sexta-feira, 27 de junho de 2014

Conceitos Divergentes de Regeneração

1. CONCEITO PELAGIANO. De acordo com os pelagianos, a liberdade e a responsabilidade pessoais do homem implicam que ele, em todos os tempos, tanto é capaz de desistir de pecar como de cometer pecado. Somente os atos de volição consciente são tidos como pecados. Em conseqüência, a regeneração consiste simplesmente numa reforma moral. Quer dizer que o homem, que antes optou pela transgressão da lei, agora opta por viver em obediência.
2. REGENERAÇÃO BATISMAL. Esta nem sempre é apresentada do mesmo modo.
a. Na Igreja de Roma. Segundo a Igreja Católica Romana, a regeneração inclui, não somente a renovação espiritual, mas também a justificação ou o perdão, e é efetuada por intermédio do batismo. No caso das crianças, a obra de regeneração é sempre eficaz; não assim no caso dos adultos. Estes podem prazerosamente aceitar e utilizar a graça da regeneração, mas também podem resistir-lhe e torna-la eficaz. Além disso, é sempre possível que aqueles que se apropriam dela venham a perde-la de novo.
b. Na Igreja Anglicana. A Igreja da Inglaterra não é unânime sobre este ponto, apresentando duas tendências diferentes. Os puseytas, assim chamados, concordam no essencial com a igreja de Roma. Mas há também uma influente parte da igreja que distingue duas espécies de regeneração: uma consiste meramente numa mudança da relação da pessoa com a igreja e com os meios de graça; a outra, numa mudança fundamental da natureza humana. De acordo com este grupo, somente a primeira delas é efetuada pelo batismo. Esta regeneração não inclui nenhuma renovação espiritual. Por meio dela, o homem apenas entra numa nova relação com a igreja, e se torna filho de Deus no mesmo sentido em que os judeus se tornaram filhos de Deus pela aliança, cujo selo era a circuncisão.
c. Na Igreja Luterana. Lutero e seus seguidores não conseguiram purificar a igreja do fermento de Roma sobre este ponto. De modo geral, os luteranos defendem, em oposição a Roma, o caráter monergista da regeneração. Consideram o homem inteiramente passivo na regeneração e incapaz de contribuir com alguma coisa para ela, embora os adultos lhe possam fazer resistência por muito tempo. Ao mesmo tempo, alguns ensinam que o batismo, agindo ex opere operato, é o meio usual pelo qual Deus efetua a regeneração. È o meio usual, mas não o único, pois a pregação da Palavra também pode produzi-la. Falam eles de duas espécies de regeneração, quais sejam, a regeneratio prima (primeira regeneração), pela qual a nova vida é gerada, e a regeneratio secunda (segunda regeneração, ou renovação), pela qual a nova vida é conduzida em direção a Deus. Enquanto que as crianças recebem a regeneratio prima por meio do batismo, os adultos, que recebem a primeira regeneração por meio da Palavra, tornam-se participantes regeneratio secunda através do batismo. Segundo os luteranos, a regeneração pode ser perdida. Mas, pela graça de Deus, pode ser restabelecida no coração do pecador penitente, e isto sem rebatismo. O batismo é um penhor da continuada prontidão de Deus para renovar o batizado e perdoar os seus pecados. Além disso, nem sempre a regeneração é realizada completa e imediatamente, mas muitas vezes é um processo gradual na vida dos adultos.
3. O CONCEITO ARMINIANO. De acordo com os arminianos, a regeneração não é exclusivamente obra do homem. É fruto da escolha do homem, pela qual ele se decide a cooperar com as influências divinas externas por meio da verdade. Estritamente falando, a obra do homem é anterior à de Deus. Os arminianos não admitem que haja uma obra prévia de Deus pela qual a vontade é inclinada para o bem. Naturalmente, eles acreditam também que se pode perder a graça da regeneração. Os arminianos wesleyanos alteraram este conceito no sentido de que salientam o fato de que a regeneração é obra do Espírito, ainda que em cooperação com a vontade humana. Eles admitem uma operação prévia do Espírito Santo para iluminar, despertar e atrair o homem. Contudo, eles também acreditam que o homem pode resistir a esta obra do Espírito Santo, e que, enquanto resistir, permanecerá em sua condição não regenerada.
