quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Os grandiosos eventos que precederão a segunda vinda

De acordo com a Escritura, importantes eventos deverão ocorrer antes do retorno do Senhor, e, portanto, não se lhe pode chamar iminente. À luz da Escritura, não de pode afirmar que não há eventos preditos que ainda não devam acontecer antes da segunda vinda. Como se poderia esperar em vista do que foi dito na seção anterior, Frost, a despeito do seu dispensacionalismo, rejeita a doutrina da iminência. Ele prefere falar da vinda de Cristo como “impendente”. Acha-se apoio para a doutrina da iminência da volta de Cristo nas declarações bíblicas de que Cristo virá “dentro de pouco tempo”, Hb 10.37; ou “sem demora”, Ap 22.7; nas exortações para que vigiemos e esperemos por Sua vinda, Mt 24.42; 25.13; Ap 16.15; e no fato de que a Escritura condena a pessoa que diz, “Meu Senhor demora-se” (ou, “retarda a sua vinda”), Mt 24.48. De fato Jesus ensinava que a Sua vinda estava próxima, porém isto não é o mesmo que ensinar que era iminente.
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que, ao falar de Sua vinda, Ele nem sempre está pensando na vinda escatológica. Às vezes Ele se refere à Sua vinda em poder espiritual no dia de Pentecoste; às vezes à Sua vinda em julgamento, na destruição de Jerusalém. Em segundo lugar, Ele e os apóstolos nos ensinam que terão que ocorrer vários eventos importantes antes do Seu retorno físico no ultimo dia, Mt 24.5-14, 21, 22, 29-31; 2 Ts 2.2-4. Portanto, Cristo não poderia descrever com muita propriedade a Sua vinda como iminente. Também é evidente que, quando Ele falava da Sua vinda como próxima, não tencionava retrata-la como imediatamente às portas. Na parábola dos talentos Ele ensina que o senhor dos servos voltou para ajustar contas com eles “depois de muito tempo”, Mt 25.19. e a parábola dos talentos foi contada justamente com o propósito de corrigir a noção de “que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente”, Lc 19.11. Na parábola das dez virgens se faz referência à demora do noivo – “tardando o noivo”, Mt 25.5. Isso está em harmonia com o que Paulo diz em 2 Ts 2.2. Pedro predisse surgiriam escarnecedores dizendo: “Onde está a promessa da sua vinda?” (ou, na versão utilizada pelo Autor, “onde está o dia da sua vinda?”). E ensina os seus leitores a compreenderem as predições da proximidade da segunda vinda conforme o ponto de vista divino, segundo o qual um dia é como mil anos, e mil anos como um dia, 2 Pe 3.3-9. Ensinar que Jesus considerava a segunda vinda como imediatamente às portas seria dizer que Ele errou, visto que já se passaram quase dois mil anos desde aquele tempo.
Agora, pode-se levantar a questão: Como então podemos ser concitados a velar pela vinda? Jesus nos ensina em Mt 24.32, 33 a vigiar por Sua vinda pelos sinais: “quando virdes todas estas cousas, sabei que está próximo, às portas”. Além disso, não precisamos interpretar a exortação à vigilância como uma exortação a esquadrinhar os céus em busca de sinais imediatos do aparecimento do Senhor. Antes, devemos ver nela uma admoestação para estarmos despertos, alerta, preparados, ativos na realização da obra do Senhor, para não sermos surpreendidos por repentina calamidade. Os seguintes eventos grandiosos devem preceder a vinda do Senhor.
