quinta-feira, 17 de julho de 2014

Objetividade

A tua palavra é a verdade. (Jo 17 .17)
O Cristianismo autêntico começa com a premissa de que
existe uma fonte de verdade fora de nós. Especificamente a
Palavra de Deus é verdade (Sl 19.151; Jo 17.17). Ela é
objetivamente verdade — quer dizer, ela é verdade quer fale
subjetivamente a um dado indivíduo ou não; é verdade
independente de como alguém se sente sobre ela; é verdade
para todos universalmente e sem exceções; é absolutamente
verdade.
Isso, é claro, contradiz a pressuposição básica que
governa o pensamento da maioria das pessoas atualmente. A
filosofia pós-moderna diz que não existe tal coisa como
verdade absoluta ou, se houver, será impossível de ser
conhecida. Segundo o pós-modernismo, verdade nada mais é
do que uma criação da mente humana; as pessoas
determinam sua própria realidade; e portanto, ninguém tem
a verdade. Acima de tudo, o pós-modernista está convencido
de que nenhuma religião é superior a outra. Nós não
devemos pensar que nossas crenças são necessariamente válidas
para mais ninguém. Nem tampouco qualquer posição
teológica será, em tempo algum, tida como certa ou errada. O
que eu acredito é válido para mim; e seja lá o que for que
você crê é igualmente válido para você. E desta forma nós
podemos aceitar a religião um do outro, mesmo se nossas
crenças totalmente contradizem uma a outra. Esse é o credo
do pós-modernista.
“Você pode não se dar conta de quão profundamente
esse tipo de pensamento penetrou na consciência
contemporânea, mas ele já tomou conta do mundo
acadêmico e secular Dois meses após o dia 11 de setembro
de 2001, do dia que ocorreu o ataque terrorista ao World
Trade Center [Centro Mundial de Comércio] e ao Pentágono, o
ex-presidente dos Estados Unidos da América, EUA, Bill
Clinton, proferiu um discurso na Universidade de
Georgetown, no qual ele sugeriu que o senso "arrogante de
justiça" dos norte-americanos era em parte responsável por
ter feito a nação um alvo do terrorismo.
Aparentemente, para Clinton, toda a confusão poderia
ter sido evitada se todas as pessoas de ambos os lados
tivessem simplesmente se dado conta de que não existe tal
coisa como uma verdade absoluta ou universal e que,
portanto, nenhuma ideologia merece briga.
"Ninguém tem a verdade," disse ele aos estudantes.
"Vocês estão numa universidade que basicamente crê que
ninguém nunca tem a verdade toda, nunca Nós somos
incapazes de alguma vez ter a verdade completa." Os
terroristas”, sugeriu Clinton, estão sendo brutais e
intolerantes apenas porque acreditam serem donos da
verdade, enquanto que as atitudes mais tolerantes de nossa
sociedade são enraizados na compreensão de que a verdade
absoluta é impossível de ser conhecida. "Eles acreditam tê-la,
mas nós, porque acreditamos que ninguém pode ser dono de
toda a verdade, nós pensamos que todos são importantes."1
Essas observações praticamente resumem a atitude da
sociedade atualmente. O ceticismo foi entronizado e
consagrado, enquanto que a fé confiante foi banida e
exorcizada. A única coisa de que podemos estar certos é que
nós não podemos estar certos de coisa alguma. Ter
convicções fortes sobre qualquer coisa (outra que não seja
nossa própria inabilidade de descobrir a verdade), é tido
como inerentemente intolerante até mesmo perverso. Além
disso, de acordo com o modo de pensar pós-moderno, pouco
adianta tentar combater as falsas idéias com as verdadeiras.
Afinal de contas, eles dizem se alegarmos que temos a
verdade, nós nos tornamos exatamente tão maus quanto os
terroristas. Então, em vez disso, a inteligência pós-moderna
está fazendo o que pode para tirar de todo mundo a noção
arcaica de que verdade absoluta e objetiva é passível de ser
conhecida de alguma forma.
Este ponto de vista está moldando o mundo em que
vivemos. Multidões literalmente e de todo coração acreditam
que podem construir sua própria realidade e definir sua
própria verdade. A popularidade de tal filosofia é responsável
pelo crescimento da religião e ideologia da Nova Era. Explica
também porque as pessoas de hoje em dia são mais voltadas
para si mesmas e mais narcisistas do que praticamente as de
qualquer outra geração na História.
O ex-presidente Clinton estava sugerindo que é
arrogância alguém pensar que conhece a verdade absoluta,
mas arrogância de fato é aquela da pessoa que pensa que
pode inventar sua própria verdade para a ocasião.
Quando tudo depende de sua definição de o que é —
quando os indivíduos podem re-imaginar e re-interpretar
tudo subjetivamente de modo que cada pessoa determina o
que é certo a seus próprios olhos — a civilização encontra-se
em sérias dificuldades. Essa é a direção na qual caminha
nossa sociedade. Tendo acatado a noção de que verdade
absoluta é impossível de ser conhecida, as pessoas se dispõe
a aceitar quase qualquer coisa em lugar da verdade.
Mesmo na igreja tem havido uma erosão séria de
confiança na verdade objetiva das Escrituras. Dogmatismo
sobre qualquer ponto da doutrina é geralmente considerado
fora de moda; incerteza e abertura a múltiplos pontos de
vista é o estilo próprio entre os pregadores e professores
nestes dias. Os movimentos de massa mais populares no
meio evangélico atual são ecumênicos em sua confiança,
insistindo para que coloquemos de lado a doutrina por amor
à harmonia. Tais tendências refletem uma capitulação diante
da idéia pós-moderna de que verdade absoluta é impossível
de ser conhecida e, portanto, ela não importa muito, afinal de
contas.
O desprezo do pós-modernismo pela verdade objetiva
está se infiltrando na igreja de formas sutis, também. É só
participar de um típico encontro evangélico para estudo da
