segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A DOUTRINA DA CRIAÇÃO E A HIPÓTESE EVOLUCIONISTA

Naturalmente surge em nossos dias a questão: Como a hipótese evolucionista afeta a doutrina da criação?
a. A hipótese evolucionista não pode tomar o lugar da doutrina da criação. Alguns falam como se a hipótese da evolução oferecesse uma explicação da origem do mundo; mas isto é evidentemente um erro, pois ela não faz tal coisa. Evolução é desenvolvimento, e todo desenvolvimento pressupõe a existência prévia de uma entidade ou princípio ou a energia da qual alguma coisa se desenvolve. A não existência não pode desenvolver-se e tornar-se existência. A matéria e a energia não poderiam evoluir do nada. Tem sido costumeiro voltarem os evolucionistas à hipótese nebular para a explicação da origem do sistema solar, apesar de que no presente ela foi suplantada pela hipótese planetesimal.* Mas ambas só fazem o problema retroceder um passo mais, e não conseguem soluciona-lo. O evolucionista tem que recorrer à teoria de que a matéria é eterna, ou aceitar a doutrina da criação.
b. A hipótese da evolução naturalista não se humaniza com a narrativa da criação. Se a evolução não explica a origem do mundo, não dará ao menos uma explicação racional do desenvolvimento das coisas desde a matéria primordial, e assim não explicará a origem das espécies atuais das plantas e animais (o homem inclusive) e também os vários fenômenos da vida, como a consciência, a inteligência, a moralidade e a religião? Estará ela necessariamente em conflito com a narrativa da criação? Ora, é mais que evidente que a evolução naturalista está em conflito com a narrativa bíblica. A Bíblia ensina que as plantas e os animais apareceram em cena ao fiat criador do Todo-poderoso; mas, segundo a hipótese evolucionista, eles evoluíram do mundo inorgânico por um processo de desenvolvimento natural. A Bíblia apresenta Deus criando plantas e animais segundo a espécie destes, e produzindo frutos segundo a sua espécie, isto é, para que reproduzissem a sua espécie, isto é, para que reproduzissem a sua espécie; mas a hipótese evolucionista tem em vista forças naturais, residentes na natureza, que levam ao desenvolvimento de uma espécie a partir de outra. Conforme a narrativa da criação, os reinos vegetal e animal e o homem foram produzidos numa única semana; mas a hipótese evolucionista os considera produtos de um desenvolvimento gradual no transcurso de milhões de anos. A Escritura retrata o homem como estando no plano mais elevado no início da sua carreira, e depois descendo a níveis mais baixos pela influência deteriorante do pecado; por outro lado, a hipótese evolucionista descreve o homem original como apenas ligeiramente diverso dos animais, e pretende que araçá humana, por meio de seus poderes inerentes, foi-se elevando a níveis de existência cada vez mais altos.
c. A teoria da evolução naturalista não está bem estabelecida e não explica os fatos. O conflito referido no item anterior seria coisa séria, se a hipótese evolucionista fosse um fato estabelecido. Alguns acham que é, e falam confiantemente do dogma do evolucionismo. Outros, porém, corretamente nos lembram que o evolucionismo ainda é apenas uma hipótese. Mesmo o grande cientista Ambrose Fleming declara que “a rigorosa análise da idéias ligadas ao termo evolução mostra que elas são insuficientes como solução filosófica ou científica do problema da realidade e da existência”. A própria incerteza que prevalece no campo dos evolucionistas é a prova categórica de que o evolucionismo é apenas uma hipótese. Além disso, muitos que ainda se apegam ao princípio evolucionista admitem francamente hoje que não entendem o método de operação do evolucionismo. Houve tempo em que se pensava que Darwin fornecera a chave do problema todo, mas essa chave é geralmente rejeitada hoje em dia. As colunas do alicerce sobre as quais a estrutura darwiniana se encarapitou, tais como os princípios do uso e desuso, da luta pela existência, da seleção natural e da transmissão dos caracteres adquiridos, foram retiradas uma após outra. Evolucionistas como Weissmann, De Vries, Mendel e Bateson, cooperaram todos para o colapso do edifício darwiniano. Em sua História da Biologia (history of Biology), Nordenskioeld fala da “dissolução do darwinismo” como fato consumado. Dennert convida-nos para aproximar-nos do leito de morte do darwinismo, e O’Toole diz: “O darwinismo está morto, e nenhum choro de carpideiras poderá ressuscitar o cadáver”. Morton fala da “bancarrota do evolucionismo”, e Price se refere ao “fantasma da evolução orgânica”. Confessadamente, pois, o darwinismo não pôde explicar a origem das espécies, e os evolucionistas não conseguem oferecer uma explicação melhor. A lei de Mendel explica variações, mas não a origem de novas espécies. De fato, ela se desvia do desenvolvimento de novas espécies por um processo natural. Alguns são de opinião que a teoria das