segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A CRIAÇÃO

CONSIDERAÇÃO DO CONCEITO DE QUE FORAM DIAS LITERAIS

A idéia predominante sempre foi que os dias de Gênesis 1 devem se entendidos como dias literais. Alguns dos primeiros “pais da igreja” não os consideravam como reais indicações do tempo em que se completou a obra da criação, mas, antes, como formas literais nas quais o escritor de Gênesis moldou a narrativa da criação, a fim de retratar a obra da criação – que realmente se completou num momento – de maneira ordenada, para facilitar a compreensão humana. Foi só depois que as ciências relativamente novas da geologia e da paleontologia vieram com as suas teorias da excessivamente longa idade da terra, que os teólogos começaram a mostrar uma inclinação para identificar os dias da criação com as longas eras geológicas. Hoje alguns deles consideram fato estabelecido que os dias de Gênesis foram longos períodos geológicos; outros são um tanto propensos a assumir esta posição, mas mostram considerável hesitação. Hodge, Sheldon, Van Oosterzee e Dabney, alguns dos que não são inteiramente avessos a este conceito, concordam que esta interpretação dos dias é exegeticamente duvidosa, se não impossível. Kuyper e Bavinck sustentam que, conquanto os três primeiros dias possam ter sido de duração um tanto diversa, os últimos três certamente foram dias comuns. Naturalmente eles não consideravam nem os três primeiros dias como períodos geológicos. Vos, em sua Gereformeerde Dogmatiek defende a posição de que os dias da criação foram dias comuns. Hepp toma a mesma posição em sua obra, Calvinism and the Philosophy of Nature. Noortzij, em Gods Woord em der Eeuwen Getuigenis, afirma que a palavra yom (dia) em Gn 1 não pode designar senão um dia comum, mas sustenta que o escritor de Gênesis não atribuía muita importância ao conceito “dia”, porem o introduziu simplesmente como parte de uma estrutura básica para a narrativa da criação, não para indicar a seqüência histórica, e, sim, para descrever a gloria das criaturas à luz do grande propósito redentor de Deus. Daí o sábado é o grande ponto culminante, em que o homem chega ao seu real destino. Esta idéia traz-nos vivamente à memória a posição de alguns dos primeiros “pais da igreja”. Os argumentos aduzidos em seu favor não são muito convincentes, como Aalders o demonstra em sua obra, De Eerste Drie Hoofdstuken van Gênesis. Baseado em Gn 1.5, este especialista em Velho Testamento sustenta que o termo yom, em Gn 1, denota simplesmente o período de luz como distinto do das trevas; mas esta opinião pareça envolver, antes, uma interpretação antinatural da repetida expressão, “houve tarde e manha”. Então, esta terá que ser interpretada no sentido de, houve tarde precedida por manhã. Segundo o dr. Aalders, também a Escritura certamente favorece a idéia de que os dias da criação foram dias comuns, embora não seja possível determinar a sua duração exata, e os três primeiros dias podem ter diferido em alguma proporção dos últimos três.
A interpretação literal do termo “dia” em Gn 1 é favorecida pelas seguintes considerações: (a) Em seu significado primário, apalavra yom denota um dia natural; e é boa regra de exegese não abandonar o significado primário de uma palavra, a menos que isto seja exigido pelo contexto. O dr. Noortzij salienta o fato de que esta palavra simplesmente não significa outra coisa senão “dia”, como este é conhecido pelo homem na terra. (b) O autor de Gênesis parece ter-nos aprisionado absolutamente na interpretação literal acrescentando, quanto a cada dia, as palavras: “houve tarde e houve manhã”. Cada um dos dias mencionados tem precisamente uma tarde e uma manhã, coisa que dificilmente se poderia aplicar a um período de mil anos. E se se disser que os períodos da criação foram dias extraordinários, cada um deles consistindo de um longo dia e uma longa noite, levantar-se-á naturalmente a questão: Que seria da vegetação durante a compridíssima noite? (c) Em Ex 20.9-11 ordena-se a Israel que trabalhe seis dias e descanse no sétimo, porque Jeová fez os céus e aterra em seis dias e descansou no sétimo. Uma boa exegese parece exigir que a palavra “dia” seja tomada no mesmo sentido em ambos os casos. Além disso, o sábado separado para descanso e certamente um dia literal; e o que se pode presumir é que os outros dias eram da mesma espécie. (d) Os últimos três dias certamente foram dias precedentes não diferiam nem um pouco deles em duração, é exatamente improvável que diferissem deles como períodos de milhares de anos diferem dos dias comuns. Pode-se também indagar por que se requeria um período tão longo assim para, por exemplo, a separação de luz e trevas.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof)

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