quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Doutrina bíblica da ressurreição na história

No tempo de Jesus havia uma diferença de opiniões entre os judeus, a respeito da ressurreição. Enquanto que os fariseus criam nela, os saduceus não criam, Mt 22.23; At 23.8. Quando Paulo falou a seu respeito em Atenas, enfrentou zombaria, At 17.32. Alguns dos coríntios a negavam, 1 Co 15, e Himeneu e Fileto, considerando-a como algo puramente espiritual, asseveravam que ela já era coisa pertencente à história, 2 Tm 2.18. Celso, um dos mais antigos opositores do cristianismo, fazia especialmente desta doutrina objeto de escárnio; e os gnósticos, que consideravam a matéria como inerentemente má, naturalmente a rejeitavam. Orígenes defendeu a doutrina contra os gnósticos e contra Celso, mas todavia, não acreditava que é o corpo depositado no túmulo que ressuscita. Ele descrevia o corpo ressureto como um corpo, purificado e espiritualizado. Embora alguns dos chamados pais cristãos primitivos compartilhassem o seu conceito, a maioria deles acentuava a identidade do corpo atual com o da ressurreição. Já na sua Confissão Apostólica, a igreja expressou a sua crença na ressurreição da carne (sarkos).
Agostinho a princípio estava inclinado a concordar com Orígenes, mas posteriormente adotou o conceito predominante, embora não julgasse necessário crer que as atuais diferenças de forma e estatura continuarão na vida por vir. Jerônimo insistia vigorosamente na identidade do corpo atual com o futuro. O Oriente, representado por homens como os dois Gregórios, Crisóstomo e João de Damasco, manifestava a tendência de adotar um conceito mais espiritual da ressurreição do que o Ocidente. Os que acreditavam num milênio futuro falavam de uma dupla ressurreição, a dos justos no princípio do reino milenar, e a dos ímpios no fim dele. Durante a Idade Média, os escolásticos especulavam muito sobre o corpo ressureto, mas as suas especulações são sumamente fantasiosas e de pequeno valor. Principalmente Tomaz de Aquino parecia especialmente informado sobre a natureza do corpo ressureto, e sobre a ordem e o modo da ressurreição. Os teólogos do período da Reforma geralmente estavam de acordo em que o corpo da ressurreição será idêntico ao atual. Todas as grandes confissões da igreja apresentam a ressurreição geral como simultânea com a segunda vinda de Cristo, o juízo final e o fim do mundo. Elas não fazem separação entre quaisquer desses eventos, tais como entre a ressurreição dos justos e a dos ímpios, e entre a vinda de Cristo e o fim do mundo, com um período de mil anos. Por outro lado, os premilenistas insistem em tal separação. Sob a influência do racionalismo e com o avanço das ciências físicas, acentuaram-se algumas das dificuldades que pesavam sobre a doutrina da ressurreição, e, como resultado, o “liberalismo” religioso moderno nega a ressurreição da carne e explica as descrições que dela faz a Escritura como sendo uma representação figurada da idéia de que a personalidade humana completa continuará a existir após a morte.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

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