mutações, de De Vries, ou a teoria da evolução emergente de Lloyd Morgan, indica o caminho, mas nem esta nem aquela provaram que constituem uma feliz explicação da origem das espécies pelo desenvolvimento natural puro e simples. Admite-se agora que os mutantes de De Vries são relativos a variedades, e não a espécies, não podendo ser considerados como princípios de novas espécies. E Morgan sente-se constrangido a admitir que não pode explicar os seus emergentes sem cair de novo nalgum poder criador, que poderia chamar-se Deus. Diz Morton: “O fato é que além da criação, não existe nem mesmo uma teoria das origens em campo hoje”. A hipótese evolucionista falha em vários pontos. Ela não pode explicar a origem da vida. Os evolucionistas buscaram a explicação dela na geração espontânea, uma suposição não provada e atualmente desacreditada. É um fato bem estabelecido pela ciência que ávida só pode provir da vida antecedente. Ademais, ela fracassou completamente quanto a aduzir um só exemplo de uma espécie produzindo outra espécie diferente (orgânica, em distinção do caos que constituem variedades). Em 1921 disse Bateson: “Não podemos ver como se deu a diferenciação das espécies. Variações de muitos tipos, com freqüência consideráveis, testemunhamos diariamente, mas nenhuma origem de espécies. ...Enquanto isso, embora a nossa fé no evolucionismo permaneça firme, não temos uma aceitável explicação da origem das espécies”. O evolucionismo não foi capaz também de enfrentar com êxito os problemas apresentados pela origem do homem. Não conseguiu sequer provar que fisicamente o homem descende dos animais. J. A. Thomson, autor de The Outline of Science (Esboço da Ciência) e um dos principais evolucionistas, sustenta que o homem realmente nunca foi um animal, uma criatura de aparência feroz e animalesca, mas que o primeiro homem surgiu abruptamente, por um grande salto, do tronco dos primatas a um ser humano. Muito menos pode explicar o lado psíquico da vida do homem. A alma humana, dotada de inteligência, auto-percepção, liberdade, consciência e aspirações religiosas, continua sendo um enigma não resolvido.
d. O evolucionismo teísta é insustentável, à luz da Escritura. Alguns cientistas e filósofos cristãos procuram harmonizar a doutrina da criação, ensinada pela Escritura, com a hipótese e evolucionista, aceitando o que denominam evolucionismo teísta. É um protesto contra a tentativa de eliminar Deus, e O defende como o realizador todo-poderoso que está por trás de todo o processo de desenvolvimento. A evolução é tida simplesmente como o método de ação de Deus no desenvolvimento da natureza. O evolucionismo teísta chega realmente ao ponto de dizer que Deus criou o mundo (o cosmos) por um processo de evolução, um processo de desenvolvimento natural, no qual Ele não intervém miraculosamente, exceto nos caos de absoluta necessidade. Ele se dispõe a admitir que o princípio absoluto do mundo só poderia resultar de uma atividade criadora direta de Deus; e, se não pode encontrar uma explicação natural, também garante uma intervenção direta de Deus na originação da vida e do homem. Esse modo de ver tem sido aclamado como evolucionismo cristão, embora não haja necessariamente nada de cristão nele. Muitos que doutro modo se oporiam à hipótese evolucionista, acolheram-no porque ele reconhece Deus no processo e é supostamente compatível com a doutrina escriturística da criação. Daí, é ensinado livremente nas igrejas e nas escolas dominicais. Contudo, é de fato um produto híbrido muito perigoso. O nome é uma contradição terminológica, pois não é nem teísmo nem naturalismo, e não é criação nem evolução no sentido em que os termos são comumente aceitos. E não se requer muita capacidade de penetração para ver-se que p Dr. Fairhust está certo em sua convicção de “que o evolucionismo teísta destrói a Bíblia como livro inspirado e sua autoridade coma mesma eficiência do evolucionismo ateu”. À semelhança do evolucionismo naturalista, o evolucionismo teísta ensina que foram necessários milhões de anos para a produção do presente mundo habitável; e que Deus não criou várias espécies de plantas e animais, e isto para reproduzirem sua espécie; que o homem, ao menos em seu lado físico, é descendente dos animais e, portanto, começou a sua carreira num nível baixo; que não houve queda nenhuma, no sentido bíblico da palavra, mas apenas repetidos deslizes dos homens em seu curso ascensional; que o pecado é apenas uma fraqueza, resultante dos instintos e desejos animais do homem, e não constitui culpa; que a redenção é conseguida pelo sempre crescente domínio do elemento superior presente no homem sobre as suas propensões inferiores; que não ocorrem milagres, quer no mundo natural quer no espiritual; que a regeneração, a conversão e a santificação são simplesmente mudanças psicológicas naturais, e assim por diante. Numa palavra, é uma hipótese que subverte absolutamente a verdade da Escritura.
