sábado, 22 de setembro de 2012

CONCEITOS ERRÔNEOS A RESPEITO DO JULGAMENTO

1. JUÍZO PURAMENTE METAFÓRICO. De acordo com Schleiermacher e muitos outros eruditos alemães, as descrições bíblicas do juízo final devem ser entendidas como indicações simbólicas do fato de que o mundo e a igreja finalmente se separarão. Esta explicação serve para fazer evaporar toda a idéia de um julgamento forense quanto à determinação pública do estado final do homem. É uma explicação que certamente não faz justiça às vigorosas afirmações da escritura a respeito do juízo final, de que será uma declaração formal, publica e final.
2. JUÍZO EXCLUSIVAMENTE IMANENTE. A máxima de Schelling, de que “a história do mundo é o julgamento do mundo”, sem dúvida contém um elemento de verdade. Como acima foi assinalado, há manifestações da justiça retributiva de Deus na história das nações e dos indivíduos. As recompensas e os castigos podem ser de caráter positivo, ou podem ser o resultado do bem ou do mal praticado. Mas quando muitos eruditos “liberais” afirmam que o julgamento divino é totalmente imanente e é inteiramente determinado pela ordem moral do mundo, certamente não fazem justiça às apresentações da Escritura. A idéia que eles têm do juízo como “agindo por si mesmo” faz de Deus um ser ocioso, que apenas vê e aprova a distribuição de recompensas e castigos. Destrói completamente a idéia do juízo como um evento externo e visível a ocorrer nalgum tempo definido do futuro. Além disso, esse conceito não pode satisfazer os anseios do coração humano pela justiça perfeita. Os juízos históricos são sempre e somente parciais, e às vezes são aos homens a impressão de serem disfarces da justiça. Sempre houve e ainda há ocasião para a perplexidade de Jó e de Asafe.
3. O JUÍZO NÃO SERÁ UM SÓ EVENTO. Os premilenistas dos nossos dias falam de três diferentes juízos futuros. Eles distinguem: (a) Um juízo para os santos ressurretos e para os santos vivos, quando da parousia ou da vinda do Senhor, para vindicação pública dos santos, para dar recompensa a cada um segundo as suas obras e para determinar os seus respectivos lugares no reino milenar vindouro. (b) Um juízo por ocasião da revelação de Cristo (no dia do senhor), imediatamente após a grande tribulação, no qual, conforme o conceito predominante, as nações gentílicas serão julgadas como nações, de acordo com a atitude que elas assumiram para com o evangelizante remanescente de Israel (os irmãos menores do Senhor). A entrada dessas nações no reino dependerá do resultado do julgamento. Este é o juízo mencionado em Mt 25.31-46. estará separado do anterior por um período de sete anos. (c) Um julgamento dos ímpios mortos, perante o grande trono branco descrito em Ap 20.11-15. Os mortos serão julgados segundo as suas obras, e estas determinarão o grau da punição que eles receberão. Este juízo ocorrerá mais de mil anos depois do juízo das nações.
Devemos notar, porém, que a Bíblia sempre fala do juízo futuro com um só evento. Ela nos ensina a aguardar, não dias, mas o dia do juízo, Jo 5.28, 29; At 17.31; 2 Pe 3.7, também chamado “aquele dia”, Mt 7.22; 2 Tm 4.8, e “o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”, Rm 2.5. Os premilenistas sentem a força deste argumento, pois replicam que esse pode ser um dia de mil anos. Além disso, há passagens da escritura que evidenciam abundantemente que os justos e os ímpios comparecerão juntos no juízo para uma separação final, Mt 7.22, 23; 25.31-46; Rm 2.5-7; Ap 11.18; 20.11-15. Ademais, deve-se notar que o julgamento dos ímpios é descrito como um concomitante da parousia e também da revelação, 2 Ts 1.7-10; 2 Pe 3.4-7. E, finalmente, deve-se ter em mente que Deus não julga as nações como nações quando estão em jogo questões eternas, mas somente indivíduos; e que uma separação final dos justos e dos ímpios não tem a menor possibilidade de ser feita antes do fim do mundo. É difícil ver como alguém pode fazer uma interpretação tolerável e coerente de Mt 25.31-46, a não ser partindo do pressuposto de que o juízo a que o texto se refere é o juízo universal de todos os homens, e de que estes serão julgados, não como nações, mas como indivíduos. Até Meyer e Alford, eles próprios premilenistas, consideram que esta é a única explanação sustentável.
4. O JUÍZO FINAL É DESNECESSÁRIO. Alguns consideram inteiramente desnecessário o juízo final, porque o destino de cada ser humano é determinado na hora da sua morte. Se um homem dormir firmado em Jesus, estará salvo; se morrer em seus pecados, estará perdido. Desde que a questão está resolvida, não é necessário fazer-se mais um inquérito judicial, e, portanto, um juízo final é completamente supérfluo. Mas a certeza do juízo futuro não depende da nossa concepção de sua necessidade. Deus nos ensina claramente em Sua palavra que haverá um juízo final, e isto põe fim à questão para todos os que reconhecem a Bíblia como o padrão final da fé. Além disso, o pressuposto subjacente, do qual procede o argumento, a saber, que o juízo final tem o propósito de definir qual seria o estado futuro do homem, é inteiramente errôneo. Seu propósito é, antes, expor diante de todas as criaturas racionais a glória declarativa de Deus num ato formal e forense que, por um lado, engrandecerá a Sua santidade e justiça, e, por outro lado, engrandecerá a Sua graça e misericórdia. Ademais, devemos ter em mente que o juízo do ultimo dia será diferente daquele que ocorre na morte de cada indivíduo em mais de um aspecto. Não será secreto, mas público; não terá referência a um só individuo, mas a todos os homens.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Nenhum comentário:

Postar um comentário