quinta-feira, 17 de julho de 2014

A Igreja versus o Mundo

Irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos
odeia. (1Jo 3.13)
Por que os evangélicos tentam tão desesperadamente
cortejar o favor do mundo? As igrejas planejam seus cultos
de adoração para servir aos "sem-igreja". Os produtores
cristãos imitam a coqueluche mundana do momento em
termos de música e entretenimento. Os pregadores se sentem
aterrorizados de que a ofensa do evangelho possa fazer
alguém se voltar contra eles; então deliberadamente omitem
partes da mensagem que o mundo pode não se agradar.
O movimento evangélico parece ter sido sabotado por
legiões de falsos especialistas mundanos que estão
empenhados em tentar fazer o melhor que podem para
convencer o mundo de que a igreja pode ser tão inclusiva,
pluralista e de mente aberta quanto a mais politicamente
correta pessoa mundana.
A busca pela aprovação do mundo é nada mais, nada
menos que adultério espiritual. Na verdade, isto é
precisamente a imagem que o apóstolo Tiago usou para
descrevê-la. Ele escreveu, "Infiéis [NKN: "adúlteros e
adúlteras"], não compreendeis que a amizade do mundo é
inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do
mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4).
Existe e sempre existiu uma incompatibilidade
fundamental, irreconciliável entre a igreja e o mundo. O
pensamento cristão é totalmente desarmônico com todas as
filosofias da História. A fé genuína em Cristo implica numa
negação de todo valor mundano. A verdade bíblica contradiz
todas as religiões do mundo.
O próprio Cristianismo é, portanto, virtualmente
contrário a tudo o que este mundo admira.
Jesus disse a seus discípulos, "Se o mundo vos odeia,
sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se
vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhei,
por isso, o mundo vos odeia" (Jo 15.18,19).
Observe que o nosso Senhor considerou como certo que
o mundo desprezaria a igreja. Longe de ensinar a seus
discípulos a que tentassem ganhar o favor do mundo,
reinventando o evangelho para se adequar às suas
preferências, Jesus expressamente advertiu que a busca
pelas aclamações mundanas é uma característica dos falsos
profetas: "Ai de vós, quando todos vos louvarem' Porque
assim procederam seus pais com os falsos profetas" (Lc 626).
Ele foi mais longe, "Não pode o mundo odiar-vos, mas a
mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de
que as suas obras são más" (Jo 7.7). Em outras palavras, o
desprezo do mundo pelo Cristianismo deriva de motivos
morais, não intelectuais: "O julgamento é este: que a luz veio
ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz;
porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica
o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não
serem argüidas as suas obras" (Jo 3.19,20). É por esta razão
que, não importa quão dramaticamente a opinião do mundo
possa vir a variar, a verdade cristã não será jamais popular
ao mundo.
Contudo, virtualmente em toda época da história da
igreja, tem havido gente na igreja que está convencida de que
a melhor maneira de ganhar o mundo é satisfazer os seus
gostos. Tal tipo de abordagem tem sempre sido em detrimento
da mensagem do evangelho. As únicas vezes que
igreja causou impacto significativo sobre o mundo foi quando
o povo de Deus permaneceu firme, se recusou a compactuar
e ousadamente proclamou a verdade apesar da hostilidade do
mundo. Quando os cristãos se desviam da tarefa de
confrontar os enganos do mundo com as impopulares
verdades bíblicas, a igreja invariavelmente perde sua
influência e impotente se mescla ao mundo. Tanto as Escrituras
quanto a História atestam esse fato.
E a mensagem cristã simplesmente não pode ser torcida
para se conformar com a instabilidade da opinião do mundo.
A verdade bíblica é fixa e constante, não sujeita a mudança
ou adaptação.
A opinião do mundo, por outro lado, está sempre em
fluxo constante. Os vários modismos e filosofias mudam
radicalmente e regularmente de geração para geração. A
única coisa que permanece constante no mundo é seu ódio
por Cristo e seu evangelho.
Ao que tudo indica, o mundo não abraçará por muito
tempo qualquer das ideologias que estão atualmente em
voga. Se a História servir como indicador, quando nossos
netos se tomarem adultos a opinião do mundo terá sido
dominada por um sistema completamente novo de crenças e
um conjunto de valores totalmente diferente. A geração de
amanhã renunciará a todas os modismos e filosofias de hoje,
mas urna coisa permanecerá imutável: até que o Senhor
mesmo volte, seja qual for a ideologia que ganhe
popularidade no mundo, ela será tão hostil às verdades
bíblicas corno o foram todas as precedentes
MODERNISMO
Pense no que aconteceu no século passado, por
exemplo. Cem anos atrás a igreja estava ameaçada pelo
modernismo.
