terça-feira, 1 de outubro de 2013

AS MARCAS DA IGREJA EM GERAL

a. A necessidade destas marcas. Sentia-se pouca necessidade destas marcas quando a igreja era claramente uma só. Mas, quando surgiram as heresias, tornou-se necessário indicar certas mudanças pelas quais se pudesse reconhecer a igreja verdadeira. A consciência desta necessidade já estava presente na Igreja Primitiva, foi naturalmente menos perceptível na Idade Média, e se tornou muito forte no tempo da Reforma. Nesse tempo, a única igreja existente não só foi dividida em duas grandes partes, mas o próprio protestantismo se dividiu em diversas igrejas e seitas.* Resultou que se sentiu crescentemente que era necessário indicar algumas marcas pelas quais se pudesse distinguir a igreja verdadeira da falsa. O próprio fato da Reforma prova que os Reformadores, sem negarem que Deus sustenta a Sua igreja, ficaram intensamente conscientes do fato de que uma incorporação empírica da igreja pode estar sujeita a erro, pode extraviar-se da verdade e pode degenerar totalmente. Eles pressupunham a existência de um padrão da verdade ao qual a igreja deve corresponder, e reconheciam esse padrão na Palavra de Deus.
b. As marcas da igreja na teologia reformada. Os teólogos reformados (calvinistas) divergiam quanto ao numero das marcas da igreja. Alguns falavam apenas de uma, a pregação da sã doutrina do Evangelho (Beza, Alsted, Amesius, Heidanus, Maresius); outros, de duas, a sã pregação da Palavra e a correta ministração dos sacramentos (Calvino, Bullinger, Zanchius, Junius, Gomarus, Mastricht, a Marck) e ainda outros acrescentavam a estas uma terceira marca, o fiel exercício da disciplina (Hyperius, Martyr, Ursinus, Trelcatius, Heidegger, Wendelinus). Estas três também são mencionadas na Confissão Belga; mas, depois de fazer menção delas, a referida confissão as une formando uma só, dizendo: “em suma, se todas as coisas são conduzidas de acordo com a santa Palavra de Deus”. Com o transcorrer do tempo, foi feita uma distinção, principalmente na Escócia, entre as características absolutamente necessárias ao ser da igreja e as que são necessárias somente ao seu bem-estar. Alguns começaram a achar que, por mais necessária que a disciplina seja para a saúde da igreja, seria um erro dizer que uma igreja sem disciplina não é igreja. Alguns até pensavam a mesma coisa acerca da correta ministração dos sacramentos, dado que não se sentiam bem em por fora da igreja de Cristo os batistas e os quacres. Vê-se o efeito disto na Confissão de Westminster, que menciona como sendo a única coisa indispensável ao ser da igreja “a profissão da religião verdadeira”, e fala doutras coisas, como a pureza da doutrina ou do culto, e da disciplina como excelentes qualidades das igrejas particulares, qualidades pelas quais se pode avaliar o grau de sua pureza. O doutor Kuyper reconhece apenas a praedicatio (pregação da Palavra) e a administratio sacramenti (ministração dos sacramentos) como as reais marcas da igreja, visto que somente elas são: (1) específicas, isto é, são características da igreja e de nenhuma outra corporação; (2) instrumentos pelos quais Deus age com a Sua graça e o Seu Espírito na igreja; e (3) elementos formativos que entram na formação constitutiva da igreja. A disciplina acha-se também noutros lugares, e não pode ser colocada em coordenação com estas duas. Todavia, com isto em mente, ele não faz objeção alguma à consideração do fiel exercício da disciplina como uma das marcas da igreja. Pois bem, não há dúvida de que as três marcas geralmente citadas não são coordenadas entre si. Estritamente falando, pode-se dizer que a fiel pregação da Palavra e seu reconhecimento como padrão de doutrina e vida [ou seja, de fé e prática], é a marca por excelência da igreja. Sem ela não há igreja, e ela determina a reta administração dos sacramentos e o fiel exercício da disciplina da igreja. Não obstante, a reta administração dos sacramentos também é uma verdadeira marca da igreja. E embora o exercício da disciplina não seja peculiar à igreja, isto é, não seja encontrado exclusivamente nela, é, contudo, absolutamente essencial para a pureza da igreja.
(Teologia Sistemática - Louis Berkhof. Pg. 576)

Nenhum comentário:

Postar um comentário