1. O CHAMAMENTO DOS GENTIOS. Várias passagens do Novo testamento assinalam o fato de que o Evangelho do Reino deverá ser pregado a todas as nações antes da volta do Senhor, Mt 24.14; Mc 13.10; Rm 11.25. Muitas passagens atestam que os gentios entrarão no Reino em grande número, durante a nova dispensação, Mt 8.11; 13.31, 32; Lc 2.32; At 15.14; Rm 9.24-26; Ef 2.11-20, e outras passagens. Mas os textos acima indicados referem-se claramente à evangelização de todas as nações como a meta da história. Ora, dificilmente funcionará dizer que o Evangelho já foi proclamado entre todos os povos, nem tampouco que os labores de um único missionário em cada uma das nações do mundo preenchem todos os requisitos da afirmação de Jesus. Por outro lado, é igualmente impossível sustentar que as palavras do Salvador requerem a pregação do Evangelho a todos os indivíduos das diferentes nações do mundo. Contudo, eles exigem que essas nações, como nações, sejam completamente evangelizadas, de modo que o Evangelho se torne um poder na vida do povo, um sinal que reclama decisão. Deve ser pregado a elas para testemunho, para poder-se dizer que lhes foi dada uma oportunidade para se decidirem pró ou contra Cristo e Seu reino. Essas palavras implicam claramente que a grande comissão deve ser levada a cabo em todas as nações do mundo, a fim de se fazerem discípulos de todas as nações, isto é, dentre o povo de todas as nações. Todavia, elas não justificam a expectação de que todas as nações, de maneira total e completa, aceitarão o Evangelho, mas somente que se encontrarão adeptos em todas as nações e, assim, essa proclamação servirá de instrumento para chegar-se à plenitude dos gentios. No final dos tempos será possível dizer que a todas as nações foi dado conhecer o Evangelho, e o Evangelho testificará contra as nações que não o aceitaram.
Do que acima foi dito se compreenderá prontamente que muitos dispensacionalistas têm um conceito muito diferente desta matéria. Não acreditam que a evangelização do mundo precisa ser, nem que será completada antes da parousia, que é iminente. De acordo com eles, ela realmente começará naquela ocasião. Eles assinalam que o Evangelho indicado em Mt 24.14 não é o Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo, mas o Evangelho do Reino, que é completamente diferente, as boas novas de que o Reino mais uma vez está às portas. Depois que a igreja for removida deste cenário terreno, e com ela retirar-se o Espírito Santo que nela habita – o que realmente significa, após terem sido restauradas as condições do Velho Testamento – só então o Evangelho com o qual Jesus começou o seu ministério tornará a ser pregado. A princípio será pregado pelos que foram convertidos pelo própria remoção da igreja, e mais tarde, talvez por Israel convertido e um mensageiro especial, ou, particularmente durante a grande tribulação, pelo remanescente fiel de Israel. Essa pregação será maravilhosamente eficaz, muitíssimo mais eficaz que a pregação do Evangelho da graça de Deus. Será durante esse período que os 144.000 e a grande multidão que ninguém poderá contar, de Ap 7, se converterão. E dessa maneira se cumprirá a predição de Jesus registrada em Mt 24.14. Devemos lembrar que esta formulação os premilenistas mais antigos não aceitavam, e mesmo agora é rejeitada por alguns dos premilenistas atuais, e, certamente, não se recomenda a nós. A distinção entre um duplo Evangelho e uma dupla vinda do Senhor é insustentável. O Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo é o único Evangelho que salva e que dá entrada no reino de Deus. E é absolutamente contrário à história da revelação, que um regresso às condições do Velho Testamento, incluída a ausência da igreja e do Espírito santo que nela habita, seja mais eficaz que a pregação do Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo e do que o dom do Espírito Santo.
2. CONVERSÃO DO PLEROMA DE ISRAEL. Tanto o Velho Testamento como o Novo falam de uma futura conversão de Israel, Zc 12.10; 13.1; 2 Co 3.15, 16, e Rm 11.25-29 parece relacionar isto com o fim dos tempos. Os premilenistas têm explorado este ensinamento escriturístico para os seus propósitos particulares. Eles afirmam que haverá uma restauração e uma conversão nacionais de Israel, que a nação judaica será restabelecida na Terra Santa, e que isso terá lugar imediatamente antes ou durante o reino milenar de Jesus Cristo. É muito duvidoso, porém, que a Escritura dê base para a expectação de que Israel, nesses tempos finais, será restabelecido como nação,* e, como nação, se converterá ao Senhor. Algumas profecias parecem predizer isso, mas elas devem ser lidas à luz do Novo Testamento. O Novo Testamento justifica a expectação de uma futura restauração e conversão de Israel? Isto não é ensinado, nem sequer implicitamente, em passagens como Mt 19.28 e Lc 21.24, freqüentemente citadas em seu favor.
