quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A Promessa de uma Bênção Diferente

Podemos ir além. Este "derramamento" ou "batismo" do Espírito haveria de ser uma das bênçãos mais distintivas da nova época. Tanto que o apóstolo Paulo pôde descrever a nova era iniciada por Jesus como "o ministério do Espírito" (2 Cor 3.8).
É claro que isto não quer dizer que o Espírito Santo não existia antes. O Espírito Santo é Deus e, portanto, eterno. Também não quer dizer que ele estava inativo antes. No tempo do Antigo Testamento, ele estava incessantemente ativo – na criação e na preservação do universo, na providência e na revelação, na regeneração de crentes, e na capacitação de pessoas especiais para tarefas especiais.
Mesmo assim, alguns profetas predisseram que nos dias do Messias, Deus concederia uma difusão liberal do Espírito Santo, nova e diferente, bem como acessível a todos (como veremos). Neste sentido Isaías falou do dia em que o Espírito seria "derramado sobre nós lá do alto" (32.15). Em Isaías 44:3 Deus prometeu: "Derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca, derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes". A mesma terminologia foi usada por Ezequiel, a quem Deus disse: "Saberão que eu sou o Senhor seu Deus, quando.., derramarei o meu Espírito sobre a casa de Israel" (39:28,29). Da mesma forma, em uma passagem mais conhecida, Deus disse: "E acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne" (Joel 2:28).
João Batista, o último profeta da ordem antiga, resumiu esta expectava em seu dito conhecido, que creditou o derramamento do Espírito ao próprio Messias: "Eu vos tenho balizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo" (Mar. 1:8).
A esta altura é instrutivo observar que esta profecia de João, registrada pelos três evangelistas sinóticos como futuro simples ("ele vos batizará"), no quarto evangelho toma a forma de um particípio presente: "Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água, me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo" (João 1:33). Este uso do particípio presente tira do verbo os limites do tempo. Ele não descreve o evento único que foi o Pentecostes, mas o ministério específico de Jesus: "Esse é o que batiza com o Espírito Santo".2
Na verdade, as mesmas palavras, ho baptizôn, que aqui se referem a Jesus, são aplicadas por Marcos a João Batista! Geralmente, João é chamado de ho baptistés, "o Batista", porém três vezes na narrativa de Marcos (1:4; 6:14, 24) ele é chamado de ho baptizôn, (diferença que não aparece em nossas traduções em português, mas que significa "o Batizador", N.T.). Em outras palavras, assim como João é chamado de "o Batista" ou "o Batizador", porque a característica do seu ministério era batizar com água, também Jesus é chamado de "o Batista" ou "o Batizador", porque a característica do seu ministério é batizar com o Espírito Santo.
Esta referência ao ministério diferente de Jesus é reforçada pelo versículo 29 do mesmo capítulo (João 1), em que João Batista diz: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Trata-se de outro particípio presente, ho airôn. Se juntarmos os versículos 29 e 33, descobriremos que a obra característica de Jesus é dupla: ela inclui uma remoção e uma doação, uma retirada do pecado e um batismo com o Espírito Santo. Estes são os dois grandes dons de Jesus Cristo, nosso Salvador. Eles são sempre apresentados juntos pelos profetas do Antigo Testamento e pelos apóstolos no Novo, e não podem ser separados. Por isso Deus prometeu através do profeta Ezequiel: "Aspergirá água pura sobre vós, e ficareis purificados; ... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei com que andeis nos meus estatutos..." (36.25,27).
Estas duas promessas de Deus na verdade são as duas grandes bênçãos da "nova aliança" profetizada por Jeremias. Porque os termos da nova aliança incluem estas palavras: "Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei... perdoarei as suas iniqüidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei".3
É um testemunho maravilhoso à unidade da Escritura verificar como os apóstolos retomaram estas promessas relacionadas com a nova aliança. Eles sabiam que a nova aliança tinha agora sido estabelecida e ratificada pelo sangue de Jesus (Mat. 26:28, Heb. 7:22; 8:1-13), e por isso falaram abertamente que as bênçãos da aliança prometidas, agora estavam disponíveis através do mesmo Senhor Jesus. Assim Paulo chamou os ministros cristãos de "ministros de uma nova aliança", avançando em seguida para descrevê-la como "ministério da justiça" (isto é, justificação), e como "ministério do Espírito" (2 Cor 3.6-9).
De maneira semelhante, o apóstolo Pedro exclamou no dia de Pentecostes: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos 2:36). Assim, Pedro garantiu a todos que se arrependessem e cressem,4 e dessem testemunho público de sua fé penitente em Jesus, sendo batizados em seu nome, que receberiam gratuitamente de Deus dois presentes: o perdão de seus pecados e o dom do Espírito Santo.
Além disso, uma leitura cuidadosa dos dois primeiros capítulos de Atos leva à conclusão de que este "dom do Espírito" é sinônimo com o que antes é chamado de "a promessa do Espírito" (1:4; 2:33, 39), "o batismo do Espírito" (1:5) e "o derramamento do Espírito" (2:17,33), embora possamos dizer que duas destas expressões põem mais ênfase no ato de dar, e as outras duas no ato de receber o Espírito. Podemos resumir tudo isto dizendo que aqueles crentes penitentes receberam o dom do Espírito que Deus tinha prometido antes de Pentecostes, e que foram batizados com o Espírito que Deus derramou no dia de Pentecostes. O apóstolo Pedro conservou sua convicção sobre esta identificação de significados. Quando Cornélio se converteu mais tarde e recebeu o Espírito, Pedro se referiu àquilo como o "batismo" e como o "dom" do Espírito (Atos 11:16,17).
À luz de todo este testemunho bíblico, parece-me estar claro que o "batismo" do Espírito é idêntico à promessa ou dom do Espírito, e é tão parte integrante do evangelho da salvação quanto a remissão de pecados. Certamente, jamais devemos pensar na "salvação" em termos meramente negativos, como se ela consistisse apenas em nossa libertação do pecado, culpa, ira e morte. Agradecemos a Deus porque ela inclui todas estas coisas. Mas ela abrange também a bênção positiva do Espírito Santo, que nos regenera, vem morar em nós, nos liberta e transforma. Quão truncada fica a nossa pregação do evangelho se damos ênfase somente a um lado! E que evangelho glorioso temos para compartilhar quando nos mantemos fiéis à Escritura!
Quando pecadores se arrependem e crêem, Jesus não somente tira seus pecados, mas também os batiza com o seu Espírito. De fato, Paulo coloca isto para Tito em termos dramáticos, quando Deus "salva", ele não somente nos "justifica" por sua graça, mas também nos faz passar por um "lavar" ou "banho". Se isto é uma referência ao batismo na água, como é provável, então é uma indicação do que significa o batismo na água. Paulo o descreve com uma expressão marcante, composta. E um "banho de renascimento e renovação do, isto é, por meio do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós de maneira abundante, através de Jesus Cristo, nosso Salvador" (3.4-7, tradução própria). Assim, vemos novamente que o Espírito, derramado para nos regenerar e renovar, também faz parte da salvação. O "batismo" ou "dom" do Espírito realmente é uma das bênçãos especiais da nova era iniciada por Jesus Cristo.
(Batismo e Plenitudo do Espírito Santo - J.R.W. Stott. Pg.28)

Nenhum comentário:

Postar um comentário