segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Natureza da Ressurreição

1. É OBRA DO DEUS TRIÚNO. A ressurreição é obra realizada pelo Deus triúno. Nalguns casos se nos diz simplesmente que Deus ressuscita os mortos, sem se especificar pessoa alguma, Mt 22.29; 2 Co 1.9. Mais particularmente, porém, a obra da ressurreição é atribuída ao Filho, Jo 5.21, 25, 28, 29; 6.38-40, 44, 54; 1 Ts 4.16. Indiretamente, também é apontada como obra realizada pelo Espírito Santo, Rm 8.11.
2. É RESSURREIÇÃO FÍSICA, OU CORPORAL. Nos dias de Paulo havia alguns que consideravam a ressurreição como espiritual, 2 Tm 2.18. E nos dias atuais há muitos que só acreditam numa ressurreição espiritual. Mas a Bíblia é muito explicita ao ensinar a ressurreição do corpo. Cristo é chamado “primícias” da ressurreição, 1 Co 15.20, 23 e “o primogênito de entre os mortos”. Cl 1.18; Ap 1.5. Isto implica que a ressurreição do povo de Deus será semelhante à do seu celestial Senhor. Sua ressurreição foi corporal, e a dos Seus será da mesma natureza. Além disso, também se diz que a ressurreição realizada por Cristo inclui o corpo, Rm 8.23; 1 Co 6.13-20. Em Rm 8.11 se nos diz explicitamente que Deus, por Seu Espírito, ressuscitará nossos corpos mortais. E evidentemente é o corpo que está proeminentemente na mente do apóstolo em 1 Co 15; cf. especialmente os versículos 35-49.
Segundo a Escritura, haverá uma ressurreição do corpo, isto é, não uma criação inteiramente nova, mas um corpo que será, num sentido fundamental, idêntico ao corpo atual. Deus não vai criar um novo corpo para cada ser humano, mas vai ressuscitar o próprio corpo que foi depositado na terra. Sito se pode inferir apenas do termo “ressurreição”, mas é declarado expressamente em Rm 8.11 e 1 Co 15.53, e ademais está implícito na figura da semente semeada no solo, figura que o apostolo emprega em 1 Co 15.36-68. Além disso, Cristo, as primícias da ressurreição, prova conclusivamente a identidade do Seu corpo aos Seus discípulos. Ao mesmo tempo, a Escritura deixa perfeitamente evidente que o corpo passará por grande mudança. O corpo de Cristo ainda não fora plenamente glorificado durante o período de transição entre a ressurreição e a ascensão; contudo, já sofrera notável transformação. Paulo se refere à transformação que terá lugar, quando diz que ao semearmos a semente, não semeamos o corpo que virá a existir; não tencionamos retirar a mesma semente da terra. Todavia, esperamos colher uma coisa que, no sentido fundamental, é idêntica à semente depositada no solo. Conquanto haja uma certa identidade entre a semente semeada e as sementes que dela se desenvolvem, todavia há também uma diferença notável. Nós seremos transformados, diz o apóstolo, “porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade”. Também diz: “Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual”. Transformação não é incoerente com retenção da identidade. É-nos dito que, mesmo agora, cada partícula dos nossos corpos muda a cada sete anos, mas, ao passar por isso tudo, o corpo conserva a sua identidade. Haverá certa conexão física entre o corpo antigo e o novo, mas não nos é revelada a natureza dessa conexão. Alguns teólogos falam num germe remanescente do qual se desenvolve o novo corpo; outros dizem que o princípio organizador do corpo permanece. Orígenes tinha algo dessa espécie em mente; a mesma coisa Kuyper e Milligan. Se tivermos tudo isso em mente, a antiga objeção contra a doutrina da ressurreição, a saber, que é impossível que um corpo ressuscite com as mesmas partículas que o constituíam na ocasião de sua morte, visto que essas partículas passam para outras formas de existência, e talvez para centenas de outros corpos, perde completamente a sua força.
3. É RESSURREIÇÃO DOS JUSTOS E DOS ÍMPIOS. De acordo com Josefo, os fariseus negavam a ressurreição dos ímpios. A doutrina do extincionismo e a da imortalidade condicional, ambas as quais, ao menos nalgumas de suas formas, negam a ressurreição dos ímpios e ensinam a sua aniquilação, doutrina abraçada por muitos teólogos, também encontrou guarida em seitas como o adventismo e a “aurora do milênio”. Acreditam na extinção total dos ímpios. Às vezes se faz a asserção de que a Escritura não ensina a ressurreição dos ímpios, mas isso é patentemente errôneo, Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15; Ap 20.13-15. Ao mesmo tempo, deve-se admitir que a ressurreição deles não ocupa lugar proeminente na Escritura. Claramente se vê que o aspecto soteriológico da ressurreição está em primeiro plano, e esta pertence unicamente aos justos. Estes, em contraste com os ímpios, são os únicos que tirarão proveito da ressurreição.
4. É RESSURREIÇÃO DE IMPORTÂNCIA DESIGUAL PARA OS JUSTOS E PARA OS INJUSTOS. Breckenridge cita 1 Co 15.22 para provar que a ressurreição de santos e de pecadores foi adquirida por Cristo. Mas, dificilmente se pode negar que o segundo “todos” nessa passagem só é geral no sentido de “todos os que estão em Cristo”. A ressurreição é ali descrita como resultante de uma união vital com Cristo. Mas, certamente, só os crentes estão nessa relação viva com Ele. A ressurreição dos ímpios não pode ser considerada como uma bênção merecida pela obra mediatária de Cristo, embora esteja relacionada indiretamente com ela. É um resultado necessário da posposição da execução da sentença de morte dada ao homem, o que tornou possível a obra de redenção. A posposição resultou na relativa separação entre a morte temporal e a morte eterna, e na existência de um estado intermediário. Sob estas circunstâncias, é necessário ressuscitar os ímpios dos mortos, a fim de que a morte, em sua máxima extensão e com todo o seu peso, lhes possa ser imposta. Sua ressurreição não é um ato de redenção, mas, sim, de soberana justiça, da parte de Deus. A ressurreição dos justos e dos injustos tem isto em comum – que em ambos os casos os corpos e as almas são reunidas. Mas, no caso daqueles,
isso resulta na vida perfeita, ao passo que no caso destes, redunda na extrema penalidade da morte, Jo 5.28, 29.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Nenhum comentário:

Postar um comentário