (b) eram testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de Sua ressurreição, Jo 15.27; At 1.21, 22; 1 Co 9.1; (c) estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito, At 15.28; 1 Co 2.13; 1 Ts 4.8; 1 Jo 5.9-12; (d) tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar a sua mensagem, 2 Co 12.12; Hb 2.4; e (e) foram ricamente abençoados em sua obra, como sinal de que Deus aprovava os seus labores, 1 Co 9.1, 2; 2 Co 3.2, 3; Gl 2.8.
(Teologia Sistemática - Louis Berkhof. Pg. 584)

OFICIAIS EXTRAORDINÁRIOS

a. Apóstolos. Estritamente falando, este nome só é aplicável aos doze escolhidos por Jesus e a Paulo; mas também se aplica a certos homens apostólicos que assessoram a Paulo em seu trabalho e que foram dotados de dons e graças apostólicas, At 14.4, 14; 1 Co 9.5, 6; 2 Co 8.23; Gl 1.19 (?).** Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da igreja de todos os séculos. Somente através da sua palavra é que os crentes de todas as eras subseqüentes têm comunhão com Jesus Cristo. Daí, eles são os apóstolos da igreja dos dias atuais, como também o foram da Igreja Primitiva. Eles tinham certas qualificações especiais. (a) Foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo, Mc 3.14; Lc 6.13; Gl 1.1; (b) eram testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de Sua ressurreição, Jo 15.27; At 1.21, 22; 1 Co 9.1; (c) estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito, At 15.28; 1 Co 2.13; 1 Ts 4.8; 1 Jo 5.9-12; (d) tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar a sua mensagem, 2 Co 12.12; Hb 2.4; e (e) foram ricamente abençoados em sua obra, como sinal de que Deus aprovava os seus labores, 1 Co 9.1, 2; 2 Co 3.2, 3; Gl 2.8.
b. Profetas. O Novo Testamento fala também de profetas, At 11.28; 13.1, 2; 15.32; 1 Co 12.10; 13.2; 14.3; Ef 2.20; 3.5; 4.11; 1 Tm 1.18; 4.14; Ap 11.6. Evidentemente o dom de falar para a edificação da igreja era altamente desenvolvido nestes profetas, e ocasionalmente eles serviam de instrumentos para a revelação de mistérios e para a predição de eventos futuros. Aquela parte deste dom (profecias) é permanente na igreja cristã, e foi definidamente reconhecido pelas igrejas reformadas (calvinistas), mas esta última parte era de caráter carismático e temporário. Os profetas diferiam dos ministros comuns no sentido de que eles falavam sob inspiração especial.
c. Evangelistas. Em acréscimo a apóstolos e profetas, são mencionados evangelistas na Bíblia, At 21.8; Ef 4.11; 2 Tm 4.5. Filipe, Marcos, Timóteo e Tito pertenciam a esta classe. Pouco se sabe destes evangelistas. Eles acompanhavam e assistiam os apóstolos, e às vezes eram enviados por estes em missões especiais. Seu trabalho era pregar e batizar, mas incluía também a ordenação de presbíteros, Tt 1.5; 1 Tm 5.22, e o exercício da disciplina, Tt 3.10. Ao que parece, sua obra era mais geral e algo superior à dos ministros regulares.
(Teologia Sistemática – Loius Berkhof. Pg. 586)