Alguns eruditos dos dias atuais acham que a teoria da evolução criadora, de Bergson,* se recomenda por si mesma aos que não querem deixar Deus fora de consideração. Este filósofo francês pressupõe um élan vital no mundo, como base e princípio dinâmico de toda vida. Este princípio vital não brota da matéria, mas é, antes, a causa originadora da matéria. Ele permeia a matéria, vence sua inércia e sua resistência agindo como uma força viva naquilo que essencialmente está morto, e sempre cria, não material novo, mas novos movimentos adaptados aos seus próprios fins, e assim cria de maneira muito semelhante à criação do artista. Tem direção e propósito e, contudo, embora consciente, não opera segundo um plano preconcebido, conquanto isso seja possível. Ele determina a evolução propriamente dita, bem como a direção em que a evolução se move. Esta vida permanentemente criadora, “da qual todo indivíduo e toda espécie é uma experiência”, é o Deus de Bergson, um Deus finito, de poder limitado e que, ao que parece, é impessoal, embora Hermann diga que “nós talvez não erremos muito se acreditarmos que ele será ‘a tendência ideal da coisas’tornada pessoal”. Haas fala de Bergson como panteísta vitalista, e não teísta. De qualquer forma, seu Deus é um Deus que se acha totalmente dentro do mundo. Essa maneira de ver pode exercer especial atração sobre o teólogo liberal moderno, mas está ainda menos em harmonia com a narrativa bíblica da criação do que o evolucionismo teísta.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA. 1. Qual é a verdadeira alternativa para a doutrina da criação? 2. Onde está a importância da doutrina da criação? 3. Deve-se conceder que os primeiros capítulos de Gênesis se apóiem de alguma forma no estudo científico da origem das coisas? 4. A Bíblia determina de algum modo a data em que o mundo foi criado? 5. Que extremos devem ser evitados quanto à relação mútua entre Deus e o mundo? 6. A Bíblia sempre deve ser interpretada em harmonia com teorias científicas amplamente aceitas? 7. Que posição ocupa a hipótese evolucionista no mundo científico de hoje? 8. Qual é o elemento característico da teoria evolucionista darwinista? 9. Como se pode explicar o seu repúdio generalizado nos dias atuais? 10. Como a evolução criadora de Bergson, ou o neo-vitalismo de Hans Driesch afetam a visão mecanicista do universo? 11. Em que aspecto o evolucionismo teísta é um melhoramento, em relação ao evolucionismo naturalista?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA. Bavinck, Geref. Dogm. II, p.426-543; ibid., Schepping of Ontwikkeling; Kuyper, Dict, Dogm, De Crestione, p. 3-127; De Cresturis A, p. 5-54; B, p. 3-42; ibid, Evolutie; Vos, Geref. Dogm. I, De Schepping; Hodge, Syst. Theol. I p. 550-574; Shedd, Dogm. Theol. I , p. 463-526; McPherson, Chr. Dogm., p.163-174; Dabney, Syst. And Polemic Theol., p.247-274; Harris, God, Creator and Lord of All I, p. 463-518; Hepp, Calvinism and the Philosophy of Nature, Cap. V; Honig, Geref. Dogm.,p.281-324; Noordtzaij, God’s Woord en der Eeuwen Getuigenis,p. 77-98; Aalders, De Goddelijke Openbaring in de Eerste Drie Hoofdstukken van Genesis;Geesink, Van’s Heeren Ordinantien, Inleidend Deel, p. 216-332; várias obras de Darwin, Wallace, Weissman, Osborne, Spencer, Haeckel, Thompson e outros sobre o evolucionismo; Dennert, The Desthbed of Darwinism; Dawson, The Bible Confirmed by Science; Fleming, Evolution and Creation; Hamilton, The Basis of Evolutionary Faith; Johnson, Can the Christian Now Believe in Evolution? McCrady, Reason and Revelation; More, The Dogma of Evolution; Morton, The bankruptcy of Evolution; O’Toole, The case Against Evolution; Price, The Fundamentals of Geology; ibid., The Phantom of Organic Evolution; Messenger, Evolution and Theology; Rimmer, The Theory of Evolution and the Facts of Science.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof)

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