O Senhor falou com muita clareza da oposição dos judeus ao espírito do Seu reino, e da certeza de que eles, que num sentido podiam ser chamados filhos do Reino, perderiam o seu lugar nele, Mt 8.11, 12; 21.28-46; 22.1-14; Lc 13.6-9. Ele informa os judeus ímpios que o Reino será tirado deles e dado a uma nação que produz frutos dignos do Reino, Mt 21.43. E mesmo quando fala das diversas formas de corrupção que, com o correr do tempo, se insinuariam na igreja, das dificuldades que ela enfrentaria, e da apostasia que finalmente lhe sobreviria, Ele não dá a entender nenhuma prospectiva restauração e conversão do povo judeu. Este silêncio de Jesus é muito significativo. Ora, pode-se pensar que Rm 11.11-32 certamente ensina a futura conversão da nação de Israel. Muitos comentadores adotam esta idéia, mas mesmo que a corrupção dela está sujeita a considerável dúvida. Nos capítulos 9-11 o apóstolo discute a questão sobre como as promessas de Deus a Israel podem ser conciliadas com a rejeição da maior parte de Israel. Primeiramente, ele assinala nos capítulos 9 e 10 que a promessa se aplica, não a Israel segundo a carne, mas ao Israel espiritual; e, em segundo lugar, que Deus ainda tem os seus eleitos no seio de Israel, que ainda há nele um remanescente conforme a eleição da graça, 11.1-10. E mesmo o endurecimento da maior parte de Israel ainda não é o derradeiro fim para Deus, mas, antes, um meio em Suas mão para levar a salvação aos gentios, a fim de que estes, por sua vez, pelo gozo das bênçãos da salvação, provoquem a inveja de Israel. O endurecimento de Israel sempre será parcial, pois, através dos sucessivos séculos, sempre haverá alguns que aceitam o Senhor. Deus continuará reunindo os Seus eleitos remanescentes dos judeus durante toda a nova dispensação, até à plenitude (pleroma, isto é, o número total dos eleitos) dos gentios, e, assim (desta maneira), todo o Israel (seu pleroma, isto é, o número total dos verdadeiros israelitas) será salvo. “Todo o Israel” deve entender-se como um designativo, não da nação toda, mas do número total dos eleitos, do povo da antiga aliança. Os premilenistas tomam o versículo 26 no sentido de que, após Deus ter completado o Seu propósito com os gentios, a nação de Israel será salva. Mas, no início da sua discussão do assunto, disse o apóstolo que as promessas eram para o Israel espiritual; não há evidência de mudança do pensamento na seção intermediária, de sorte que esta viria como uma surpresa em 11.26; e o advérbio houtos não pode significar “depois disso”, mas unicamente “desta maneira” (“assim”). Com a plenitude dos gentios se entraria também na plenitude de Israel.
3. A GRANDE APOSTASIA E A GRANDE TRIBULAÇÃO. Estas duas podem ser mencionadas juntas, porque estão entrelaçadas no discurso escatológico de Jesus, Mt 24.9-12, 21-24; Mc 13.9-22; Lc 21.22-24. As palavras de Jesus indubitavelmente encontraram cumprimento parcial nos dias que precederam a destruição de Jerusalém, mas é evidente que terão cumprimento maior no futuro, numa tribulação que sobrepujará tudo quanto já foi experimentado, Mt 24.21; Mc 13.19. Paulo também fala da grande apostasia em 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5. Ele já via algo desse espírito de apostasia em seus próprios dias, mas se vê claramente que ele quer calcar em seus leitores que essa apostasia assumirá proporções muito maiores nos últimos dias.