Presbíteros

Dentre os oficiais comuns da igreja, os presbyteroi (presbíteros) ou episkopoi (bispos) são os primeiros, na ordem de importância. O primeiro nome significa simplesmente “anciãos”, ou “mais velhos”, e o último, “supervisores” ou “superintendentes”. O termo presbyteroi é empregado na Escritura para denotar homens idosos, e para designar uma classe de oficiais um tanto parecida com a que exercia certas funções na sinagoga. Como designativo de ofício, aos poucos o nome foi eclipsado e até sobrepujado pelo nome episkopoi. Os dois termos são freqüentemente empregados um pelo outro, At 20.17. 28; 1 Tm 3.1; 4.14; 5.17, 19; Tt 1.5, 7; 1 Pe 5.1, 2. Os presbyteroi são mencionados, pela primeira vez em At 11.30, mas é evidente que o ofício já era bem conhecido quando Paulo e Barnabé foram a Jerusalém, e pode ter estado em existência mesmo antes da instituição do diaconato. Pelo menos a expressão hoi neoteroi (“os moços”) em Atos 5 parece indicar uma distinção entre estes e os presbyteroi. Freqüente menção é feita a eles no Livro de Atos, 14.23; 15.6, 22; 16.4; 20.17, 28; 21.18. Provavelmente o ofício presbiteral ou episcopal foi instituído primeiro nas igrejas dos judeus, Tg. 5.14; Hb 13.7, 17, e, então, pouco depois, também os gentios. Vários outros nomes são aplicados a oficiais, a saber, proistemanoi (os que presidem), Rm 12.8; 1 Ts 5.12; kyberneseis (governos), 1 Co 12.28; hegoumenoi (guias), Hb 13.7, 17, 24; e poimenas (pastores), Ef 4.11. Claramente se vê que estes oficiais detinham a superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governá-lo e protegê-lo, como sendo da própria família de Deus.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 588)

Mestres

É evidente que, originalmente, os presbíteros não eram mestres. A princípio, na havia necessidade de mestres, separadamente, uma vez que havia apóstolos, profetas e evangelistas. Gradativamente, porém, a didaskalia (o ensino, a docência) ligou-se mais e mais estreitamente ao ofício episcopal; mas, mesmo então, os mestres não constituíram uma classe separada de oficiais. A declaração de Paulo em Ef 4.11, de que o Cristo assunto também dera à igreja “pastores e mestres”, mencionados como uma única classe, mostra claramente que estes dois não constituem duas diferentes classes oficiais, mas uma só classe com duas funções inter-relacionadas. 1 Tm 5.17 fala de presbíteros que trabalhavam na palavra e no ensino, e, conforme Hb 13.7, os hegumenoi eram igualmente mestres. Além disso, em 2 Tm 2.2 Paulo insta com Timóteo sobre a necessidade de nomear para ofício homens fiéis e também capazes de instruir a outros. Com o transcorrer do tempo, duas circunstâncias levaram a uma distinção entre os presbíteros ou superintendentes encarregados somente do governo da igreja, e os que também eram chamados para ensinar: (1) quando os apóstolos faleceram e as heresias surgiam e aumentavam, a tarefa dos que eram chamados para ensinar tornou-se mais exigente, requerendo preparação especial, 2 Tm 2.2; Tt 1.9; e (2) em vista do fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os que estão engajados no ministério da Palavra, tarefa amplamente abrangente que requer todo o seu tempo, foram liberados doutros trabalhos para poderem devotar-se mais exclusivamente ao trabalho de ensinar. Com toda a probabilidade, os aggeloi (anjos) aos quais foram dirigidas as cartas enviadas às sete igrejas da Ásia Menor, eram os mestres ou ministros daquelas igrejas, Ap 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14. Nos círculos reformados (calvinistas), os ministros agora governam as igrejas junto com os presbíteros, mas, em acréscimo a isso, ministram a Palavra e os sacramentos. Juntos eles formulam os regulamentos necessários para o governo da igreja.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 588)

