quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pós-milenismo

A posição do pós-milenismo é completamente oposta à tomada pelo premilenismo, respeitante à data da segunda vinda de Cristo. Ele afirma que o retorno de Cristo será depois do milênio, que se pode esperar para durante e no fim da dispensação do Evangelho. Imediatamente após, Cristo virá para introduzir a ordem eterna de coisas. Na discussão do pós-milenismo será necessário distinguir duas formas da teoria, uma das quais espera que o milênio será realizado pela influência sobrenatural do Espírito Santo, e a outra espera que ele advirá por um processo natural de evolução.
1. DIFERENTES FORMAS DE PÓS-MILENISMO.
a. A forma antiga.Durante os séculos dezesseis e dezessete, diversos teólogos reformados (calvinistas) da Holanda ensinaram uma forma de quiliasma agora denominada pós-milenismo. Entre eles havia homens bem conhecidos como Coccejus, Alting, os dois Vitringa, d’Outrein, Witsius, Hoornbeek, Koelman e Brakel, alguns dos quais consideravam o milênio como pertencente ao passado, outros o julgavam presente, e ainda outros o buscavam no futuro. A maioria o esperava para as proximidades do fim do mundo, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Estes homens rejeitavam as duas idéias diretoras dos premilenistas, quais sejam, que Cristo voltará fisicamente para reinar na terra por mil anos, e que os santos serão ressuscitados por ocasião da Sua vinda, e então reinarão com Ele no reino milenar. Embora suas exposições diferissem nalguns pormenores, a idéia predominante era que o Evangelho, que se propagará gradativamente pelo mundo todo, no fim se tornará imensuravelmente mais eficiente do que no presente, e introduzirá um período de ricas bênçãos espirituais para a igreja de Jesus Cristo, uma idade de ouro em que os judeus também compartirão as bênçãos do Evangelho de maneira sem precedentes. Em anos mais recentes, um tipo desse pós-milenismo foi defendido por D. Brown, J. Berg, J.H.Snowden, T.P.Stafford e A.H.Strong. Diz o ultimo teólogo mencionado que o milênio será “um período dos últimos dias da igreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos mártires reaparecerá, a verdadeira religião será grandemente revigorada e revivida, e os membros das igrejas de Cristo tomarão tal consciência do seu poder em Cristo que, numa extensão jamais conhecida antes, triunfarão sobre os poderes do mal dentro e fora”. A idade de outro da igreja, segundo se diz, será seguida por um breve período de apostasia, um terrível conflito entre as forças do bem e do mal, e pela ocorrência simultânea do advento de Cristo, da ressurreição geral e do juízo final.
b. A forma recente. Grande parte do pós-milenismo dos dias atuais é de um tipo inteiramente diverso, e tem muito pouco a ver com os ensinos da Escritura, exceto como uma indicação histórica daquilo em que outrora o povo cria. O homem moderno tem pouca paciência com as esperanças milenísticas do passado, com sua completa dependência de Deus. Ele não acredita que a nova era será introduzida pela pregação do Evangelho, acompanhada pela obra do Espírito Santo; nem que será resultado de uma mudança cataclísmica. De um lado, crê-se que a evolução trará aos poucos o milênio, e de outro lado, que o próprio homem introduzirá a nova era, adotando uma política construtiva de melhoramento do mundo. Diz Walter Rauschenbush: “Nosso principal interesse num milênio é o desejo de uma ordem social em que o valor e a liberdade de todos os seres humanos, mesmos do menor deles, sejam honrados e protegidos, em que a fraternidade do homem seja expressa na posse comum dos recursos da sociedade; e em que o bem espiritual da humanidade seja posto muito acima dos interesses de lucro privado de todos os grupos materialistas. . . .Quanto ao modo pelo qual o ideal cristão da sociedade deverá vir – devemos substituir a catástrofe pelo desenvolvimento”.
