quinta-feira, 5 de junho de 2014

ATITUDES QUE FAZEM A LIDERANÇA BíBLICA BEM-SUCEDIDA

Deus pode usar diversos tipos de personalidades para liderar outras pessoas. As páginas da história estão repletas de déspotas, governadores misericordiosos, desbravadores e conquistadores. As companhias multinacionais pagam aos seus presidentes e executivos somas mirabolantes.
É muito importante para nós considerarmos quais atitudes habituais produzem uma liderança piedosa. Algumas perspectivas bíblicas se sobressaem.

Gratidão

William Law, o famoso escritor do século XVIII, perguntou: "Você saberia qual é o maior santo no mundo? Não é aquele que ora mais ou jejua mais. Não é aquele que dá a maior soma de dinheiro [...] mas é aquele que é sempre grato a Deus, aquele que deseja tudo que Deus deseja, e aquele que recebe tudo como um exemplo da bondade de Deus e tem um coração sempre pronto para louvá-lo por ela”.
A gratidão tem um lugar chave nas cartas de Paulo. Um coração grato cumpre perfeitamente o desejo de Deus para os seus filhos. Veja esta exortação: "Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (1Ts 5.18). Esse é apenas um entre muitos dos textos que indicam a importância de uma atitude grata. Para um líder segundo o coração de Deus, ela é essencial.
O dom (charisma, formado por charis, "graça" e ma, "efeito") de liderança é dado por Deus (Rm 12.8, NVI). A palavra "gratidão" é formada da mesma radical, "graça" no latim. Como um dom da graça, esse carisma deve produzir uma reação de gratidão no coração de um líder, que, então, encoraja a mesma atitude nos seus seguidores. A gratidão deve ser a emoção que inunda o coração daquele que Deus tem selecionado para influenciar outros e mostrar-lhes o caminho para uma vida frutífera a Deus.
Paralelamente à gratidão encontra-se a injunção bíblica para "alegrar-se sempre no Senhor" (Fp 4.4). Assim como o corpo humano precisa de um coração batendo, a gratidão necessita da alegria. É impossível sentir a gratidão se o coração de uma pessoa está pesado e triste. Porém, quando uma pessoa vê claramente a bondade de Deus operando providencialmente em todas as circunstâncias para trazer glória a si mesmo, a gratidão se torna algo natural.
Através dos Salmos podem ser vistas múltiplas expressões da gratidão de Davi, o líder amado de Israel. Através de suas músicas e poesias, o rei procurou lembrar à nação que o louvor e a gratidão são respostas que cada um deve oferecer a Deus por toda a sua bondade e por suas obras magníficas.

Humildade

Os líderes cristãos não estão imunes à tentação de misturar a fama pessoal e a ambição com o desejo de fazer a diferença no mundo. "Soren Kierkegaard descreve um homem, ou mulher, segundo o próprio coração de Deus como alguém que é 'selecionado cedo e lentamente educado para a obra’. Moisés foi o instrumento escolhido por Deus para livrar o povo de Israel, mas ele aprendera humildade antes de Deus fazer dele um grande líder. Quarenta anos de experiência no deserto o prepararam para liderar".
Onde há falta de humildade será encontrado um espírito crítico. "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7.1), disse o maior líder de todos os tempos. Muitos líderes são sarcasticamente críticos. ''A crítica é a parte da faculdade ordinária do homem; mas, no âmbito espiritual, nada é realizado pela crítica. O efeito da crítica é a divisão dos poderes daquele que é criticado; o Espírito Santo é o único na posição verdadeira de criticar; ele sozinho é capaz de mostrar o que está errado sem machucar ou ferir".
Um espírito humilde fomenta a unidade, pois evita a crítica e concentra-se no encorajamento. Sem a unidade, uma organização comete erros e desperdiça tempo e recursos com brigas internas.

