quinta-feira, 5 de junho de 2014

EQUILÍBRIO NA LIDERANÇA DE ESTILO

Um líder precisa de equilíbrio para produzir influência positiva em seu grupo. Examine o fracasso de uma liderança e há grande possibilidade de se constatar que o extremismo fatal de um líder tenha trazido a organização para baixo. A navegação tranqüila na corrente da vida é tão importante para um líder quanto para um barco navegando no rio Amazonas. Em uma manhã de 1953, o S. S. North American estava navegando o rio Sioux Saint Marie, que divide as fronteiras do Canada e dos Estados Unidos. O barco desviou-se do centro. As marcas do canal claramente mostravam onde o centro do rio estava, mas o timoneiro ignorou as bóias. Em poucos minutos, o barco de 2.000 toneladas emperrou-se na lama. Eu estava naquele barco. Embora não entendesse de navegação, pude prever corretamente o que aconteceria quando o navio desviou-se do canal marcado no meio do rio.
O que acontece no mundo da navegação aplica-se à liderança. Um líder que não evita extremos, quase que certamente, tropeçará, e fracassará. Há dezenas de possíveis extremos que ameaçam a liderança. McDermott escreveu que a vida do santo "[...] não tem o tremendo desequilíbrio que em geral caracteriza a espiritualidade falsa". O equilíbrio cristão deve unir a alegria pela salvação, a tristeza pelos pecados, o amor por Deus e pelos outros, o amor pelo pr6ximo e pela família, o amor pelo corpo e alma, a preocupação pelos pecados pr6prios juntamente com a que se tem pelos pecados dos outros e, finalmente, o culto público e o pessoal.
Os exemplos que seguem foram escolhidos para destacar os perigos que ameaçam a vida desequilibrada de um líder. Algumas ilustrações bíblicas nos ajudarão lembrar as conseqüências benéficas do equilíbrio e os perigos de desviar-se do centro.

Observe a Linha Divisória entre a Determinação e a Teimosia

A rigidez em um líder não é benéfica, tanto quanto uma montanha não é benéfica para um grupo de construção de estrada, ou uma parede de granito para uma furadeira. Ninguém poderia ter acusado William Carey de ter sido desorientado ou sem determinação. Ele usou-se do seguinte lema: "Espere coisas grandes de Deus; e aspire fazer coisas grandes para Deus". Essa determinação, diante de constantes dificuldades e oposições, é aquilo que compõe o verdadeiro líder, e não a teimosia.
O rei Roboão, por outro lado, caiu no erro da teimosia recusando-se aliviar o jugo pesado do povo. Por isso, ele perdeu a maior parte do seu reino (lRs 12). A divisão do reino provocou a tragédia de guerras futuras que enfraqueceram ambos os reinos. Acima de tudo ela desviou o reino do norte da adoração a Deus, em Jerusalém, sob a liderança de reis que, antes, andavam no caminho do Senhor. Um líder sábio anda na linha que separa a determinação da teimosia; uma linha crucial para uma liderança bem-sucedida.
Escolha o Meio Termo entre a Flexibilidade e a Indecisão

A adaptabilidade a face de mudanças rápidas é a marca niveladora da liderança de qualidade. O profeta Jeremias teve que se adaptar às mudanças radicais que ocorreram durante a sua vida. Por quarenta anos, ele profetizou sob o reinado de um bom rei, como Josias, e péssimos reis, como Jeoaquim, Joaquim e Zedequias. Jeremias se opôs à política desses reis, que, por sua vez, perseguiram o profeta. Durante todas as calamidades da má liderança no trono, em liberdade e cativeiro, esse homem de Deus vivera sob a direção de Deus, e profetizara sua Palavra (23.28-32). A flexibilidade tornou-se a característica necessária de sua vida, mas sem ter abandonado seus princípios.
Em contraste, considere Balaão, o adivinho. Ele disse que s6 poderia falar aquilo que o Senhor o permitisse, todavia, tempos depois o encontramos montado em seu jumento, na esperança de amaldiçoar a Israel e de receber uma recompensa valiosa. Passados alguns dias, ele encontra¬se com o Senhor como o seu adversário, e não como fonte de bênçãos (Nm 22.32). Balaão ganhou a reputação daquele que induziu Israel a pecar, embora de sua boca, ele tenha pronunciado uma bênção sobre o povo escolhido (Nm 23,24). Tiago questionou se seria possível de uma "única fome jorrar tanto o que é doce como o que é amargoso" (Tg 3.11). A inconsistência em um líder, como uma parede construída de lama e de pedra, não poderá durar por muito tempo ou beneficiar uma organização.

