quinta-feira, 17 de julho de 2014

Veracidade

Agora, pois, Ó SENHOR Deus, tu mesmo és Deus, e as
tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este
bem. (2Sm 7.28)
Uma terceira palavra que estabelece o arcabouço para
uma cosmovisão cristã é veracidade. O Cristianismo
autêntico, como nós estamos vendo, está preocupado do
princípio ao fim com a verdade. A fé cristã não tem a ver primariamente
com sentimentos, embora sentimentos
profundos com certeza resultarão do impacto da verdade no
nosso coração. Não tem a ver com relações humanas, muito
embora as relações sejam o foco principal de muitos púlpitos
evangélicos atualmente. Não tem a ver com sucesso e
bênçãos terrenas, não importa quanto uma pessoa possa ter
essa impressão ao assistir os programas que dominam a
televisão religiosa estes dias.
O Cristianismo bíblico é todo sobre verdade. A revelação
objetiva de Deus (a Bíblia) interpretada racionalmente produz
verdade divina em medida perfeitamente suficiente. Tudo o
que nós precisamos saber para a vida e a piedade está se
encontra nas Escrituras (2Pe 1.3). Deus escreveu somente
um livro — a Bíblia. Ela contém toda a verdade pela qual ele
tenciona que orientemos nossa vida espiritual. Não temos
necessidade de consultar qualquer outra fonte de princípios
morais ou espirituais. As Escrituras não são apenas a
verdade inteira; elas são também o mais elevado padrão de
toda verdade — a regra pela qual todas as alegações de
verdade devem ser medidas.
Tal convicção é a exata antítese da noção pósmodernista
de que ninguém deve alegar conhecer a verdade
objetiva. E essa é outra grande razão pela qual o
Cristianismo tem sido bombardeado pelos proponentes do
inclusivismo pós-moderno.
O Cristianismo autêntico é a "fé que uma vez por todas
foi entregue aos santos" (Jd 1:3). A verdade cristã não está
sujeita a mudança ou emenda. Não é anulada por alterações
na opinião do mundo ou nos padrões do que possa ser
politicamente correto. Não precisa ser adaptada e redefinida
para cada nova geração.
Certamente que uma compreensão individual da
verdade pode ser refinada e apurada pelo estudo das
Escrituras, mas a verdade em si não necessita ser
reinventada ou remoldada a fim de se tomar apropriada para
os tempos em que vivemos. A mesma verdade em que
Abraão, Moisés, Davi e os apóstolos acreditavam é ainda
verdade para nós. Tempos mutáveis não mudam a verdade.
As Escrituras são imutáveis como também o próprio Deus: "
... a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente" (1Pe
1.25). Em outras palavras, nós precisamos adaptar nossa
compreensão à verdade da Palavra de Deus, não tentar
manipular as Escrituras num esforço vão de harmonizá-la
com opiniões mutáveis deste mundo.
A verdade das Escrituras é algo precioso que deve ser
cuidadosamente manejado e zelosamente guardado (1Tm
6.20). Mais uma vez, uma compreensão apropriada das
Escrituras envolve estudo consciencioso e diligente. Segundo
Timóteo 2.15 diz, "Procura apresentar-te a Deus aprovado,
como obreiro que não tem de que se envergonhar, que
maneja bem a palavra da verdade." Por implicação nós vemos
que todos os que não manejam as Escrituras corretamente,
são trabalhadores desleixados que devem ser envergonhados
A expressão traduzida por "maneja bem" vem da expressão
grega que significa "cortar reto."
Paulo estava utilizando sua própria experiência como
um fazedor de tendas e aplicando um princípio aprendido do
oficio para interpretação da Bíblia. Tendas eram feitas de
materiais como peles de cabras. Visto que cabras são
animais relativamente pequenos, nenhuma pele era grande o
suficiente para fazer uma tenda. Portanto, o fazedor de
tendas tinha de cortar muitas peles de cabras conforme um
padrão e costurá-las para fazer uma tenda grande.
Obviamente se os pedaços não fossem cortados retos eles não
se ajustariam apropriadamente. Então quando o apóstolo
Paulo diz que devemos "cortar reto" as Escrituras ele quer
dizer que as passagens individuais das Escrituras devem ser
interpretadas de modo que uma combina perfeitamente com
a outra de uma forma coerente e harmoniosa.
Em outras palavras ninguém tem o direito de ser um
teólogo se não for um exegeta. É impossível que você consiga
entender o todo se você não puder colocar todos os pedaços
juntos de forma correta. E se você for lidando de forma
errada com os pedaços eles não se ajustarão uns aos outros.
Interpretações errôneas não irão ao final se encaixar num
todo coerente. Você tem de interpretar as passagens
individuais corretamente (cortá-las de forma reta). Você faz