Aqui, de novo, os dispensacionalistas dos dias presentes divergem de nós. Eles não consideram a grande tribulação como precursora da vinda de Jesus (paousia), mas acreditam que se dará em seguida à “vinda” e que, portanto, a igreja não passará pela grande tribulação. O que supõem é que a igreja será “arrebatada” para estar com o Senhor, antes de sobrevir a tribulação, com todos os seus terrores, aos habitantes da terra. Eles preferem falar da grande tribulação como “o dia da aflição de Jacó”, visto que será um dia de grande angústia para Israel, e não para a Igreja. Mas os fundamentos que eles aduzem para este conceito não são muito convincentes. Alguns deles extraem toda força que podem da sua própria noção preconcebida de uma dupla segunda vinda de Cristo, e, portanto, não tem nenhum sentido para os que estão convictos de que não há prova dessa dupla vinda na Escritura.
Jesus, por certo, menciona a grande tribulação como um dos sinais da Sua vinda e do fim do mundo, Mt 24.3. É dessa vinda (parousia) que Ele está falando através de todo esse capítulo, como se pode ver pelo emprego repetido da palavra paurosia, versículos 3,37, 39. É simplesmente razoável supor que Ele está falando da mesma vinda no versículo 29, vinda que se seguirá imediatamente à tribulação. Essa tribulação afetará os eleitos também: correrão perigo de extraviar-se, Mt 24.24; por amor deles esses dias serão abreviados, versículo 22; serão reunidos dos quatro cantos do mundo por ocasião da vinda do Filho do homem, vers. 31; e serão encorajados a erguer as cabeças quando virem acontecer essas coisas, visto estar próxima a sua redenção, Lc 21.28. Não há base para limitar esses eleitos de Israel, como fazem os premilenistas. Paulo descreve claramente a grande apostasia como anterior à segunda vinda, 2 Ts 2.3, e lembra a Timóteo o fato de que tempos difíceis sobrevirão nos últimos dias, 1 Tm 4.1, 2; 2 Tm 3.1-5. Em Ap 7.13, 14 se diz que os santos no céu saíram da grande tribulação, e em Ap 6.9 vemos esses santos orando por seus irmãos que ainda estavam sofrendo perseguição.
4. A FUTURA REVELAÇÃO DO ANTICRISTO. O termo antichristos só se encontra nas epístolas de João, a saber, em 1 Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo 7. No que se refere à forma da palavra, ela pode descrever (a) alguém que toma o lugar de Cristo, neste caso, “anti” é entendido no sentido de “em lugar de”; ou (b) alguém que, embora assumindo a aparência de Cristo, opõe-se a Ele; neste caso, “anti” é empregado no sentido de “contra”. Este último está em maior harmonia com o contexto em que ocorre a palavra. Pelo fato de João empregar o singular em 2.18 sem artigo, fica evidente que o termo “anticristo” já era considerado um nome técnico. É incerto se, ao usar o singular, João tinha em mente um Anticristo superior ou supremo, do qual os outros a que se refere eram apenas precursores, ou se simplesmente quis personificar o princípio incorporado em diversos anticristos, o princípio do mal militando contra o reino de Deus. É evidente que o anticristo representa um certo princípio, 1 Jo 4.3. Se tivermos isto em mente, perceberemos que, embora João tenha sido o primeiro a empregar o termo “anticristo”, o princípio ou espírito indicado por esse termo é claramente mencionado em escritos anteriores. Assim como há na Escritura um desenvolvimento claramente assinalado no delineamento de Cristo e do reino de Deus, também há uma revelação progressiva do anticristo. As representações diferem, mas vão se tornando cada vez mais definidas, conforme avança a revelação de Deus.