Seja Firme em vez de Prepotente

Davi demonstrou equilíbrio navegando no centro entre o poder de limitação pr6pria e o despotismo. "Um homem de verdade como Davi é raro de ser encontrado na Igreja. Ele intimidaria demais as pessoas. Davi tinha sido um homem severo que podia sobreviver sozinho em uma região rústica de Judá. Fora forte o suficiente para matar um leão, e valente o bastante para confrontar e derrubar Golias". Por diversas vezes podemos ver esse homem escolhendo o curso médio, evitando o abuso do poder para a gratificação pessoal. É necessário ser um homem valente para confessar o pecado do adultério e do assassinato. Não foi um ditador prepotente que escreveu: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável" (SI 51.10). O homem de estado, Davi, viveu na prática o equilíbrio raro entre a força própria e a confiança no Senhor. Ele nunca agiu como um déspota. Imagine Alexandre, o Grande, ou Napoleão, despejando a água que os valentes de Davi lhe trouxeram do poço de Belém. Foi o seu temor piedoso do Senhor que fez toda a diferença. Ouça suas palavras: "Longe de mim, ó SENHOR, fazer tal coisa; beberia eu o sangue dos homens que lá foram com perigo de sua vida"? (2Sm 23.17).

Perdoe o Pecado sem Desculpá-lo

Jesus ensinou a surpreendente exigência de se perdoar pecados setenta vezes sete (Mt 18.22). Ele disse aos acusadores da mulher adúltera, que consideravam-se justos, que eles tinham sua permissão para apedrejá-la caso não tivessem nenhum pecado. Ele deixou-a partir sem acusações com a seguinte palavra: "Ninguém te condenou? [...] Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais" (Jo 8.10,11).
Porém, foi Jesus que também chamou os líderes espirituais de seus dias: "Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno"? (Mt 23.33). É evidente que nosso Senhor escolheu o curso médio entre condenar os hipócritas e perdoar os arrependidos.
Paulo exortou os efésios a perdoarem-se uns aos outros, "como também Deus, em Cristo, vos perdoou" (Ef 4.32). Porém, ele também mandou os coríntios entregarem o escandaloso pecador a Satanás para a destruição da carne (1Co 5.5). Esses casos, e muitos outros na Escritura, encorajam o perdão e a disciplina. Ambas as atitudes, mantidas em tensão, são essenciais para o bem-estar da Igreja e o sucesso da organização.

Seja Humilde em vez de Bajulador ou Tímido

Samuel demonstrou o equilíbrio entre esses dois horizontes. Desde sua infância sob a tutela de Eli até a sua morte, esse servo do Senhor apresentou força com humildade. A má notícia que o Senhor lhe dera para passar a Eli foi entregue de forma relutante, mas fielmente. "Então, Samuel lhe referiu tudo e nada lhe encobriu. E disse Eli: É o SENHOR; faça o que bem lhe aprouver. Crescia Samuel, e o SENHOR era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra” (1Sm 3.18,19).
Timóteo, com sua tendência natural à timidez e à insegurança emocional, precisou se lembrar de que Deus não nos tem dado um espírito de covardia, mas de poder, de amor e moderação (2Tm 1.7). Ele deveria fortificar-se na graça que está em Cristo Jesus (2.1). Não deveria permitir que as pessoas lhe intimidassem ou desprezassem pela sua mocidade (1 Tm 4.12). Ninguém poderia deixar de notar a humildade de Timóteo, expressa de forma tão maravilhosa por Paulo: "Porque a ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses; pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus. E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai" (Fp 2.20-22). Apesar do acanhamento natural de Timóteo, Paulo lhe escolhera para confrontar os coríntios antes mesmo de Paulo encontrar-se com eles (1Co 4.17).

Seja Decisivo em vez de Independente

Um líder piedoso precisa manter-se firme à sua visão, lançando fora todas as ações e os desvios estranhos ou prejudiciais. Os objetivos de uma organização são centrais. Elias se sobressai como o exemplo bíblico de decisão. Se Deus lhe falasse para viver ao longo da torrente de Queribe que lentamente secava e que dependesse de corvos para alimentar-se, isso era o que Elias faria. Não houve hesitação, reclamação ou dúvidas. Se alguém precisava desafiar todos os profetas de Baal e a rainha pagã Jezabel, Elias era o homem qualificado para isso. Será que existiu outro homem de decisão como Elias?
Foi o mesmo homem, Elias, que ouviu o cicio tranqüilo e suave (1Rs 19.12) que lhe deu diretrizes para a continuação de seu ministério em Israel. Os líderes qualificados necessitam do discernimento para saber quando a decisão é necessária e quando as boas sugestões devem ser adotadas. O tempo excessivo desperdiçado em comissões e infinitos encontros podem paralisar uma organização. As decisões sem ouvir as opiniões contrárias pode afundar todo o propósito de existência do grupo. A independência de ação pode cortar um pastor de sua base de suporte, deixando-o como uma árvore em uma barragem depois do rio ter lavado o solo de suas raízes.