Modernismo era urna cosmovisão baseada na noção de
que somente a ciência podia explicar a realidade. O
modernista, com efeito, começou com a pressuposição de que
nada sobrenatural é real.
Deveria ter ficado instantaneamente óbvio que o
modernismo e o Cristianismo eram incompatíveis no nível
mais básico. Se nada sobrenatural era real, então grande
parte da Bíblia seria falsa e sem autoridade; a encarnação de
Cristo seria um mito (anulando a autoridade de Cristo
também); e todos os elementos sobrenaturais do
Cristianismo, incluindo o próprio Deus, teriam de ser
totalmente redefinidos em termos naturalistas. O
modernismo foi anticristão até à sua medula.
Não obstante, a igreja visível no começo do século 20
ficou cheia de gente que estava convencida de que
modernismo e Cristianismo podiam e deviam ser conciliados.
Eles insistiam que se a igreja não acompanhasse o passo
com dos tempos, abraçando o modernismo, o Cristianismo
não sobreviveria ao século 20. A igreja se tornaria
paulatinamente irrelevante para o povo moderno, eles diziam,
e logo desapareceria. Assim sendo, eles inventaram um
"evangelho social" desprovido do verdadeiro evangelho da
salvação.
Naturalmente, o Cristianismo bíblico sobreviveu o século
20 muito bem, obrigado. Nos lugares onde os cristãos
permaneceram comprometidos com a verdade e autoridade
das Escrituras, a igreja floresceu, mas, ironicamente, aquelas
igrejas e denominações que abraçaram o modernismo foram
as que se tornaram pouco a pouco irrelevantes e
desapareceram antes do fim do século. Muitos edifícios de
pedra, grandiosos, mas quase vazios, dão testemunho da
fatalidade da conformação com o modernismo.
POS-MODERNISMO
O modernismo é agora considerado como um modo de
pensar do passado. A cosmovisão dominante tanto no círculo
secular quanto no acadêmico atualmente é chamada de pósmodernismo.
Os pós-modernistas têm repudiado a confiança
absoluta dos modernistas na ciência como único caminho
para a verdade.
Na realidade os pós-modernistas perderam
completamente o interesse pela "verdade", insistindo que não
existe tal coisa como verdade absoluta ou universal.
O modernismo era de fato asneira e precisava ser
abandonado, mas o pós-modernismo é um passo trágico na
direção errada. Ao contrário do modernismo, que estava
ainda preocupado com a possibilidade de convicções básicas,
crenças e ideologias serem objetivamente verdadeiras ou
falsas, o pós-modernismo simplesmente nega que qualquer
verdade possa ser objetivamente conhecida.
Para o pós-modernista a realidade é o que o indivíduo
imagina que seja. Isso significa que o que é "verdadeiro" é
determinado subjetivamente por cada um, e não existe tal
coisa como a chamada verdade objetiva, com autoridade que
governa ou se aplica universalmente a toda humanidade. O
pós-modernista acredita naturalmente que não faz sentido
debater se a opinião A é superior à opinião B. No final de
contas, se a realidade é meramente uma invenção da mente
humana a perspectiva de verdade de uma pessoa é afinal tão
boa quanto a de outra.
Tendo desistido de conhecer a verdade objetiva, o pósmodernista
se ocupa em lugar disso, com a busca para
"entender" o ponto de vista da outra pessoa. Então as
palavras "verdade" e "compreensão" tomam significados
radicalmente novos. Ironicamente, "compreensão" requer que
primeiro de tudo desacreditemos na possibilidade de
conhecer qualquer verdade afinal. E "verdade" se torna nada
mais do que uma opinião pessoal, geralmente melhor
guardada para si mesmo.
Essa é uma exigência essencial, não negociável que o
pós-modernismo faz a todo mundo: nós não devemos pensar
que conhecemos qualquer verdade objetiva. Os pósmodernistas
freqüentemente sugerem que toda opinião
deveria receber igual respeito. E, portanto, numa visão
superficial, o pós-modernismo parece movido por uma
preocupação pela mente aberta para se chegar à harmonia e
tolerância. Tudo soa muito caridoso e altruísta, mas o que
realmente sublinha o sistema de crenças pós-modernistas é
uma intolerância total por toda cosmovisão que faça
alegações de qualquer verdade universal particularmente o
Cristianismo bíblico.