Diáconos

Além dos presbyteroi, são mencionados os diakonoi no Novo Testamento, Fp 1.1; Tm 3.8, 10, 12. Segundo a opinião predominante, At 6.1-6 contém o registro da instituição do diaconato. Contudo, alguns estudiosos duvidam disto, e consideram o ofício mencionado em At 6, ou como um oficio geral em que as funções dos presbíteros e diáconos foram combinadas, ou como um ofício meramente temporal, que atende a um propósito especial. Eles chamam a atenção para o fato de que alguns dos sete escolhidos, como Felipe e Estevão, evidentemente estavam engajados no ensino; e que o dinheiro coletado em Antioquia para os pobres da Judéia foi entregue às mãos dos presbíteros. Não se faz menção nenhuma de quaisquer diáconos em At 11.30, sendo que estes, se existissem como classe separada, seriam os recebedores naturais daquele dinheiro. E, todavia, com toda a probabilidade, At 6 se refere à instituição do diaconato, pois: (1) O nome diakonoi que, antes do evento narrado em Atos 6, era sempre empregado no sentido geral de servo ou servidor, subseqüentemente começou a ser empregado como designativo daqueles que se dedicavam às obras de misericórdia e caridade, e, com o tempo, veio a ser usado exclusivamente neste sentido. A única razão que se pode atribuir a isto se acha em Atos 6. (2) Os sete homens ali mencionados foram encarregados da tarefa de distribuir bem as dádivas trazidas para as agapae (festas de amor cristão), ministério que noutras partes é particularmente descrito pela palavra diakonia, At 11.29; Rm 12.7; 2 Co 8.4; 9.1, 12, 13; Ap 2.19. (3) Os requisitos para o ofício, como são mencionados em Atos 6, são muito exigentes, e nesse aspecto, concordam com as exigências mencionadas em 1 Tm 3.8-10, 12. (4) Muito pouco se pode dizer em favor da acariciada idéia de alguns críticos de que o diaconato só foi desenvolvido mais tarde, mais ou menos na época do aparecimento do ofício episcopal.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 587)

A VOCAÇÃO DOS OFICIAIS E SUA INSTALAÇÃO NO OFÍCIO

Deve-se fazer distinção entre a vocação dos oficiais extraordinários, tais como os apóstolos, e a dos oficiais ordinários. Aqueles foram chamados de maneira extraordinária, com um chamamento imediato ou direto de Deus, e estes, de maneira ordinária e mediante a instrumentalidade da igreja. Estamos interessados mais particularmente na vocação dos oficiais ordinários.
a. Vocação dos oficiais ordinários. É dupla:
(1) Vocação interna. Às vezes se pensa que a vocação interna para um ofício na igreja consiste numa indicação extraordinária de Deus do fim para o qual o indivíduo é chamado – uma espécie de revelação especial. Mas não está certo. Consiste, antes, em certas indicações providenciais ordinárias dadas por Deus, e inclui principalmente três coisas: (a) a consciência de estar sendo impelido a alguma tarefa especial do reino de Deus, por amor a Deus e Sua causa; (b) a convicção que o indivíduo tem de que está, pelo menos em certa medida, intelectual e espiritualmente qualificado para o ofício em vista; e (c) a experiência de que, evidentemente, Deus está pavimentando o caminho que leva à meta.
(2) Vocação externa. Esta é a vocação que chega à pessoa pela instrumentalidade da igreja. Não é emitida pelo papa (conceito católico romano), nem por um bispo ou colégio de bispos (episcopal), mas, sim, pela igreja local. Tanto os oficiais como os membros comuns da igreja tomam parte nela. Que os oficiais têm parte em sua direção, não, porém, com a exclusão do povo, é evidenciado por passagens como At 1.15-26; 6.2-6; 14.23. O povo foi admitido, mesmo à escolha de um apóstolo, segundo At 1.15-26. O que se vê é que, na era apostólica, os oficiais guiavam a escolha que o povo fazia, chamando a atenção para as qualificações necessárias que se exigiam para o ofício, mas deixavam o povo tomar parte na escolha propriamente dita, At 1.15-16; 6.1-6; 1 Tm 3.2-13. Naturalmente, no caso de Matias, Deus mesmo fez a escolha final.
b. A investidura dos oficiais no ofício. Há principalmente dois ritos relacionados com a investidura ou instalação.
(1) Ordenação. Esta pressupõe a vocação e o exame do candidato ao ofício. É um ato da classe ou presbitério (1 Tm 4.14). Diz o doutor Hodge: “A ordenação é a solene expressão do julgamento da igreja, mediante aqueles que foram designados para comunicar tal julgamento, de que o candidato é verdadeiramente vocacionado por Deus para tomar parte neste ministério, com isso autenticando para o povo o chamamento divino”. Esta autenticação é, sob todas as circunstancias ordinárias, a condição necessária para o exercício do ofício ministerial. Pode-se lhe chamar, resumidamente, reconhecimento e confirmação públicos da vocação do candidato para este ofício.
(2) Imposição das mãos. A ordenação é acompanhada pela imposição das mãos. É fato patente que ambas andavam de mãos dadas nos tempos apostólicos, At 6.6; 13.3; 1 Tm 4.14; 5.22. Naqueles tempos primitivos, a imposição das mãos evidentemente implicava duas coisas: Significava que uma pessoa era separada para certo ofício, e que algum dom espiritual especial lhe era conferido. A igreja de Roma é de opinião que estes dois elementos ainda estão incluídos na imposição das mãos, que esta realmente confere alguma graça espiritual ao seu recebedor, e, daí, lhe atribui significação sacramental. Os protestantes afirmam, porém, que ela é apenas uma indicação simbólica do fato de que alguém é separado para o ofício ministerial na igreja. Conquanto eles a considerem um rito escriturístico, e um rito inteiramente apropriado, não a consideram absolutamente essencial. Para a Igreja Presbiteriana, ela é facultativa.*
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.588)