Shirley Jackson case interroga: “Continuaremos buscando a Deus para introduzir uma nova ordem por meios catastróficos, ou assumiremos a responsabilidade de produzir o nosso próprio milênio, crendo que Deus está operando em nós e em nosso mundo o querer e o fazer para o Seu beneplácito?” E ele mesmo dá a resposta, nos seguintes parágrafos: “O curso da história exibe um longo processo de luta de evolução pelo qual a humanidade como um todo eleva-se cada vez mais na escala da civilização e da consecução, melhorando sua condição de quando em quando mediante sua maior habilidade e engenho. Vista segundo a longa perspectiva das eras, a carreira do homem tem sido de real ascensão. Em vez de piorar, vê-se que o mundo melhora constantemente. ...Desde que a história e a ciência mostram que o melhoramento é sempre resultado de esforços de realização, o homem acaba imaginando que os males ainda não vencidos haverão de ser eliminados por estrênuos esforços e reforma gradual, e não pela intervenção catastrófica da Divindade. ... As moléstias devem ser curadas ou evitadas pela habilidade do médico, os males da sociedade devem ser remediados pela educação e pela legislação, e as desgraças internacionais devem ser impedidas pelo estabelecimento de novos padrões e novos métodos de tratamento medicinal, e não por uma aniquilação repentina”. Estas citações são deverás características de uma grande parte do pós-milenismo dos nossos dias, e não é de admirar que os premilenistas reajam contra ele.
2. OBJEÇÕES AO PÓS-MILENISMO. Há algumas sérias objeções à teoria pós-milenista.
a. A idéia fundamental da doutrina segundo a qual o mundo inteiro será gradativamente ganho para Cristo, a vida de todas as nações será transformada pelo Evangelho no transcurso do tempo, a justiça e a paz reinarão supremas, e as bênçãos do Espírito serão derramadas mais copiosamente que antes, de sorte que a igreja experimentará um período de prosperidade sem par imediatamente antes da vinda do Senhor – não está em harmonia com o retrato do fim do século que se vê na Escritura. Na verdade a Escritura ensina que o Evangelho se espalhará pelo mundo todo e exercerá uma influencia benéfica, mas não nos leva a esperar a conversão do mundo, nem nesta nem numa era vindoura. Ela salienta o fato de que a época imediatamente anterior ao fim será uma época de grande apostasia, de tribulação e perseguição, uma época em que a fé se esfriará a muitos, e em que os que são leais a Cristo serão submetidos a cruéis sofrimentos, e nalguns casos até selarão com seu sangue a sua confissão, Mt 24.6-14, 21, 22; Lc 18.8; 21.25-28; 2 Ts 2.3-12; 2 Tm 3.1-6; Ap 13. Naturalmente os pós-milenistas não podem ignorar por completo o que se diz acerca da apostasia e da tribulação que marcarão o fim da história, mas eles o subestimam e o descrevem como se predissesse uma apostasia e uma tribulação em pequena escala, que não afetarão o fluxo principal da vida religiosa. Sua expectação de uma gloriosa condição da igreja no fim se baseia em passagens que contêm uma descrição figurada, quer da dispensação do Evangelho como um todo, quer da perfeita ventura do reino externo de Jesus Cristo.
b. A idéia correlata de que a presente era não acabará numa grande mudança cataclísmica, mas passará numa transição quase imperceptível para a era vindoura, é igualmente antibíblica. A Bíblia nos ensina de maneira muito explícita que uma catástrofe, ou uma intervenção especial de Deus, dará cabo do governo de Satanás sobre a terra e introduzirá o Reino que não poderá ser abalado, Mt 24.29-31, 35-44; Hb 12.26,27; 2 Pe 3.10-13. haverá uma crise, uma transformação tão grande, que pode ser chamada “regeneração”, Mt 19.28. Assim como os crentes não se santificam progressivamente nesta existência até estarem praticamente prontos para, sem muita mudança mais, entrar no céu, o mundo também não será purificado gradativamente, aprontando-se deste modo para entrar no estágio subseqüente. Justamente como os crentes ainda terão que submeter-se a uma grande mudança a operar-se na morte, assim o mundo sofrerá uma tremenda mudança quando chegar o fim. Haverá novos céus e nova terra, Ap 21.1.