Promova Seguidores Leais em vez de Homens de "Sim"

A lealdade de Daniel ao rei o colocou na posição da pessoa favorita do monarca. Dário, o medo, podia contar com Daniel para conselhos e apoio. Porém, quando o rei assinara o decreto que tinha como intuito cessar suas orações diárias, Daniel não demonstrou hesitação alguma em desobedecer a ordem que poderia ter-lhe custado a própria vida. O andar íntimo de Daniel com Deus fez com que a sua liderança fosse equilibrada. Alguns líderes podem facilmente cair na armadilha de acreditar que um seguidor que fala a verdade é desleal. Muito melhor do que cercar-se com homens que somente falam para seus líderes o que eles querem ouvir é o rei ou o pastor que tem conselheiros leais que lhe dizem a verdade.
É importante discernir a diferença entre poder e autoridade. O poder é a habilidade de forçar outras pessoas a fazer a sua vontade, mesmo que eles não queiram fazê-la. Autoridade, por outro lado, é a habilidade de se agrupar pessoas para fazer aquilo que você quer porque estas reconhecem que isso é o certo. Pilatos tinha o poder, mas Jesus tinha a autoridade (cf. Mt 28.18).

Seja Manso em vez de Fatalista

Jesus chamou seguidores para aprenderem dele a mansidão (Mt 11.28,29). Sua mansidão na presença de seus atormentadores dá um exemplo que o mundo inteiro deve imitar. Contudo, o nosso Senhor não era um fatalista. Ele foi completamente manso na presença do mal que o cercava, mas aquilo nunca o fez apático. Ele foi emocionalmente e espiritualmente comprometido com o Reino do Pai, para que ele não pudesse aceitar o mal em sua volta como algo inevitável. Fé não é a mesma coisa que resignação. Kierkegaard foi claro nisso. Uma vez que perdemos a fé, resignação é tudo que resta. Através da fé, a mansidão pode suportar longos anos de aprisionamento com esperança e expectativa.
Jesus orou por Pedro antes que este o negasse três vezes. Ele encorajou Pedro a fortalecer seus irmãos uma vez que tivera seu majestoso retorno (conversão). Não houve fatalismo em seu tratamento para com esse discípulo.
O tratamento de Jesus para com Judas demonstra o equilíbrio notável entre a mansidão excessiva e a apatia. Jesus não sentiu necessidade de informar aos outros discípulos do defeito fatal de Judas. Evidentemente, os colegas não suspeitaram que Judas era um ladrão. Parece que até próximo do fim, Jesus tratara o seguidor desleal como alguém igual a qualquer outro. Ninguém poderia ter imaginado que Judas estava além de qualquer esperança. Contudo, Jesus sabia que Judas o trairia, então, ele finalmente revela o fato (Mt 26.20-25).

Procure o Curso Médio entre a Mesquinhez e o Desperdício

Abraão reconheceu a voz de Deus quando este mandou que levasse seu único filho, Isaque, e o sacrificasse no monte Moriá. O seu amor e o seu compromisso com o Senhor foi tamanho que ele não hesitou em cumprir aquela missão impossível. Abraão bem sabia que não podia agarrar-se a seu filho. As crianças são apenas emprestadas aos pais. Seu almejo de obedecer a Deus estava temperado com a certeza de que Deus era suficientemente "poderoso até para ressuscitá-Io dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou" (Hb 11.19). Abraão recusou a alimentar-se de pensamentos de que o sacrifício de Isaque poderia tornar-se em tal desperdício de partir o coração. Ele tampouco segurou-se a Isaque com uma possessão pecaminosa. Assim, Abraão antecipou o presente de Deus à humanidade na pessoa de seu Filho, Jesus (Rm 8.32).
Jefté, por outro lado, ofereceu como sacrifício sua filha como um tipo de pagamento a Deus pela vitória que ele esperava que Deus lhe daria. Seu voto (Jz 11.30,31) foi planejado para pressionar Deus a fazer aquilo que ele queria. Porém, não há qualquer indício de que Deus deseja sacrifícios humanos. O seu sacrifício foi um desperdício lamentável. O compromisso sacrificador ao Senhor é uma norma bíblica. "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me" (Mc 8.34). Mas o suicídio, o homicídio ou algum outro exemplo de oferta desperdiçada, não agradam a Deus.
Muitas organizações têm deixado de existir devido ao fracasso de encontrar o curso médio entre a mesquinhez e o desperdício. Especialmente comuns, são aqueles casos onde o dinheiro é despejado em um projeto digno sem um cuidadoso controle de orçamento que poderia evitar a vergonha de contas não pagas e de uma montanha de dívidas. Por outro lado, muita preocupação com assuntos financeiros pode indicar falta de fé. Se o progresso de uma organização pode ser feito através de investimentos em pessoas e dinheiro, eles devem ser feitos com muita oração e um planejamento cuidadoso.

