terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A Ceia do Senhor Como Meio de Graça ou Sua Eficácia

O sacramento da Ceia do Senhor, instituído pessoalmente pelo Senhor como sinal e selo, também é, como tal, um meio de graça. Cristo o instituiu em benefício dos Seus discípulos e de todos os crentes. A clara intenção do Salvador era que os Seus seguidores tirassem proveito da sua participação nele. Isto ocorre do próprio fato de que Ele o instituiu como sinal e selo da aliança da graça. Pode-se inferir também do comer e do beber simbólicos, que indicam nutrição e vivificação, e de passagens como Jo 6.48-58 (independentemente da questão se esta se refere diretamente à Santa Ceia ou não), e 1 Co 11.17.
1. A GRAÇA RECEBIDA NA CEIA DO SENHOR. A Ceia do Senhor se destina a crentes, e, daí, não serve de instrumento para a originação da obra da graça no coração do pecador. Pressupõe-se a presença da graça de Deus nos corações dos participantes. Jesus a ministrou unicamente aos Seus seguidores professos; conforme At 2.42, 46, os que creram persistiam perseverantemente no partir do pão; e em 1 Co 11.28, 29 dá-se ênfase à necessidade de exame próprio antes da participação na Ceia do Senhor. A graça recebida no sacramento não difere, em espécie, da que os crentes recebem pela instrumentalidade da Palavra. O sacramento apenas aumenta a eficiência da Palavra e, portanto, aumenta a porção da graça recebida. É a graça de uma comunhão cada vez mais íntima com Cristo, de nutrição e vivificação espiritual, e de uma crescente segurança da salvação. A Igreja Católica Romana enumera especificamente a graça santificante, graças atuais especiais, a remissão dos pecados veniais, a preservação do fiel quanto ao pecado mortal, e a segurança da salvação.
2. O MODO PELO QUAL SE PRODUZ ESTA GRAÇA. Como funciona o sacramento com relação a isto? Será a Santa Ceia, de algum modo, uma causa meritória da graça conferida? Ela confere graça, independentemente da condição espiritual do participante, ou não?
a. O conceito católico romano. Para os católicos romanos, a Ceia do Senhor não é apenas um sacramento, mas também um sacrifício; é até mesmo, antes de tudo, um sacrifício. É “a renovação incruenta do sacrifício da cruz”. Isto não significa que na Ceia do Senhor, Cristo torna a morrer, mas que Ele sofre uma mudança externa que de algum modo equivale à morte. Não falou o Senhor do pão como o Seu corpo partido pelos discípulos, e do vinho como o Seu sangue derramando por eles? Os polemistas católicos romanos às vezes dão a impressão de que esse sacrifício tem caráter apenas representativo e comemorativo, mas não é esta a verdadeira doutrina dessa igreja. O sacrifício de Cristo na Santa Ceia é considerado como sendo um verdadeiro sacrifício, e se supõe que ele tem valor propiciatório. Quando se levanta a questão sobre o que esse sacrifício merece pelo pecador, as autoridades católicas romanas começam a fazer rodeios e a usar linguajar incoerente. A exposição de Wilmers em seu Manual da Religião Cristã (Handbook of the Christian Religion), utilizado como livro-texto em muitas escolas católicas romanas, pode ser citada como exemplo. Diz ele na página 348: “Pelos frutos do sacrifício da missa compreendemos os efeitos que ele produz para nós, considerando que é um sacrifício de expiação e impetração: (a) não somente graças sobrenaturais, mas também favores naturais; (b) remissão dos pecados, e da punição devida a eles. O que Cristo mereceu por nós, mediante Sua morte na cruz, é-nos aplicado no sacrifício da missa”. Após o sacrifício missa ser chamado sacrifício de expiação, a última sentença parece dizer que, afinal de contas, é somente um sacrifício no qual aquilo que Cristo mereceu por nós na cruz é aplicado aos participantes.
No que se refere à Ceia do senhor como sacramento, a Igreja Católica Romana ensina que o sacramento age ex opere operato, o que significa, “em virtude do ato sacramental propriamente dito, e não em virtude dos atos ou da disposição do ministro (ex opere operantis)”. Quer dizer que todo aquele que recebe os elementos, seja ímpio ou crente fiel, também recebe a graça simbolizada, concebida como uma substância contida nos elementos. O próprio rito sacramental transmite graça ao participante. Ao mesmo tempo, ela ensina também, deveras incoerentemente, como se vê, que os efeitos do sacramento podem ser parcial ou completamente frustrados pela existência de algum obstáculo, pela ausência daquela disposição que habilita a alma a receber graça, ou porque falta ao sacerdote a intenção de fazer o que a igreja quer.
b. O conceito protestante predominante. O conceito que prevalece nas igrejas protestantes é que o sacramento não age ex opere operato. Este não é em si mesmo uma causa ou fonte de graça, mas apenas um instrumento nas mãos de Deus. Sua operação efetiva depende, não só da presença da fé no participante, mas também da atividade da fé. Os incrédulos podem receber os elementos externos, mas não recebem a coisa simbolizada por eles. Todavia, alguns luteranos e os episcopais da Alta Igreja, em seu desejo de manter o caráter objetivo do sacramento, manifestam claramente uma tendência para adesão à posição da igreja de Roma. “Cremos, ensinamos e confessamos”, diz a Fórmula de Concórdia, “que não somente os verdadeiros crentes em Cristo, e os que se acercam dignamente da Ceia do Senhor, mas também os indignos e os descrentes recebem o verdadeiro corpo e sangue de Cristo; de maneira tal, no entanto, que estes não auferem nem consolo nem vida, mas, antes, o que recebem se transforma em seu juízo e condenação, se não se converterem e não se arrependerem (1 Co 11.27, 29)”.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg660)

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