As Assembléias Eclesiásticas

1. OS CORPOS GOVERNANTES (TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS) DO SISTEMA REFORMADO (E PRESBITERIANO). O governo das igrejas Reformada e Presbiteriana é caracterizado por um sistema de assembléias eclesiásticas numa escala ascendente ou descendente, conforme o ponto de vista segundo o qual é considerado. São elas o consistório (sessão, conselho), a classe (presbitério), o(s) sínodo(s), e, nalguns casos, a assembléia geral (o Supremo Concílio, no caso do presbiterianismo brasileiro). O consistório ou conselho consiste do ministro (ou ministros) e os presbíteros ou anciãos da igreja local. A classe se compõe de um ministro e de um presbítero de cada igreja local de certa região ou distrito. Isso é um pouco diferente, porém, na Igreja Presbiteriana, na qual o presbitério inclui todos os ministros dentro dos seus limites, e um presbitério de cada uma das suas igrejas. O sínodo, por sua vez, consiste de igual número de ministros e presbíteros de cada classe.** E finalmente, a assembléia geral (no caso dos presbiterianos) é composta de igual delegação de ministros e presbíteros de cada um dos presbitérios, e não, como se poderia esperar, de cada um dos sínodos particulares.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 588)

O GOVERNO REPRESENTATIVO DA IGREJA LOCAL E SUA AUTONOMIA RELATIVA

a. O governo representativo da igreja local. As igrejas reformadas e presbiterianas diferem, de um lado, de todas as igrejas nas quais o governo está nas mãos de um único prelado ou de um presbítero ou ancião presidente, e, de outro lado, daquelas nas quais o governo está com o povo em geral. Elas não acreditam em nenhum governo de um homem só, seja este um presbítero, um pastor ou um bispo; tampouco acreditam em governo popular. Elas elegem presbíteros regentes como seus representantes, e estes, juntamente com o(os) ministro(s), formam um conselho ou consistório para o governo da igreja local. Muito semelhantemente, os apóstolos eram guiados pelo respeitado costume de se terem presbíteros na sinagoga, e não por algum mandamento direto, quando ordenavam presbíteros nas diversas igrejas fundadas por eles. A igreja de Jerusalém tinha presbíteros, At 11.10. Paulo e Barnabé os ordenaram nas igrejas que organizaram durante a sua primeira viagem missionária, At 14.23. Evidentemente, havia presbíteros em ação em Éfeso, At 20.17, e em Filipos, Fp 1.1. As epístolas pastorais repetidamente fazem menção deles, 1 Tm 3.1, 2; Tt 1.5, 7. Merece atenção o fato de sempre serem mencionados no plural, 1 Co 12.28; 1 Tm 5.17; Hb 13.7, 17, 24; 1 Pe 5.1. Os presbíteros são escolhidos pelo povo como homens especialmente qualificados para governar a igreja. É evidente intenção da Escritura que o povo sempre tenha voz nas questões da seleção deles, embora não fosse assim na sinagoga judaica, At 1.21-26; 6.1-6; 14.23. Nesta última passagem, porém, a palavra cheirotoneo pode ter perdido o seu sentido original de designar estendendo a mão, e pode significar simplesmente designar. Ao mesmo tempo, é mais que evidente que o Senhor mesmo coloca estes governantes sobre o povo e os reveste da necessária autoridade, Mt 16.19; Jo 20.22, 23; At 1.24, 26; 20.28; 1 Co 12.28; Ef 4.11, 12; Hb 13.17. A eleição feita pelo povo é apenas uma confirmação externa da vocação interna feita pelo Senhor. Além disso, os presbíteros, embora representantes do povo, não derivam sua autoridade do povo, mas do Senhor da igreja. Eles exercem o governo sobre a casa de Deus, em nome do Rei, e são responsáveis unicamente perante Ele.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.591)