Mantenha o Equilíbrio entre o Amor e a Verdade

Os líderes piedosos lembram que a verdade é tão importante quanto o amor. Se a verdade é reprimida pelo interesse de proteger uma ação pecaminosa, o amor será sacrificado junto com a verdade. A confrontação é um atributo necessário da verdade. Jesus é a verdade. Ele não tolera a hipocrisia. Ele é o herói daqueles que reconhecem o valor da confrontação e de se falar a verdade em amor.
Jesus, como a Verdade Viva de Deus, foi também o exemplo máximo de amor. Ele ofereceu o melhor exemplo de curso médio entre o amor e a verdade. O que se pode ganhar em confrontar o jovem rico sem amor (Mc 10.21)? Acompanhada de amor, a verdade pode conseguir uma resposta positiva mais tarde. O jovem rico pode ter se tornado um seguidor do Senhor após sua morte e ressurreição.
O amor sem a verdade pode destruir o futuro de uma criança. Pais, que continuamente, encorajam suas crianças falando como elas são comportadas e inteligentes, mas fracassam em impressioná-las com a gravidade de seus fracassos e a falta de disciplina, não são os candidatos a ter filhos obedientes e bem comportados. O mesmo se aplica ao líder que esconde a verdade apenas elogiando os membros de sua igreja ou sua organização. Os pais piedosos fazem a combinação do amor com a verdade.

Mantenha a Visão sem Ser Visionário

O equilíbrio entre a visão e a praticabilidade não deve ser perdida. Um líder que tem grandes sonhos, mas não tem seus pés no chão, tem pouco valor para a Igreja hoje. Que benefício há em se desenhar uma igreja imensa, ou um orfanato, ou um projeto de evangelização da cidade de São Paulo, mas não ter alvos mensuráveis para tornar a visão em realidade? A pessoa visionária tem boas idéias, mas carece os meios de realizá-las no tempo e no espaço.
Jesus viu 5000 homens com fome, sem contar as mulheres e as crianças. Quando ele disse a seus discípulos para dar-Ihes comida, eles ficaram perdidos, pois não sabiam o que fazer. André, porém, trouxe um menino a Jesus, e mostrou-lhe que, pelo menos, ali tinha um pequeno começo. Jesus completou a visão multiplicando o pequenino lanche em uma festa.
Jesus vislumbrava uma igreja que pudesse conquistar nações. Na realidade, isso foi um sonho, mas não um sonho sem planos práticos para agir. Ele escolheu doze e depois setenta discípulos para treinar. Mais tarde, ele comissionou-os para cumprir aquela visão. Os resultados hoje são visíveis em todo lugar.

Seja Corajoso em vez de Negligente

Gideão demonstra-nos o curso médio entre precaução e negligência. Pelos conhecidos testes com o orvalho (Jz 6.36-40), Gideão procurou a certeza de Deus de que seu poder zeloso traria vitória sobre os midianitas. Gideão, todavia, não foi tão cauteloso ao ponto de não poder agir, mesmo com o pequeno exército de 300 homens que Deus lhe arrumara para enfrentar a batalha.
A liderança de excelência não comprometerá os homens e os recursos em projetos que não tenham alguma garantia de sucesso. Jesus alertou contra o crente zeloso que decide segui-lo sem primeiro calcular o custo (Lc 14.28-33). Tal imprudência reveste o nome de Cristo de trapos nada atraentes. Também cobre com vergonha o candidato negligente do Reino de Deus. É bem melhor ser cauteloso e considerar o preço antes de mergulhar nas profundezas para nadar contra a corrente. É bem melhor pular no barco salva-vidas do que permanecer no Titanic que se afunda.
(O líder que Deus usa – Russel Shedd. Pg.)

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