Uma Disposição para Aprender

Os pastores-mestres, e líderes em geral, não somente precisam ser aptos para ensinar e mostrar o caminho, mas também precisam ser aptos para aprender. Qualquer líder que pensa ter aprendido tudo o que ele precisa saber, no seminário ou na faculdade, é como uma ostra com a cabeça enterrada na areia. Neste mundo em que tudo muda rapidamente, o aprendizado contínuo pode ser a chave para a liderança bem-sucedida. Charlie Jones enfatizou o seguinte: "Nunca diga 'eu aprendi', mas 'eu estou aprendendo'; pois qualquer que seja o fato que o líder tenha aprendido no passado, ele precisa ser melhorado e aperfeiçoado. Deixando de lado os livros que tenha lido e as pessoas que tenha encontrado, um líder será a mesma pessoa que era quando começou sua carreira.

Interesse no Reino

Um líder cristão, mais do que ninguém, deve entender como a sua visão e os seus objetivos satisfazem os interesses de Deus. Se os alvos de uma organização são orientados para os valores do mundo, um homem de Deus precisará mudá-los. Jesus disse a todos para procurar o Reino de Deus, pois, na verdade, isto significa que as questões eternas são o critério final para avaliar o sucesso.
"Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus" (Cl 3.1). A morte e a ressurreição com Cristo, dramaticamente retratadas no batismo, significam que todo o propósito de vida de uma pessoa necessita ser dirigido por alvos celestiais. Não pode ser mais a quantidade de dinheiro que alguém ganha que conta, mas a quantidade de dinheiro que será colocada nas mãos de Deus para promover e manter o seu Reino. Jesus demonstrou essa realidade através da parábola do administrador infiel (Lc 16.1-13). O significado da parábola pode facilmente ser encontrado na própria explicação de Jesus: o trabalho secular e o dinheiro podem ser transformados em valores do Reino quando são usados para o benefício daqueles que deles necessitam. Não é o tamanho de uma igreja que importa, mas a dedicação de seus membros em cumprirem a Grande Comissão (Mt 28.19) e viverem o fruto do Espírito (Gl 5.22).
Da perspectiva de Deus no mundo, isto é, as atividades seculares que não têm nada a ver com o Reino de Deus, muito do que é realizado é mero desperdício de tempo e de esforço. "Vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus" (Ef 5.15,16). O não escolher dos alvos do Reino é estupidez, insensatez e má direção. Ser sábio significa fazer tudo para a glória de Deus, quer bebendo ou comendo, quer trabalhando ou brincando (1Co 10.31).
Todos os cristãos são chamados para servir a Deus em tempo integral. A diferença entre um líder religioso, tal como um pastor e um membro da igreja, e um empresário, não é que o "obreiro" serve Deus e o "leigo" a uma empresa secular. Se não há nenhuma ligação entre o trabalho de uma pessoa e o Reino, tal trabalho precisa ser abandonado. Paulo deixou bem claro que o servo cristão no primeiro século não somente servia ao seu mestre pagão, mas, na verdade, estava servindo ao Senhor e seria por ele recompensado (Ef 6.6-8). Na realidade não há nenhuma atividade secular para aqueles que põem o Reino em primeiro lugar e procuram os seus interesses acima de tudo. Tais trabalhadores "seculares" são colaboradores com Deus (1Co 3.9).