A relativa autonomia da igreja local

O governo das igrejas Reformada e Presbiteriana reconhece a autonomia da igreja local. Isto significa:
(1) Que toda igreja local é uma igreja de Cristo completa, plenamente equipada com tudo que se requer para o seu governo. Não há absolutamente necessidade de se lhe impor nenhum governo de fora. E não só isso, mas tal imposição seria absolutamente contrária à sua natureza.
(2) Que, embora possa haver uma associação ou unificação apropriada de igrejas contíguas, não se deve estabelecer nenhuma união que destrua a autonomia da igreja local. Daí, é melhor não se falar das classes ou presbíteros e dos sínodos como superiores, mas descrevê-los como assembléias maiores ou mais gerais. Eles não representam um poder mais alto, mas exatamente o mesmo poder inerente ao consistório ou conselho, conquanto o exerçam numa escala mais ampla. McGill fala deles como tribunais superiores ou mais remotos.
(3) Que a autoridade e as prerrogativas das assembléias maiores não são limitadas, mas têm sua limitação nos direitos das sessões, consistórios ou conselhos. Não lhes é permitido assenhorear-se da igreja local ou de seus membros, independentemente dos direitos constitucionais do consistório ou conselho; tampouco se lhes permite imiscuir-se nos assuntos internos da igreja local, em nenhuma circunstância. Quando as igrejas formam uma associação, os seus deveres e direitos mútuos são circunscritos numa Ordem da Igreja ou numa Forma de Governo ou numa Constituição da Igreja. Esse documento estipula os direitos e deveres das assembléias maiores, mas também garante os direitos da igreja local. A idéia de que uma classe (presbitério) ou um sínodo pode pura e simplesmente impor tudo que quiser a uma igreja local é uma idéia essencialmente católica romana.
(4) Que a autonomia da igreja local tem suas limitações na relação existente entre ela e as igrejas com as quais está associada, e nos interesses ou causas gerais das igrejas associadas. A Ordem a Igreja ou Constituição é um documento solenemente subscrito por todas as igrejas locais associadas, representadas por seus respectivos consistórios, sessões ou conselhos (através dos respectivos presbitérios, no caso do presbiterianismo). Isto, por um lado, protege os direitos e interesses da igreja local, mas, por outro lado, protege também os direitos e interesses coletivos das igrejas associadas. E nenhuma igreja tem, isoladamente, o direito de desatender questões de acordo mútuo e de interesse comum. O grupo local poderá até ser ocasionalmente chamado a negar-se a si mesmo pelo bem maior da igreja em geral.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 591)