Em outras palavras, o pós-modernismo começa com
uma pressuposição que é irreconciliável com a verdade
objetiva, divinamente revelada nas Escrituras. Da mesma
forma que o modernismo, o pós-modernismo é fundamental e
diametralmente oposto ao evangelho de Jesus Cristo.
PÓS-MODERNISMO E A IGREJA
Não obstante, a igreja atualmente está cheia de gente
que advoga idéias pós-modernistas. Alguns deles fazem isso
consciente e deliberadamente, mas a maioria o faz sem
querer (Tendo embebido demasiado do espírito dos tempos,
eles estão simplesmente regurgitando opiniões do mundo). O
movimento evangélico como um todo, ainda se recuperando
de sua longa batalha contra o modernismo, não está
preparado para um adversário novo e diferente. Muitos
cristãos, portanto, não reconheceram ainda o perigo extremo
colocado pelo pensamento pós-modernista.
A influência pós-modernista claramente já infecta a
igreja. Os evangélicos estão baixando o tom da sua
mensagem para que as rígidas alegações de verdades do
evangelho não soem tão desagradáveis aos ouvidos pósmodernos.
Muitos evitam fazer afirmações inequívocas de
que a Bíblia é verdadeira e todos os outros sistemas
religiosos do mundo são falsos. Alguns que se intitulam
cristãos foram ainda mais longe, determinadamente negando
a exclusividade de Cristo e abertamente questionando sua
alegação de ser ele o único caminho para Deus.
A mensagem bíblica é clara. Jesus disse, "Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão
por mim" (Jo 14.6). O apóstolo Pedro proclamou a uma
audiência hostil, " ... não há salvação em nenhum outro;
porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado
entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At
4.12). O apóstolo João escreveu, " . quem crê no Filho tem a
vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho
não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo
3.36). Repetidas vezes as Escrituras enfatizam que Jesus
Cristo é a única esperança de salvação para o mundo. " ... há
um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem" (1Tm 2.5). Somente Cristo pode expiar
pecados e, portanto, somente Cristo pode dar salvação. " ... o
testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta
vida está no seu Filho. “Aquele que tem o Filho tem a vida;
aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1Jo
5.11,12).
Essas verdades são contrárias à doutrina central do
pós-modernismo. Elas fazem alegações de verdade
exclusivas, universais, declarando ser Cristo o único
caminho para o céu e errôneos todos os outros sistemas de
crença. Isto é o que as Escrituras ensinam. É o que a igreja
verdadeira tem proclamado ao longo de toda sua história. É a
mensagem do Cristianismo. E simplesmente não pode ser
ajustado para acomodar as sensibilidades pós-modernas. Em
vez disso, muitos cristãos simplesmente vão passando por
cima das alegações exclusivas de Cristo, debaixo de um
silêncio constrangedor. Pior ainda, alguns na igreja —
incluindo alguns dos mais conhecidos lideres evangélicos —
começaram a sugerir que talvez o povo possa ser salvo fora
do conhecimento de Cristo.
Os cristãos não podem capitular ao pós modernismo
sem sacrificar a essência da nossa fé. A alegação da Bíblia de
que Cristo é o único caminho da salvação está certamente em
desarmonia com a noção pós-moderna de "tolerância", mas é,
no final de contas, exatamente o que a Bíblia claramente
ensina. E a Bíblia, não a opinião pós-moderna, é a
autoridade suprema para o cristão. Somente a Bíblia deve
determinar o que nós cremos e proclamar isso ao mundo.
Nós não podemos abrir mão disso, não importa quanto o
mundo pós-modernista reclame que nossas crenças fazem de
nós pessoas "intolerantes".
TOLERÂNCIA INTOLERANTE
A veneração da tolerância pelo pós-modernista é uma
característica óbvia, mas essa versão da "tolerância" é, na
verdade, uma distorção perigosa da verdadeira virtude. Aliás,
tolerância nunca é mencionada na Bíblia como uma virtude,
exceto no sentido de paciência, longanimidade e mansidão
(ver Ef 4.2). De fato, a noção contemporânea de tolerância é
um conceito pateticamente fraco comparado ao amor que as
Escrituras ordenam aos cristãos que mostrem aos seus
inimigos. Jesus disse, "amai os vossos inimigos, fazei o bem
aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai
pelos que vos caluniam" (Lc 6.27,28; confira os versículos 29-
36).