Otimismo

Dentre as mais importantes atitudes que um líder cristão pode adquirir encontra-se a habilidade de avaliar tudo o que acontece positivamente. Como um homem de fé, um líder adotará Romanos 8.28 como seu lenitivo. Pode até parecer que tudo que deveria sair errado vai provavelmente acontecer, mas isso não significa que o líder precise ficar desanimado. Deus, certamente, faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados segundo o seu propósito. Portanto, mesmo as decisões ruins e as pessoas más são forçadas pela onipotência de Deus a contribuir com algum bem para o propósito final de Deus.
Até a crucificação do nosso Senhor, o maior crime já cometido pelas mãos de iníquos, foi transformada por Deus na maior fonte de bênção para a humanidade. Paulo foi impedido de pregar a Palavra na Ásia e em Bitínia (At 16.6,7), mas isso não quis dizer que Deus não era capaz de fazer uma tremenda obra na Europa. Os aprisionamentos de Paulo foram o resultado das decisões tomadas por pessoas más, cheias de inveja e arrogância, mas isso, em hipótese alguma, significava que o sofrimento do apóstolo foi em vão. "[...] peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória" (Ef 3.13). É fácil para nós hoje vermos que aqueles aprisionamentos a Paulo ofereceram oportunidades para redigir cartas para cristãos de todas as gerações. Caso o apóstolo Paulo não tivesse sido encarcerado, é possível que Filipenses, Efésios, Colossenses, Filemom e 2 Timóteo não tivessem sido escritas. Com um Deus onipotente e soberano, não deve ser impossível ver algo positivo em tudo o que acontece ao nosso redor.

Oração Perseverante

Um líder que negligencia a oração provavelmente fracassará, enquanto aquele que faz da oração a sua atividade fundamental tem uma boa chance de alcançar o sucesso. Paulo recomendou aos líderes da igreja de Tessalônica "orar sem cessar" (1 Ts 5.19). Quando um líder perguntou ao famoso missionário e autor, J. Oswald Sanders, quais eram as melhores palavras de exortação que ele podia compartilhar, ele respondeu sem hesitação: "Vigie a sua vida devocional. Um ministério abençoado pelo Espírito é alicerçado em uma vida devocional solidária”. Dr. James Houston do Regent College, em Vancouver, no Canadá afirma audazmente que a oração é a vida do líder. Como o ar que respiramos, a oração é o ambiente que a liderança necessita para descobrir a vontade de Deus e realizar uma visão bíblica.
As decisões banhadas em orações são muito mais prováveis de serem corretas do que aquelas que são baseadas exclusivamente na inteligência humana. "Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas" (Pr 3.5,6). Nate Hubley, antigo presidente da Carter lnk Company, disse-me, muitos anos atrás, que ele podia escolher executivos importantes para gerenciar sua companhia somente depois de orar intensamente pela direção de Deus. Pela oração, ele era capaz de efetivamente estar seguro da assistência de Deus.
Um líder que caiu em sério pecado moral já tinha fracassado antes mesmo que escandalosamente pecasse. Sua vida de oração era um fracasso. Seu pecado era um dos que Samuel prometera não cometer. "Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós [...]" (1Sm 12.23). A oração cria a comunhão (koinonia) com Deus e com a sua vontade; o Getsêmani revela esse principio na vida e morte de Jesus. Assim, quem ora se unirá, como o próprio Jesus foi unido, com a perfeita e soberana vontade de Deus. Naquela posição maravilhosa, providenciada por Jesus Cristo, nós podemos orar a Deus em seu nome e, com o seu aval, que nos dá a certeza de sermos ouvidos pelo Autor do universo.
O que é mais importante para um pastor do que a comunhão com Deus? E. Stanley Jones missionário na Índia escreveu: "A oração é a entrega à vontade de Deus e a cooperação com aquela vontade. Se eu jogo para fora do barco uma âncora para alcançar a margem, eu puxo a margem para mim ou eu puxo o meu barco para a margem? A oração não está puxando Deus para fazer a minha vontade, mas ela está acomodando a minha vontade a vontade de Deus".

Mantendo a Coisa Principal como a "Coisa Principal"

