terça-feira, 1 de outubro de 2013

A Igreja e as Diferentes Dispensações

1. NO PERÍODO PATRIARCAL. No período patriarcal as famílias dos crentes constituíam as congregações religiosas; a igreja era mais bem representada nos lares piedosos, onde os pais serviam de sacerdotes. Não havia culto regular, embora Gn 4.26 pareça implicar uma invocação pública do nome do Senhor. Havia distinção entre os filhos de Deus e os filhos dos homens, estes gradativamente ganhando predominância. Por ocasião do Dilúvio, a igreja foi salva na família de Noé, e continuou particularmente na linhagem de Sem. E quando a religião verdadeira estava de novo a ponto de morrer, Deus fez uma aliança com Abraão, deu-lhe como sinal a circuncisão e o separou e aos seus descendentes do mundo, para serem o Seu povo peculiar. Até a época de Moisés, as famílias patriarcas eram os verdadeiros repositórios da verdadeira fé, nos quais o temor de Jeová e o serviço do Senhor eram mantidos vivos.
2. NO PERÍODO MOSAICO. Depois do êxodo, o povo de Israel não só se organizou como nação, mas também se constituiu igreja de Deus. Foi enriquecido com instituições em que não somente a devoção familial ou a fé tribal, mas a religião da nação podia achar expressão. A igreja ainda não obtivera uma organização independente, mas tinha a sua existência institucional na vida nacional de Israel. A forma particular assumida por ela era a de um estado eclesiástico. Não podemos dizer que os dois estavam completamente aglutinados. Havia funcionários e instituições civis e religiosos separados dentro das fronteiras da nação. Mas, ao mesmo tempo, a nação toda constituía a igreja; e a igreja estava limitada à nação de Israel, embora os estrangeiros pudessem ingressar nela e incorporar-se à nação. Neste período houve marcante desenvolvimento da doutrina, um aumento na quantidade das verdades religiosas conhecidas e maior clareza na apreensão da verdade. O culto de Deus foi regulamentado nos mínimos pormenores, era grandemente ritual e cerimonial, e estava centralizado num único santuário central.
3. NO NOVO TESTAMENTO. A igreja do Novo Testamento e a da antiga dispensação são essencialmente uma só. No que se refere à sua natureza essencial, ambas consistem de crentes verdadeiros, e tão somente de crentes verdadeiros. E, em sua organização externa, ambas representam uma mistura de bons e maus. Contudo, diversas mudanças importantes resultaram da obra realizada por Jesus Cristo. A igreja foi separada da vida nacional de Israel e obteve uma organização independente. Em conexão com isto, os limites nacionais da igreja foram eliminados. O que até essa época tinha sido uma igreja nacional, agora assumiu caráter universal. E a fim de realizar o ideal de extensão mundial, teve que se tornar uma igreja missionária, levando o Evangelho da salvação a todas as nações do mundo. Além disso, o culto ritual do passado deu lugar a um culto mais espiritual, em harmonia com os privilégios do Novo Testamento, que são maiores.
A descrição dada acima parte do pressuposto de que a igreja existiu tanto na antiga dispensação quanto na nova, e era essencialmente a mesma nas duas, a despeito das reconhecidas diferenças institucionais e administrativas. Isso está em harmonia com os ensinos dos nossos padrões confessionais. A Confissão Belga, em seu Artigo XXVII, diz: “Esta igreja existe desde o princípio do mundo, e existirá até o fim dele; o que é evidente pelo fato de que Cristo é Rei eterno, que não poderá ficar sem súditos”. Em pleno acordo com isto, o Catecismo de Heidelberg, diz, sobre o Dia do Senhor, XXI: “Que o Filho de Deus, de toda a raça humana, do começo ao fim do mundo, reúne, defende e preserva para Si, por Seu Espírito e Sua Palavra, na unidade da fé verdadeira, uma igreja escolhida para a vida sempiterna”. Como foi assinalado acima, a igreja é essencialmente a comunidade dos crentes, e esta comunidade existe desde o início da antiga dispensação, até a época atual, e continuará a existir na terra até o fim do mundo. Neste ponto não podemos concordar com aqueles premilenistas que, sob a influência de um dispensacionalismo divisor, alegam que a igreja é uma instituição exclusivamente neotestamentária, que não teve existência antes do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes e que será retirada da terra antes do início do milênio. Eles gostam de definir a igreja como “o corpo de Cristo”, que é um nome caracteristicamente neotestamentário, e parecem olvidar que ela é chamada também “o templo de Deus” e “Jerusalém”, que decisivamente são nomes que recendem ao Velho Testamento, cf. 1 Co 3.16, 17; 2 Co 6.16; Ef 2.21; Gl 4.26; Hb 12.22. Não devemos fechar os olhos para o patente fato de que o nome “igreja” (heb. Qahal, vertido para ekklesia na Septuaginta) é repetidamente aplicado a Israel no Velho Testamento, Js 8.35; Ed 2.65; Jl 2.16. O fato de que em nossas versões da Bíblia a tradução do original no Velho Testamento é geralmente feita com os termos “assembléia” e “congregação”, enquanto que no Novo Testamento é com o vocábulo “igreja”, pode ter dado surgimento a uma compreensão errônea deste ponto; mas permanece o fato de que, tanto no Velho Testamento como no Novo, a palavra denota uma congregação ou assembléia do povo de Deus, e, como tal, serve para designar a essência da igreja. Por um lado, Jesus dizia que veria a igreja no futuro, Mt 16.18, mas também a reconheceu como uma instituição já existente, Mt 18.17. Estevão fala da “congregação no deserto” (ou, na versão utilizada pelo Autor, da “igreja no deserto”), At 7.38. E Paulo testifica claramente a unidade espiritual entre Israel e a igreja em Rm 11.17-21 e em Ef 2.11-16. Na essência, Israel constituiu a igreja de Deus no Velho Testamento, apesar de sua instituição externa diferir amplamente da instituição da igreja do Novo Testamento.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 570)

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