quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DISTINÇÕES NECESSÁRIAS A RESPEITO DA LEI E DO EVANGELHO

a. Como já foi dito no item anterior, a distinção entre a Lei e o Evangelho não é a mesma que há entre o Velho e o Novo Testamentos. Tampouco é a mesma que os dispensacionalistas atuais fazem entre a dispensação da Lei e a dispensação do Evangelho. É contrário aos simples fatos da Escritura dizer que não há Evangelho no Velho Testamento, ou pelo menos na parte do Velho Testamento que abrange a dispensação da Lei. Há Evangelho na promessa à mãe da humanidade, na lei cerimonial e em muitos dos profetas, Is 53 e 54; 55.1-3, 6, 7; Jr 31.33, 34; Ez 36.25-28. De fato há Evangelho percorrendo todo o Velho Testamento, culminando nas profecias messiânicas. É igualmente contrário à Escritura dizer que não há lei no novo Testamento, ou que a Lei não tem aplicação na dispensação do novo Testamento. Jesus ensinou a validade permanente da lei, Mt 5.17-19. Paulo afirma que Deus providenciou para que as exigências sejam cumpridas em nossas vidas, Rm 8.4, e declara os seus leitores responsáveis pela guarda da lei, Rm 13.9. Tiago assegura aos seus leitores que aquele que transgride um só mandamento da lei (e menciona alguns destes), é transgressor da Lei, Tg 2.8-11. E João define o pecado como “transgressão da lei” e declara que este “é o amor de Deus,, que guardemos os seus mandamentos”, 1 Jo 3.4; 5.3.
b. É possível dizer que, nalguns aspectos, o cristão está livre da Lei de Deus. Nem sempre a Bíblia fala da Lei no mesmo sentido. Às vezes a considera como a expressão imutável da natureza e da vontade de Deus, aplicável em todos os tempos e em todas as condições. Mas também se refere a ela de acordo com as funções que ela exerce na aliança das obras, na qual a dádiva da vida eterna foi condicionada ao céu cumprimento. O homem deixou de preencher a condição, com isso perdendo também a capacidade de preenche-la, e agora está, por natureza, sob a sentença de condenação. Quando Paulo traça um contraste entre a Lei e o Evangelho, está pensando neste aspecto da Lei, a quebrantada Lei da aliança das obras, que já não pode justificar o pecador, só podendo condena-lo. Da Lei neste sentido particular, como meio para obtenção da vida eterna e com poder condenatório, os crentes são postos em liberdade em Cristo, visto que Ele se fez maldição por eles e também satisfez as exigências da aliança das obras a favor deles. A Lei, nesse sentido particular, e o Evangelho da livre graça de Deus são mutuamente exclusivos.
c. Há, porém, outro sentido, em que o cristão não está livre da Lei. A situação é completamente diversa quando pensamos na Lei como expressão das obrigações morais do homem para com o seu Deus, a Lei como é aplicada ao homem, mesmo independentemente da aliança das obras. É impossível imaginar alguma condição na qual o homem pudesse reivindicar liberdade da Lei nesse sentido. É puro antinomismo afirmar que Cristo guardou a Lei como regra de vida pelos Seus, de modo que eles não precisam preocupar-se mais com isso. A Lei reivindica, e com justiça, toda a vida do homem, em todos os seus aspectos, sua relação com o Evangelho de Jesus Cristo inclusive. Quando Deus oferece o Evangelho ao homem, a Lei exige que este o aceite. Alguns falam disso como a Lei no Evangelho, mas isto dificilmente está correto. O Evangelho mesmo consiste de promessas, e não é nenhuma lei; todavia, há uma exigência da Lei em conexão com o Evangelho. A Lei não somente exige que aceitemos o Evangelho e creiamos em Jesus Cristo, mas também que levemos uma vida de gratidão, em harmonia com as suas exigências.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.617)

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