Na maioria dos profetas do Velho Testamento vemos o princípio da injustiça operando nas nações ímpias que se mostram hostis para com Israel e são julgadas por Deus. Na profecia de Daniel vemos algo mais específico. A linguagem ali empregada forneceu muitas características da descrição que Paulo faz do homem do pecado em 2 Tessalonicenses. Daniel vê o ímpio, iníquo, encarnado no “pequeno chifre”, Dn 7.8, 23-26, e o descreve com muita clareza em 11.35 e segtes. Ali, nem mesmo o elemento pessoal está faltando, conquanto não seja inteiramente certo que o profeta está pensando nalgum rei particular, a saber, em Antíoco Epifânio, como um tipo de Anticristo. Naturalmente, a vinda de Cristo revela esse princípio em sua forma especificamente anticristã, e Jesus o descreve como encarnado em várias pessoas. Ele fala dos pseudoprophetai e dos pseudichristoi, que tomam posição contra Ele e contra o Seu reino, Mt 7.15; 24.5, 24; Mc 13.21, 22; Lc 17.23. Com o fim de corrigir o conceito errôneo dos tessalonicenses, Paulo chama a atenção para o fato de que o dia de Cristo não pode vir “sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição”. Ele descreve esse homem do pecado como aquele que “se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”, 2 Ts 2.3, 4. Esta descrição nos lembra Dn 11.36 e segtes., e claramente aponta para o Anticristo. Não há boa razão para duvidar da identidade do homem da iniqüidade (ou do pecado) de que fala Paulo, com o Anticristo mencionado por João. O apóstolo Paulo vê “o ministério da iniqüidade” já em ação, mas garante aos seus leitores que o homem da iniqüidade não poderá vir enquanto não for afastado do caminho aquilo ou “aquele que” o detém. Quando esse obstáculo, seja este qual for (há várias interpretações), for retirado, aparecerá o homem do pecado “segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira”, versículos 7-9. Nesse capítulo o elemento pessoal é pressuposto do começo ao fim. O Livro de Apocalipse encontra o princípio ou poder anticristão nas duas bestas que saíram do mar e da terra, Ap. 13. Geralmente se pensa que a primeira se refere a governos, poderes políticos, ou a algum império mundial; a segunda, embora não com a mesma unanimidade, à religião falsa, à falsa profecia e à falsa ciência, particularmente às duas primeiras. A este princípio oponente, ou de oposição, João chama finalmente Anticristo, em suas epístolas.
Historicamente, há diferentes opiniões a respeito do Anticristo. Na igreja antiga, muitos afirmavam que o Anticristo seria um judeu com a pretensão de ser o Messias e governando em Jerusalém. Muitos comentadores são de opinião que Paulo e outros pensavam, equivocadamente, que um imperador romano seria o Anticristo, e, de que, evidentemente, João tinha Nero em mente, ao escrever Ap 13.18, visto que as letras das palavras hebraicas para “imperador Nero” equivalem exatamente a 666, em Ap 13.18. Desde os tempos da Reforma, muitos, entre os quais também eruditos reformados (calvinistas), consideravam a Roma papal e, nalguns casos, até mesmo algum papa em particular, como Anti-Cristo. E, na verdade, o papado revela várias características do Anticristo, como este vem descrito na Escritura. Todavia, dificilmente poderíamos identifica-lo com o Anticristo. É melhor dizer que há elementos do Anticristo no papado. Positivamente, só podemos dizer: (a) que o espírito anticristão já estava em ação nos dias de Paulo e de João, segundo o próprio testemunho deles; (b) que ele alcançará o seu poder supremo nas proximidades do fim do mundo; (c) que Daniel retrata a sua faceta política, Paulo a eclesiástica, e João, em Apocalipse, retrata ambas as facetas: ambas podem ser revelações sucessivas do poder anticristão; (d) que, provavelmente, esse poder afinal se concentrará num só indivíduo, vindo a ser a encarnação da iniqüidade.