As lições da história provam que uma das estradas mais duras para os líderes seguirem é o caminho que mantêm o propósito original e central da organização nos eixos. O propósito original da Universidade de Harvard era treinar homens piedosos para o ministério do Evangelho. Hoje, ela é uma instituição mais conhecida por sua perspectiva secular do que pela sua propagação das Boas Novas. O primeiro presidente da Universidade Princeton foi Jonathan Edwards, sem dúvida alguma, um dos homens mais piedosos que já andou na face da Terra. A Princeton, hoje, é mais notada pela incredulidade e pelo humanismo do que pela piedade. A coisa principal foi descarrilada há muito tempo.
Pedro afirmou claramente que o propósito do Evangelho é produzir o amor fraternal não fingido (IPe 1.22). Se uma igreja não é notada pelo seu amor fraternal, a conclusão é óbvia: a coisa principal deixou de ser a coisa principal. O mesmo princípio é válido para qualquer organização fundada e dirigida por um cristão.
Os líderes na igreja de Corinto agiram como se a coisa principal fosse o dom de línguas. Paulo corrigiu a maneira errada deles pensarem escrevendo o capítulo 13 de sua primeira carta. Nem a língua de anjos, nem a língua de homens, nem as profecias, nem o conhecimento dos mistérios, nem a fé e nem o sacrifício da vida são dignos de coisa alguma, sem o amor. Uma organização cristã ou uma igreja que é omissa em ensinar seus membros como amar a Deus acima de todas as coisas, e ao seu próximo como a si mesmo, está perdendo a sua direção. Um líder que não procura consertar tais desvios, erra tristemente na perspectiva de Deus, embora ele possa ter um sucesso grandioso aos olhos dos homens.
Muitas igrejas poderiam, sem hesitação, declarar que sua "coisa principal" é o evangelismo. Essa prioridade não deve estar longe do centro da vontade de Deus, como sugerido por João 3.16. Se Deus amou o mundo o suficiente para dar o seu único Filho para a sua redenção, os grupos e os indivíduos que não fazem do evangelismo a sua prioridade têm desviado da "coisa principal". A Grande Comissão para levar o Evangelho a todas as nações, e fazer discípulos delas, necessita estar perto da coisa principal para o nosso Senhor Jesus. Quando missões são de menor importância do que o caro e o impressionante prédio de uma igreja, quando o ar condicionado ou o roupa do coral toma o lugar da preocupação pelos necessitados, é difícil escapar da conclusão de que a coisa mais importante tenha sido rebaixada. Quando tais erros são cometidos, na maioria das vezes, os líderes foram os quem falharam.

Conclusão

A decisão de Deus criar o homem a sua imagem e semelhança tinha o objetivo de encher a terra com criaturas inteligentes que pudessem liderar ("tenha domínio”, Gn 1.26) debaixo da soberania geral de Deus. A Queda deturpou o propósito de Deus na criação, pois o homem pecador procurou dominar para a sua própria satisfação egoísta. Essa é a única explicação para todos os males encontradas na sociedade humana. A ganância, a hostilidade e o egoísmo que motiva a liderança sem Deus deixam as suas marcas inconfundíveis em todos os grupos imperfeitos, incluindo nas Igrejas.
Nós temos procurado demonstrar as atitudes piedosas necessárias para a liderança que Deus pode usar. Se as atitudes pecadoras não fossem prevalecentes, o propósito original da criação do homem seria predominante. A liderança que, de alguma forma, inclui domínio sobre as pessoas, pode ser uma boa coisa quando ela é centralizada em Deus e reflete o seu caráter santo e amoroso. Os problemas na liderança podem, na maioria dos casos, ser explicados pelo fracasso na prática de uma liderança piedosa, ou por seguidores pecadores que rejeitam os valores bíblicos que um líder piedoso tem procurado implementar.
A Bíblia proporciona os melhores exemplos de líderes piedosos para serem imitados. Porém, nenhum exemplo pode se comparar com a liderança de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Se os cristãos aceitassem o seu convite para tomarem o seu jugo sobre si mesmos e aprenderem dele (Mt 11.29), a liderança piedosa seria algo normal. Juntamente com a pessoa e o ensinamento do nosso Senhor, as Escrituras nos conduzem para a direção de muitas outras lições valiosas e uma liderança segundo o coração de Deus. O leitor deve estar alerta para aproveitar esses exemplos.
(O líder que Deus usa – Russel Shed. Pg.54)

Nenhum comentário:

Postar um comentário