quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Santificação

A. Termos Bíblicos Para Santificação e Santidade.
1. TERMOS DO VELHO TESTAMENTO. A palavra veterotestamentária para “santificar” é qadash, verbo empregado nas formas niphal, do hiphil e do hithpa’el. O substantivo correspondente é qodesh, enquanto que o adjetivo é qadosh. As formas verbais são derivadas das formas nominal e adjetiva. O significado original destas palavras é incerto. Alguns são de opinião que o vocábulo qadash é relacionado com chadash, significando “brilhar”. Isso estaria em harmonia com o aspecto qualitativo da idéia bíblica de santidade, a saber, a de pureza. Outros, com maior grau de probabilidade, derivam-no da raiz qad, significando “cortar”. Isto faria da idéia de separação a idéia original. A palavra indicaria, então, isolamento, separação, ou majestade. Embora esta significação das palavras “santificação” e “santidade” possa parecer-nos inusitada, é, com toda a probabilidade, a idéia fundamental expressa por elas. Diz Girdelstone: “Os termos ‘santificação’ e ‘santidade’ são atualmente empregados com tanta freqüência para descrever qualidades morais e espirituais, que mal comunicam ao leitor a idéia de posição ou de relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa a Ele consagrada; contudo, vê-se que este é o significado real da palavra.” Similarmente, Cremer-Koegel chama a atenção para o fato de que a idéia de separação é fundamental quanto à idéia de santidade. “Heiligheit ist ein verhaeltnisbegriff”. Ao mesmo tempo, admite-se que as duas idéias de santidade e de separação não se fundem, não são absorvidas uma pela outra, mas que, em certa medida, uma serve para qualificar a outra.
2. TERMOS DO NOVO TESTAMENTO
a. O verbo hagiazo e seus vários sentidos. O verbo hagiazo é derivado de hagios, que, como a palavra hebraica qadosh, expressa primariamente a idéia de separação. Todavia, é empregado em vários sentidos diferentes no Novo Testamento. Podemos distinguir os seguintes: (1) È empregado num sentido mental, com referência a pessoas ou coisas, Mt 6.9; Lc 11.2; 1 Pe 3.15. Em casos como esses, significa “considerar um objeto como santo”; “atribuir santidade a”, ou “reconhecer sua santidade por palavra ou ato”. (2) Também é empregado, ocasionalmente, num sentido ritual, isto é, no sentido de “separar do ordinário para propósitos sagrados”, ou de “por de lado para certo ofício”, Mt 23.17, 19; Jo 10.36; 2 Tm 2.21. (3) É empregado ainda para denotar a operação de Deus pela qual Ele, especialmente por intermédio do Seu Espírito, produz no homem a qualidade subjetiva da santidade, Jo 17.17; At 20.32; 26.18; 1 Co 1.2; 1 Ts 5.23. (4) Finalmente, na Epístola aos Hebreus, é, ao que parece, empregado num sentido expiatório, e também no sentido correlato do dikaioo paulino, Hb 9.13; 10.10, 29; 13.12.
b. Os adjetivos que expressam a idéia de santidade. (1) Hieros. A palavra menos empregada, e também menos expressiva, é hieros. Acha-se unicamente em 1 Co 9.13; 2 Tm 3.15, e, aí, não se referindo a pessoas, mas a coisas. Não expressa excelência moral, mas o caráter inviolável da coisa referida, resultante da sua relação com Deus. Sua melhor versão para o vernáculo é com a palavra “sagrado”. (2) Hosios. A palavra hosios ocorre com maior freqüência. Acha-se em At 2.27; 13.34, 35; 1 Tm 2.8; Tt 1.8; Hb 7.26; Ap 15.4; 16.5, e se aplica não somente a coisas, mas também a Deus e a Cristo. Descreve uma pessoa ou coisa como livre de profanação ou de iniqüidade, ou mais ativamente (quanto a pessoas), como cumprindo religiosamente toda obrigação moral. (3) Hagnos. A palavra hagnos ocorre em 2 Co 7.11; 11.2; Fp 4.8; 1 Tm 5.22; Tg 3.17; 1 Pe 3.2; 1 Jo 3.3. Ao que parece, a idéia fundamental da palavra é a de liberdade da impureza e corrupção, num sentido ético. (4) Hagios. A palavra realmente característica do Novo Testamento é, porém, hagios. Seu significado primário é o de separação na consagração e dedicação ao serviço de Deus. Com isto se relaciona a idéia de que aquilo que é posto à dedicação ao serviço de Deus. Com isto se relaciona a idéia de que aquilo que é posto à parte do mundo para Deus, também deve separar-se da corrupção do mundo e compartir a pureza de Deus. Isto explica por que hagios depressa adquiriu uma significação ética. Nem sempre a palavra tem o mesmo sentido no Novo Testamento. (a) É empregada para indicar uma relação oficial externa, uma separação dos propósitos comuns para o serviço de Deus, como por exemplo, quando lemos sobre os “santos profetas”, Lc 1.70, os “santos apóstolos”, Ef 3.5, e os “homens santos”, 2 Pe 1.21. (b) Mais freqüentemente, porém, é empregada num sentido ético para descrever a qualidade necessária para manter-se uma estreita relação com Deus e para servi-lo aceitavelmente, Ef 1.4; 5.27; Cl 1.22; 1 Pe 1.15, 16. Deve-se ter em mente que, ao tratarmos da santificação, utilizamos a palavra primordialmente neste último sentido. Quando falamos da santidade em conexão com a santificação, temos em mente tanto uma relação externa como uma qualidade subjetiva interior.
c. Os substantivos que denotam santificação e santidade. O vocábulo neotestamentário para santificação é hagiasmos. Ocorre dez vezes, a saber, em Rm 6.19, 22; 1 Co 1.30; 1 Ts 4.3, 4, 7; 2 Ts 2.13; 1 Tm 2.15; Hb 12.14; 1 Pe 1.2. Embora denote purificação ética, inclui a idéia de separação, isto é, “a separação do espírito de tudo que é impuro e corruptor, e uma renúncia dos pecados para as quais os desejos da carne e da mente nos levam”. Enquanto hagiasmos denota a obra da santificação, há outras duas palavras que descrevem o resultado do processo, quais sejam, hagiotes e hagiosyne. Aquela se acha em 1 Co 1.30 e Hb 12.10; e esta em Rm 1.4; 2 Co 7.1 e 1 Ts 3.13. Estas passagens mostram a qualidade da santidade ou de estar livre da corrupção e da impureza é essencial para Deus, foi demonstrada por Jesus Cristo, e é dada ao cristão.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 529)

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