AS ASSEMBLÉIAS MAIORES

a. Base bíblica das assembléias maiores. A Escritura não contém um mandamento explícito no sentido de que as igrejas locais de uma região devam compor uma união orgânica. Tampouco nos fornece algum exemplo de uma tal união. De fato, ela descreve as igrejas locais como entidades individuais, sem qualquer vínculo externo de união. Ao mesmo tempo, a natureza essencial da igreja, nos termos em que é descrita na Escritura. Requer essa união. A igreja é descrita como um organismo espiritual em que todas as partes constituintes se relacionam vitalmente umas com as outras. Ela é o corpo espiritual de Jesus Cristo, do qual Ele é a sublime Cabeça. E é simplesmente natural que esta unidade interna se expresse de maneira visível e, até, quanto possível neste mundo imperfeito e pecaminoso, busque expressão nalguma organização externa correspondente. A Bíblia fala da igreja, não somente como um corpo espiritual, mas também como um corpo tangível, como um templo do Espírito Santo, como um sacerdócio e como uma nação santa. Cada uma destas expressões indica uma unidade visível. Os congregacionais, as igrejas livres e os indenominacionalistas não enxergam este importante fato. As divisões existentes na igreja visível na época atual não devem levar-nos a perder de vista o fato de que há certas passagens da Escritura que indicam com bastante clareza que, não somente a igreja invisível, mas também a igreja visível é uma unidade. A palavra ekklesia é empregada no singular como uma indicação da igreja visível num sentido mais amplo que o da igreja puramente local, At 9.31 (conforme a redação atualmente aceita), 1 Co 12.28, e provavelmente também 1 Co 10.32. Nas descrições da igreja em 1 Co 12.12-50 e em Ef 4.4-16, o apóstolo também tem em mente a sua unidade visível. Além disso, há motivos para pensarmos que, em Jerusalém e em Antioquia, a igreja consistia de vários grupos separados, que, juntos, formavam uma espécie de unidade. E, finalmente, Atos 15 dá-nos a conhecer o exemplo do concílio de Jerusalém. Este concílio se compunha de apóstolos e presbíteros, e, portanto, não constitui um adequado exemplo e padrão de uma classe (presbitério) ou sínodo no sentido moderno dos termos. Ao mesmo tempo, é um exemplo de uma assembléia maior, e de uma assembléia que falou com autoridade, e não apenas na capacidade de um órgão consultivo.
b. O caráter representativo das assembléias maiores. Em tese se pode dizer que as assembléias maiores poderiam compor-se de todos os representantes de todas as igrejas locais que se acham sob a sua jurisdição; mas, devido ao numero das igrejas representadas, uma corporação como essa seria, em muitos casos, incontrolável e ineficiente. Para reduzir o numero de representantes a proporções razoáveis, o princípio de representatividade também é acionado com relação às assembléias maiores. Não as igrejas locais, mas as classes ou presbitérios enviam representantes aos sínodos (e às assembléias gerais). Isto possibilita a contração gradual necessária para um sistema bem compacto. Os representantes imediatos do povo, que compõem os consistórios ou sessões ou conselhos, são representados, eles próprios, nas classes ou presbitérios; e estes, por sua vez, são representados nos sínodos e nas assembléias gerais. Quanto mais geral a assembléia, mais distante está do povo; contudo, nenhuma delas se acha tão longe que não possa dar expressão à unidade da igreja, manter a boa ordem e garantir a eficiência geral dos seus trabalhos.
c. As questões que se acham sob a sua jurisdição. O caráter eclesiástico destas assembléias sempre se deve ter em mente. É porque elas são assembléias da igreja que as questões puramente científicas, sociais, industriais e políticas, como tais, não estão sob a sua jurisdição. Só questões eclesiásticas pertencem à sua esfera, como as questões de doutrina e moralidade, de governo e disciplina da igreja, e de tudo quanto se relacione com a preservação da unidade e da boa ordem na igreja de Jesus Cristo. Mais particularmente, elas tratam de (1) matérias que, quanto á sua natureza, pertencem à esfera de uma assembléia menor mas que, por uma razão ou outra, não podem ser resolvidas ali; e (2) matérias que, quanto à sua natureza, pertencem à esfera de uma assembléia maior, visto pertencerem às igrejas em geral, como as questões tocantes à Confissão de Fé, à Ordem ou Constituição da Igreja, ou à liturgia da igreja.