4. O CONCEITO DOS TEÓLOGOS MEDIATÁRIOS. Este conceito segue modelo panteísta. Após a encarnação, não existem duas naturezas separadas em Cristo, mas somente uma natureza divino-humana, uma fusão da vida divina e humana. Na regeneração, uma parte dessa vida divino-humana é introduzida no pecador. Isto não requer operação separada do Espírito Santo toda vez que se regenera um pecador. A nova vida foi comunicada à igreja uma vez por todas, é agora uma permanente possessão da igreja, e passa da igreja para o indivíduo. A comunhão com a igreja também garante a participação da nova vida. Este conceito ignora inteiramente o aspecto legal da obra de Cristo. Além disso, torna impossível afirmar que alguém pôde ser regenerado antes de vir à existência a vida divino-humana de Cristo. Os santos do Velho Testamento não puderam ser regenerados. O pai desta idéia é Schleiermacher.
5. O CONCEITO TRICOTÔMICO. Alguns teólogos elaboraram uma peculiar teoria da regeneração baseados no conceito tricotômico da natureza humana. Este conceito parte do pressuposto de que o homem consiste de três partes – corpo, alma e espírito. Geralmente se admite, embora haja variações sobre este ponto, que o pecado tem sua sede somente na alma, e não no espírito (pneuma). Se tivesse penetrado o espírito, o homem estaria irremediavelmente perdido, exatamente como os demônios, que são seres puramente espirituais. O espírito é a vida superior e divina do homem, destinada a dominar e dirigir a vida inferior. Pela entrada do pecado no mundo, a influencia do espírito sobre a vida inferior é por demais enfraquecida; mas, pela regeneração é fortalecida novamente, e se restabelece a harmonia na vida do homem. Esta é, naturalmente, uma teoria puramente racionalista.
6. O CONCEITO DO LIBERALISMO MODERNO. Os teólogos “liberais” dos dias atuais não têm todos o mesmo conceito de regeneração. Alguns falam em termos que lembram o conceito de Schleiermacher. Mais geralmente, porém, eles defendem uma idéia puramente naturalista. São avessos à idéia de a regeneração é uma obra sobrenatural e recriadora de Deus. Em virtude do Deus imanente, todo homem tem em si um princípio divino e, assim, possui potencialmente tudo que é preciso para a salvação. A única coisa necessária é que o homem tome consciência da sua divindade potencial, e que se submeta conscientemente à direção do princípio superior que nele há. A regeneração é uma simples mudança ética no caráter.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Que outros termos e expressões a Bíblia usa para designar a obra da regeneração? 2. A Bíblia distingue nitidamente entre vocação, regeneração, conversão e santificação? 3. Como explicar que a Igreja Católica Romana inclui até a justificação na regeneração? 4. Como diferem a regeneração e a conversão? 5. Existe o que chamam de graça proveniente, que antecede a regeneração e prepara para ela? 6. O que é a regeneração ativa, em distinção da regeneração passiva? 7. A passividade do homem na regeneração dura algum tempo? 8. A idéia de que a Palavra de Deus não é instrumento para a efetuação da regeneração faz a pregação da Palavra parecer fútil e completamente desnecessária? 9. Isto não leva às bordas do misticismo?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Kuiper, Dict. Dogm., De Salute, p. 70-83; ibid., Het Werk van den Heiligen Geest II, p. 140-162; Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 11-82; ibid., Roeping en Wedergeboorte; Mastricht, Godgeleerdheit VI, 3; Dick, Theology, Lect. LXVI; Shedd, Dogm. Theol.II, p. 490-528; Dabney, Syst. And Polem. Theol., Lect. XLVII: Vos, Geref. Dogm. IV, p. 32-65; Hodge, Syst. Theol. III, p. 1-40; McPherson, Chr. Dogm., p. 397-401; Alexander, Syst. Of Bib. Theol. II, p. 370-384; Litton, Introd. to Dogm. Theol. II, p. 313-321; Schmid, Doct. Theol. of the Ev. Luth. Church, p. 463-470; Valentine, Chr. Theol. II, p. 242-271; Raymond, Syst. Theol. II, p. 344-359; Pope, Chr. Theol. III, p. 5-13; Strong, Syst. Theol., p. 809-828; Boyce, Abstract of Syst. Theol., p. 328-334; Wilmers, Handbook of the Chr. Rel., p. 314-322; Anderson, Regeneration.
(Teologia Sistemática – Lois Berkhof. Pg. 477)

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