Quando nossos avós falaram de tolerância como uma
virtude, eles tinham isso em mente. A palavra então
significava respeitar as pessoas e tratá-las com bondade
mesmo quando acreditamos que elas estão erradas, mas a
noção pós moderna de tolerância significa que nós nunca
devemos considerar a opinião de ninguém como errada. A
tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância pósmoderna
é para idéias.
Aceitar toda crença como igualmente válida dificilmente
é uma virtude real, mas é praticamente o único tipo de
virtude que o pós-modernismo conhece. As virtudes
tradicionais (incluindo humildade, domínio próprio e
castidade) são abertamente zombadas e até mesmo
consideradas como transgressões, no mundo do pósmodernismo.
Previsivelmente a beatificação da tolerância pósmoderna
tem tido seus efeitos desastrosos sobre a verdadeira
virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de tolerância, o
que era proibido passou a ser encorajado. O que era tido
como imoral é agora festejado. Infidelidade marital e divórcio
foram normalizados. Impureza é o lugar comum. Aborto,
homossexualidade e perversões morais de todos os tipos são
aclamados por grandes grupos e entusiasticamente
promovidos pela mídia popular. A noção pós-moderna de
tolerância está sistematicamente virando virtude genuína na
cabeça deles.
Praticamente a única coisa a ser rejeitada pela sociedade
como maligna é a noção simplória e politicamente incorreta
que o estilo de vida, religião, ou perspectiva diferente de
outra pessoa é incorreto.
Uma exceção notável àquela regra se destaca
claramente: os pós-modernistas aceitam a intolerância se for
contra aqueles que alegam conhecer a verdade,
particularmente os cristãos bíblicos. De fato, aqueles que se
proclamam os advogados líderes de tolerância atualmente
são freqüentemente os oponentes mais declarados do
Cristianismo evangélico.
Basta dar uma olhada na Internet, por exemplo, e veja o
que está sendo dito pelos autoestilizados campeões de
tolerância religiosa. O que você vai encontrar é uma grande
quantidade de intolerância pelo Cristianismo bíblico. Na
verdade, alguns dos materiais mais amargos anticristãos na
Internet podem ser encontrados em sites supostamente
promovendo a tolerância religiosa.!
Por que isso? Por que o Cristianismo bíblico autêntico
depara com tal feroz oposição de pessoas que pensam ser
modelos de tolerância? É porque as alegações de verdade das
Escrituras e particularmente as alegações de Jesus de ser o
único caminho para Deus — são diametralmente opostos às
pressuposições fundamentais da mente pós-moderna. A
mensagem cristã representa um golpe fatal à cosmovisão
pós-modernista.
Mas se os cristãos se deixam enganar ou são
intimidados a suavizar as alegações diretas de Cristo e a
alargar o caminho estreito, a igreja não fará qualquer
progresso contra o pós-modernismo. Nós precisamos
recuperar a distinção do evangelho. Precisamos reconquistar
nossa confiança no poder da verdade de Deus. E nós
precisamos proclamar com ousadia que Cristo é a única
verdadeira esperança para o povo deste mundo.
Isso pode não ser o que o povo quer ouvir neste tempo
pseudo-tolerante do pós-modernismo, mas é verdade assim
mesmo. E precisamente porque é verdade e o evangelho de
Cristo é a única esperança para um mundo perdido é que é
ainda mais urgente levantarmos acima de todas as vozes de
confusão no mundo e dizer desta forma.
O restante deste livro irá examinar seis conceitos chaves
que explicam a distinção do Cristianismo. São princípios que
totalmente contradizem a sabedoria convencional do pósmodernismo,
mas eles são componentes essenciais de uma
cosmovisão bíblica. Esses seis princípios, definidos por seis
palavras-chave, se elevam uns sobre os outros e se interligam
de tal modo que permanecem em pé ou caem juntos. Eles
nos dão a estrutura necessária para o pensamento, para
entendermos o mundo à nossa volta e para ministrarmos
neste tempo pós-moderno.
(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.7)

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