d. O poder e autoridade destas assembléias. As assembléias maiores não representam uma classe de poder mais alto que o poder investido no consistório ou sessão ou conselho. As igrejas reformadas (calvinistas) não reconhecem nenhuma classe superior de poder eclesiástico além daquele que reside no consistório ou conselho. Ao mesmo tempo, a sua autoridade é maior em grau e mais ampla em extensão que a do consistório. O poder da igreja é representado em maior medida nas assembléias maiores do que no consistório, precisamente como o poder apostólico era representado em maior medida nos doze do que num só apóstolo. Dez igrejas certamente possuem mais autoridade que uma; há um acúmulo de poder. Além disso, a autoridade das assembléias maiores não se aplica só a uma igreja, mas se estende a todas as igrejas associadas. Conseqüentemente, as decisões de uma assembléia maior carregam grande peso, e jamais poderão ser postas de lado, ao bel prazer de quem quer que seja. A asserção às vezes feita de que essas decisões são apenas de caráter consultivo e, portanto, não precisam ser cumpridas, é uma manifestação do pensamento dos adeptos da independência (das igrejas livres). Estas decisões são imperativas, exceto nos casos em que se declara explicitamente que são meramente consultivas. Elas são obrigatórias para as igrejas como a fiel interpretação e aplicação da lei – da lei de Cristo, o Rei da igreja. Só deixam de ser obrigatórias quando se mostram contrárias à Palavra de Deus.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Qual a diferença entre o sentido neotestamentário da palavra episkopos e sua conotação posterior? 2. Por que os ofícios regulares são necessários na igreja? 3. A Escritura apóia a idéia de que o povo deve ter alguma participação do governo da igreja? 4. Qual a principal característica do episcopado? 5. Qual a distinção católica romana entre a hierarquia de ordem e a hierarquia de jurisdição? 6. Como se originaram os sistemas territorial e colegial, e como diferem? 7. Que sistema os arminianos adotaram, e como isto afetou a posição deles? 8. Qual a forma atual do governo eclesiástico da igreja Luterana? 9. Como é que a idéia de que Cristo é a Cabeça da igreja somente num sentido orgânico afeta os ofícios e a autoridade da igreja? 10. Que importante suporte prático tem a Chefia de Cristo (incluindo a Sua realeza) na vida, na posição e no governo da igreja? 11. alguma igreja pode ser considerada autônoma no sentido absoluto da palavra? 12. Como as assembléias maiores reformadas e presbiterianas diferem das convenções ou conferencias e concílios gerais congregacionais?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 354-424; Kuyper, Dict. Dogm., De Ecclesia, p. 268-293; id., Tractaat van de Reformantie der Kerken, p. 41-82; Vos, Geref. Dogm., V, p. 31-39, 49-70; Hodg, Church Polity, cf. Índice: Bannerman, The Church, p. 201-331; McGill, Church Government, p. 143-522; McPherson, Presbyterianism; Heyns, Handbook for Elders and Deacons, p. 13-70; Bouwman, Geref. Kerkredht, cf. Índice; Rieker, Grudsaetza reformierter Kirchenverfassung; Hoffmann, Kirchenverdassungsrech Lechler, Geschichte de Presbyterial-und Synodalverfassung seit der Reformation; Morris, Ecclesiology, p. 80-151; Hatch, The Organisation of the Early Christian Churches; Sillevis Smitt, De Organisatie van de Christelijke Kerk; Lindsay, The Church and the Ministry in the Early Centuries; J. Cunningham, The Growth of the Church, p. 1-77; Van Dyke, The Church, Her Ministry and Sacraments, p. 115-161; Pieper, Christl. Dogm. III, p. 501-534; Litton, Introd. To Dogm. Theol., p. 376-410; Wilson, Free Church Principles, p. 1-65; Wilmers, Handbook of the Chr. Rel., p. 77-101; Devine, The Creed Explained, p. 302-340; Bonynton, The Congregational Way; W. A. Visser’t Hooft e J. H. Oldham, The Church and its Function in Society.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.593)