isso comparando as Escrituras com as Escrituras — ou seja,
deixando as Escrituras serem a regra pela qual se interpreta
as Escrituras. Quando isso é feito de forma correta — quando
você entendeu corretamente os textos das Escrituras — então
eles se encaixam uns aos outros, e o todo aparece da
maneira como Deus planejou.
Precisamente porque ela é a "palavra da verdade" tanto
no todo quanto em partes, as Escrituras se encaixam
perfeitamente. Este encaixe perfeito é uma das maneiras pela
qual nós sabemos que temos interpretado as seções das
Escrituras corretamente. Então as Escrituras corretamente
interpretadas apresentam a verdade. E esta verdade é a
substância de nossa mensagem.
Nos tempos de Paulo, da mesma forma que atualmente,
havia homens que buscavam posições de destaque no
ministério e liderança da igreja, mas não estavam realmente
preocupados com a verdade. Eles fabricavam sua mensagem
à medida que prosseguiam. Estavam aparentemente
buscando prestígio ou influência, ou algum outro tipo mais
sinistro de gratificação carnal. O ensinamento deles,
portanto, torcia a verdade. Paulo se referia a isso como
"falatórios inúteis e profanos" (2Tm 2.16). Essa afirmação
segue imediatamente após sua admoestação a Timóteo sobre
manejar bem a palavra da verdade.
Ele escreve, "Evita, igualmente, os falatórios inúteis e
profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade
ainda maior. Além disso, a linguagem deles corrói como
câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se
desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se
realizou, e estão pervertendo a fé a alguns" (2Tm 2.16-18).
Observe-se que o apóstolo Paulo não se importou em
citar os nomes. Ele não estava preocupado em ser
politicamente correto; ele estava preocupado com a verdade.
E os fornecedores de mentiras deviam ser identificados e
respondidos com a verdade. A verdade torcida deles estava de
fato derrubando a fé de alguns.
Verdade e fé são inseparavelmente entretecidas. As
pessoas não podem ter fé genuína fora da verdade. A fé real
envolve a concordância da mente e a submissão da vontade à
verdade. Então, se subtrair a verdade da equação você
derruba a fé, como Himeneu e Fileto estavam fazendo.
Você se dá conta de que a verdade é instrumental na
salvação? As pessoas não podem ser salvas sem ouvir e
abraçar a verdade. Romanos 6.17 diz, " ... graças a Deus
porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a
obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes
entregues." Em outras palavras, as pessoas são salvas
quando são libertas do erro para a sã doutrina a verdade.
Existe um sentido real no qual fomos salvos pela verdade.
Pedro escreve, "Tendo purificado a vossa alma, pela vossa
obediência à verdade" (1Pe 1.22). Nós somos regenerados
pela palavra da verdade (v. 23).
Portanto, a verdade é tudo para um cristão.
É por essa razão que somos chamados a refutar o erro,
defender a verdade e proclamar as Escrituras como a
suprema verdade contra toda mentira propagada pelo
mundo.
Eu temo que a igreja nesta época pós-moderna tenha
deixado de se concentrar nesse fato. Não é mais considerado
necessário lutar pela verdade. De fato, muitos evangélicos
agora consideram maus modos e descaridoso discutir sobre
qualquer ponto da doutrina. Até mesmo os erros grosseiros
são agora totalmente toleráveis em alguns ambientes em
nome de preservar a paz. Em lugar de manejar bem a Palavra
da verdade e proclamá-la como verdadeira, muitas igrejas
agora apresentam palestras, dramas, comédias e outras
formas de entretenimento motivacionais — enquanto ignoram
as grandes doutrinas da fé. Enquanto isso pessoas que
atacam a verdade de forma pretensamente erudita encontram
no meio evangélico editoras que publiquem os seus escritos e
são honradas como se tivessem profundo entendimento.
Precisamos recuperar nosso amor pela verdade bíblica,
bem como nossa convicção de que ela é verdade indiscutível.
Nós temos a verdade num mundo em que a maioria das
pessoas está simplesmente vagando sem rumo em ignorância
desesperada. Precisamos proclamar do topo dos telhados e
parar de brincar com aqueles que sugerem que nós estamos
sendo arrogantes se alegarmos que sabemos alguma coisa
como certo.
Nós temos a verdade, não porque somos mais
inteligentes ou melhores do que outros, mas porque Deus a
revelou nas Escrituras e foi gracioso em abrir nossos olhos
para vê-la. Estaríamos pecando se tentássemos guardar a
verdade só para nós mesmos.
(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg. 30)

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