c. A idéia moderna de que a evolução natural e os esforços do homem no campo da educação, da reforma social e da legislação produzirão gradativamente o reinado perfeito do espírito cristão, entra em conflito com tudo quanto a palavra de Deus ensina sobre este ponto. Não é a obra do homem, mas, sim, a de Deus que introduz o glorioso reino de Deus. Este reino não pode ser estabelecido pelos meios naturais, mas somente por meios sobrenaturais. É o reinado de Deus, estabelecido e reconhecido nos corações do Seu povo, e este reinado jamais o podem tornar efetivos os meios puramente naturais. A civilização sem a regeneração, sem uma transformação sobrenatural do coração, jamais produzirá um milênio, um governo eficaz e glorioso de Jesus Cristo. Dá para ver que as experiências do segundo quartel deste século devem ter imposto esta verdade ao homem moderno. O tão decantado desenvolvimento do homem ainda não nos levou a vislumbrar o milênio.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Qual é a origem histórica do premilenismo? 2. Foi ele de fato o conceito dominante no segundo e no terceiro séculos? 3. Qual foi o conceito de Agostinho sobre o reino de Deus e o milênio? 4. O reino de Deus e a igreja são distintos ou idênticos na Escritura? 5. Será aquele natural e nacional, e esta espiritual e universal? 6. Lucas 14.14 e 20.35 ensinam uma ressurreição parcial? 7. Será que alguma parte de Israel constitui uma parte da noiva de Cristo? 8. Estará completa a noiva, quando Cristo voltar? 9. Os pós-milenistas são necessariamente evolucionistas? 10. A experiência justifica o otimismo dos pós-milenistas, segundo o qual o mundo está ficando cada vez melhor? 11. A Bíblia prediz progresso contínuo para o reino de Deus, até ao fim do mundo? 12. È necessário presumir uma transformação cataclísmica no fim?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 717-769; Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 237-279; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie, p. 36-40; id., Pauline Eschatology, p. 226-260;Hodge, Syst., Theol. III, p. 861-868; Warfield, The Millennium and the Apocalypse in Biblical Studies, p. 643-664; Dahle, Life After Death, p. 354-418; D. Brown, The Second Advent; Ch. Brown, The Hope of His Coming; Hoekstra, Het Chiliasme; Rutgers, Premillennialism in America; Merril, Second Coming of Christ; Eckman, When Christ Comes Again; Heagle, That Blessed Hope; Case, The Millennial Hope; Rall, Modern Premillennialism and the Christian Hope; Fairbaim, The Prophetic of the Jews (by Pieters); Berkhof, Premillennialisme; Riley, The Evolution of the Kingdom; Bultem, Maranatha; Berkhof, De Wederkomst van Christus; Brookes, Maranatha; Haldeman, The Coming od the Lord; Snowden, The Second Coming of the Lord; Blackstone, Jesus is Coming; Milligan, Is the Kingdom Age at Hand?; Peters, The Theocratic Kingdom; West, The Thousand Years in Both Testaments; Silver, The Lord’s Return; Bullinger, How to Enjoy the Bible; Waldegrave, New Testament Millenarianism; Feinberg, Premillennialism and Amillennialism; Gaebelein, The Hope of the Ages; Hendriksen, More Than Conquerors; Dijk, Het Rijk der Duizend Jaren; Aalders, Het Herstel van Israel Volgens het Oude Testament; Mauro, The Gospel of the Kingdom, e The Hope of Israel; Frost, The second Coming of Christ; Reese, The Approaching Advent of Christ; Wyngaarden, The Future of the Kingdom.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

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