Bíblia no lar e você verá que, com grande probabilidade, será
convidado a compartilhar sua opinião sobre "o que este
versículo significa para mim," como se a mensagem das
Escrituras fosse diferente para cada indivíduo. É raro o
professor estar preocupado com o que as Escrituras
significam para Deus.
Se realmente cremos que as Escrituras são a Palavra de
Deus, por que nós hesitamos em dizer que ela tem um
significado objetivo; é absolutamente verdade; e todas as
outras interpretações são falsas? Os evangélicos sempre
acreditaram que as Escrituras são claras — seu significado
essencial é evidente de imediato. Não é um segredo ou um
mistério para ser solucionado. A Bíblia é a revelação de Deus
para nós. É uma revelação da verdade; não é um enigma. E
em todos os assuntos essenciais ela fala com perfeita clareza.
Certamente que nas Escrituras " ... há certas coisas
difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam
... para a própria destruição deles" (2Pe 3.16). Existem
também muitos assuntos de importância secundária sobre os
quais nós não precisamos discutir muito. Em tais assuntos
indiferentes a regra é clara: "Cada um tenha opinião bem
definida em sua própria mente" (Rm 14.5), mas a mensagem
principal das Escrituras e a mensagem do evangelho em
particular é clara e sem ambigüidade. Não "provém de
particular elucidação," e seu significado não está sujeito a
preferências individuais. "Porque nunca jamais qualquer
profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo" (2Pe 1.20,21).
Repetidas vezes a Escritura faz esse tipo de alegação
sobre si mesma: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra"
(2Tm3.16,17). Em outras palavras, a Escritura não apenas é
inspirada por Deus, mas é também suficiente para nos
equipar totalmente com toda a verdade espiritual de que
precisamos. É mais segura do que os nossos próprios
sentidos (2Pe 1.19, KN). Ela "permanece eternamente" (1Pe
1.25). É garantida até cada til e i (Mt 5.18). É imutável e
"permanece eternamente" (Is 40.8). Jesus mesmo disse,
"Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não
passarão" (Mt 24.35).
O Cristianismo autêntico sempre sustentou que as
Escrituras são a verdade absoluta, objetiva. É tão verdade
para uma pessoa quanto o é para outra, independente da
opinião seja lá de quem for sobre ela. Ela tem um significado
verdadeiro que se aplica a todo mundo. É a Palavra de Deus
para a humanidade e seu verdadeiro significado é
determinado por Deus; não é alguma coisa que possa ser
formatada para encaixar nas preferências de ouvintes
individuais.
As Escrituras são absolutamente verdadeiras, quer
afetem você e eu, quer não. As Escrituras seriam verdadeiras
mesmo que não existíssemos. De nenhuma maneira a
verdade das Escrituras é decidida pela experiência de
alguém. Se ela nos afeta ou não subjetivamente nada tem a
ver com seu significado de fato ou veracidade. A mensagem
das Escrituras não é maleável. Não é singular para cada
pessoa. Não é determinada pela experiência pessoal ou
opinião pessoal.
Isso significa um forte golpe para um grande segmento
dos que professam o Cristianismo atualmente. Multidões
estão procurando ouvir a voz de Deus em suas cabeças ou
buscando algum tipo de epifania intuitiva na qual a verdade
lhe será revelada subjetivamente, mas a única verdade final e
absoluta para o cristão — a verdade que supera todas as
opiniões particulares, sentimentos pessoais e experiências
subjetivas é a verdade objetiva de Deus como revelada nas
Escrituras quando corretamente interpretada.
A verdade bíblica é objetiva. É verdadeira em si mesma.
É verdadeira se sentimos ou deixamos de sentir que é
verdadeira. É verdadeira se foi ou não validada pela
experiência de alguém. É verdadeira porque Deus disse que é
verdadeira. É verdadeira por completo e é verdadeira até o
menor til ou i. O Salmo 119. 160 diz, "As tuas palavras são
em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos
juízos dura para sempre" (Sl 119.160).
Esse é exatamente o ponto de partida e o alicerce
necessário para uma cosmovisão cristã verdadeira. Abra mão
do fundamento da verdade bíblica e seja qual for o sistema de
crença que reste não vale a pena ser chamado cristão,
mesmo se ele retiver vestígios do simbolismo e da
terminologia cristãos.
Muitos que se intitulam cristãos atualmente estão
precisamente nessa situação. Eles usam linguagem e
simbolismo cristãos, mas a fonte real da autoridade deles é
algo além das Escrituras. Alguns simplesmente vivem pelo
que sentem e moldam suas crenças segundo suas
preferências pessoais. Outros alegam que Deus lhes fala
diretamente por meio de vozes, impressões fortes, ou
sentimentos vagos que eles interpretam como revelações
diretas do Espírito Santo. Outros ainda pensam que as
Escrituras são escritos improvisados que eles podem
modificar ou interpretar da maneira que desejarem. De
qualquer modo, a vida e crença deles são comandadas pelas
suas preferências pessoais. As crenças deles não são
realmente diferentes daquelas dos seguidores da Nova Era
que acreditam que a verdade é encontrada dentro deles
mesmos.
Mas o Cristianismo histórico é baseado na revelação
objetiva das Escrituras. Essa é a razão pela qual nossa
primeira palavra-chave para descrever a cosmovisão cristã é
objetividade. Nossa fé está firmada na convicção de que Deus
falou e a sua Palavra é a verdade objetiva. O que ele nos deu
é absoluto e inabalável. É a verdade pelas quais todas as
outras alegações de verdade são medidas.
(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg. 17)

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