A questão do caráter pessoal do Anticristo ainda está sujeita a debate. Alguns afirmam que as expressões “anticristo”, “homem da iniqüidade” (ou “do pecado”), “o filho da perdição”, e as figuras de Daniel e de Apocalipse são apenas descrições do princípio ímpio e anticristão, que se manifesta na oposição do mundo a Deus e a Seu reino, através de toda a história desse reino, oposição ora mais fraca, ora mais forte, mas ainda mais forte nas proximidades do fim dos tempos. Eles não estão em busca de nenhum Anticristo pessoal. Outros acham que é contrário à Escritura falar do Anticristo meramente como um poder abstrato. Estes sustentam que tal interpretação não faz justiça aos dados da Escritura, que não somente fala de um espírito abstrato, mas também de pessoas reais. Segundo eles, “Anticristo” é um conceito coletivo, o designativo de uma sucessão de pessoas a manifestar um espírito ímpio ou anticristão, tais como os imperadores romanos que perseguiram a igreja e os papas que se engajaram numa similar obra de perseguição. Mesmo estes não pensam num Anticristo pessoal que será em si mesmo a concentração de toda a iniqüidade. Contudo, a opinião mais geral no seio da igreja é que, em última análise, o termo “Anticristo” denota uma pessoa escatológica, que será a encarnação de toda a iniqüidade e, portanto, representa um espírito que sempre está presente no mundo, ora mais, ora menos, e que tem diversos precursores ou tipos na história. Este conceito prevaleceu na Igreja Primitiva e, ao que parece, é o conceito escriturístico. Pode-se dizer o seguinte, em seu favor: (a) O esboço do Anticristo em Dn 11 é mais ou menos pessoal, e pode referir-se a uma pessoa definida como um tipo de Anticristo. (b) Paulo fala do Anticristo como “o homem da iniqüidade” e como “o filho da perdição”. Devido ao peculiar emprego hebraico dos termos “homem” e “filho”, estas expressões , em si mesmas, podem não ser conclusivas, mas o contexto favorece a idéia de pessoa. Ele se levanta contra, ostenta-se como se fora Deus, tem uma revelação definida, é o iníquo, e assim por diante. (c) Embora João fale de muitos anticristos como já presentes, fala também do Anticristo no singular, como alguém que ainda virá no futuro, 1 Jo 2.18. (d) Mesmo no Livro de Apocalipse, onde a apresentação é grandemente simbólica, não falta o elemento pessoal, como por exemplo, em Ap 19.20, que fala do Anticristo e seu subordinado como sendo lançados no lago de fogo. E (e), desde que Cristo é uma pessoa, é simplesmente natural entender que o Anticristo também será uma pessoa.
5. SINAIS E PRODÍGIOS. A Bíblia fala de vários sinais que precederão o fim do mundo e a vinda de Cristo. Ela menciona (a) guerras e rumores de guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, coisas descritas como o princípio das dores de parto, sendo que o parto é, por assim dizer, o renascimento do universo por ocasião da vinda de Cristo; (b) a vinda de falsos profetas, que levarão muitos a desviar-se, e de falsos Cristos, que exibirão grandes sinais e prodígios para desencaminhar, se possível, até os eleitos; e (c) terríveis portentos nos céus, envolvendo o sol, a lua e as estrelas, quando os poderes dos céus serão abalados, Mt 24.29, 30; Mc 13.24, 25; Lc 21.25,26. Dado que alguns desses sinais são tais que ocorrem repetidamente na ordem natural dos acontecimentos, surge naturalmente a questão sobre como poderão ser reconhecidos como sinais especiais do fim. Geralmente se chama a atenção para o fato de que eles serão diferentes das ocorrências anteriores em intensidade e extensão. Mas, por certo, isso não satisfaz inteiramente porque os que vêem esses sinais nunca poderão saber, se não houver outras indicações, se aos sinais que estão testemunhando não se seguirão outros sinais parecidos, de ainda maior extensão e intensidade. Portanto, deve-se chamar a atenção para o fato de que, ao se aproximar o fim, haverá uma extraordinária conjunção de todos esses sinais, e de que as ocorrências naturais serão acompanhadas por fenômenos sobrenaturais, Lc 21.25,26. Disse Jesus: “quando virdes todas estas cousas, sabei que está próximo, às portas”. Mt 24.33.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

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