sexta-feira, 27 de junho de 2014

Elementos Diferentes na Conversão

Já transparece na seção anterior que a conversão compreende dois elementos, quais sejam, o arrependimento e a fé. Destes, o primeiro é retrospectivo e o segundo é prospectivo. O arrependimento relaciona-se diretamente com a santificação, enquanto que a fé está estreitamente, embora não exclusivamente, relacionada com a justificação. Em vista do fato que a fé será discutida num capítulo à parte, vamos limitar-nos ao arrependimento aqui, definindo-o como a mudança produzida na vida consciente do pecador, pela qual ele abandona o pecado.
1. ELEMENTOS DO ARREPENDIMENTO. Distinguimos três elementos no arrependimento:
a. Um elemento intelectual. Há uma mudança de conceito, um reconhecimento de que o pecado envolve culpa pessoal, contaminação e desamparo. Este elemento é designado na Escritura como epignosis hamartias (conhecimento do pecado), Rm 3.29, cf. 1.32. Se este não for acompanhado pelos elementos subseqüentes, poderá manifestar-se como temor do castigo, sem ódio ao pecado.
b. Um elemento emocional. Há uma mudança de sentimento que se manifesta em tristeza pelo pecado contra um Deus santo e justo, Sl 51.2, 10, 14. Este elemento do arrependimento é indicado pelo verbo metamelomai. Quando acompanhado pelo elemento subseqüente, é lupe kata theou (tristeza segundo Deus), mas se não for acompanhado por ele, será lupe tou kosmou (tristeza do mundo), que se manifesta em remorso e desespero, 2 Co 7.9, 10; Mt 27.3; Lc 18.23.
c. Um elemento volitivo. Há também um elemento volitivo, que consiste numa mudança de propósito, num abandono interior do pecado e numa disposição para a busca do perdão e da purificação, Sl 51.5, 7, 10; Jr 25.5. Este elemento inclui os outros dois, e, portanto, é o aspecto mais importante do arrependimento. É indicado na Escritura pela palavra metanoia, At 2.38; Rm 2.4.
2. O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA , DA IGREJA CATÓLICA ROMANA. A Igreja de Roma exteriorizou inteiramente a idéia de arrependimento. Os elementos mais importantes do seu sacramento da penitência são a contrição, a satisfação e a absolvição. Destes quatro, a contrição é o único que pertence propriamente ao arrependimento, e mesmo deste o romanista exclui toda tristeza pelos pecados inatos, e só retém a tristeza pelas transgressões pessoais. E porque uns poucos experimentam a contrição real, ele também se satisfaz com a atrição. Esta é “a convicção mental de que o pecado merece punição, mas não inclui a confiança em Deus e o propósito de abandonar o pecado. É o medo do inferno” . Confissão, na Igreja Católica Romana, é confissão ao sacerdote, que absolve o confessante, não declarativa, mas judicialmente. Além disso, a satisfação consiste na prática da penitência pelo pecador, isto é, suportando ele alguma coisa dolorosa, ou realizando alguma tarefa difícil ou desagradável. A idéia central é que tais práticas externas constituem realmente uma satisfação pelo pecado.
3. CONCEITO BÍBLICO DE ARREPENDIMENTO. Contra esse conceito externo de arrependimento, a idéia escriturística deve ser defendida. De acordo com a Escritura, o arrependimento é um ato totalmente interno, e não deve ser confundido com a mudança da vida que dele procede. A confissão do pecado e a reparação dos males praticados são frutos do arrependimento. O arrependimento é somente uma condição negativa, e não um meio positivo de salvação. Embora sendo o dever do atual pecador, não vale para as exigências da lei quanto às transgressões passadas. Além disso, o arrependimento jamais existe, senão em conjunção com a fé, ao passo que, por outro lado, onde quer que haja fé verdadeira, há também arrependimento verdadeiro. Ambos são apenas diferentes aspectos do mesmo movimento – movimento de abandono do pecado em direção a Deus. Lutero falava às vezes de um arrependimento que antecede à fé, mas, sem embargo, parece que concordava com Calvino em considerar o arrependimento verdadeiro como um dos frutos da fé. Os luteranos gostam de salientar o fato de que o arrependimento é produzido pela lei, e a fé pelo, Evangelho. Devemos ter em mente, porém, que os dois são inseparáveis; são simplesmente complementares do mesmo processo.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 484)

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