quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

CARACTERÍSTICAS DA PALAVRA E DOS SACRAMENTOS COMO MEIOS DE GRAÇA

O fato de que se pode falar dos meios de graça num sentido muito geral, torna imperativo indicar as características distintivas dos meios de graça no sentido técnico ou restrito da palavra.
1. Eles são instrumentos, não da graça comum, mas da graça especial, da graça que remove o pecado e renova o pecador, em conformidade com a imagem de Deus. É verdade que a Palavra de Deus pode enriquecer, e nalguns aspectos realmente enriquece os que vivem sob o Evangelho com algumas das mais seletas bênçãos da graça comum, no sentido estrito da expressão; mas ela, e também os sacramentos, entram em consideração aqui somente como meios de graça no sentido técnico da expressão. E, neste sentido, os meios de graça sempre estão relacionados com a operação inicial e com a operação progressiva da graça especial de Deus, que é a graça redentora, nos corações dos pecadores.
2. Não em virtude da sua relação com as coisas neles incluídas, mas em si mesmos, eles são meios de graça. Experiências notáveis podem ser, e sem dúvida às vezes são, úteis para o fortalecimento da obra nos corações dos crentes, mas isto não faz delas meios de graça no sentido técnico, visto que só podem realizar isso na medida em que estas experiências são interpretadas à luz da Palavra de Deus, pela qual o Espírito Santo opera. A Palavra e os sacramentos são, em si mesmos, meios de graça; sua eficácia depende unicamente da operação do Espírito Santo.
3. Eles são instrumentos contínuos da graça de Deus, e não excepcionais, em nenhum sentido desta palavra. Quer dizer que não estão associados com a operação da graça de Deus apenas ocasionalmente ou de maneira mais ou menos acidental, mas são os meios ordenados normalmente para a graça salvadora de Deus e, como tais, têm valor perpétuo. O Catecismo de Heidelberg, na Pergunta 65, indaga: “Então, desde que somente pela fé nos tornamos participantes de Cristo e de todos os Seus benefícios, donde vem esta fé?” E a resposta é: “Do Espírito Santo, que age em nossos corações pela pregação do santo Evangelho, e a confirma pelo uso dos santos sacramentos”.
4. Eles são os meios oficiais da igreja de Jesus Cristo. A pregação da Palavra (ou, a Palavra pregada) e a administração dos sacramentos (ou, os sacramentos administrados) são os meios oficialmente instituídos na igreja de Cristo, pelos quais o Espírito Santo produz e confirma a fé nos corações dos homens. Alguns teólogos reformados (calvinistas) limitam ainda mais a idéia dos meios de graça, dizendo que eles só são administrados dentro da igreja visível, e que eles pressupõem a existência do princípio da nova vida na alma. Shedd e Dabney falam deles, sem nenhuma condição, como “meios de santificação”. Diz o primeiro: “Quando se diz que o mundo dos não regenerados tem os meios de graça, o que se tem em mira são os meios de convicção debaixo da graça comum, e não de santificação sob a graça especial de Deus”. Honig também distingue entre a Palavra de Deus como meio de graça e a Palavra como contendo o chamamento para a conversão e servindo para chamar os gentios para o serviço do Deus vivente. O dr. Kuyper também está pensando nos meios de graça como apenas meios para o fortalecimento da nova vida, quando diz: “Os media gratiae são meios instituídos por Deus, dos quais Ele se utiliza para revelar, tanto pessoal como socialmente, à nossa consciência e por meio dela, a recriação que Ele firmou imediatamente em nossa natureza”. Há, por certo, uma verdade nesta apresentação. O princípio da nova vida é produzido imediatamente na alma, isto é, sem a mediação da Palavra pregada. Mas, na medida em que a originação da nova vida também inclui o novo nascimento e a vocação interior, também se pode dizer que o Espírito Santo produz o início da nova vida ou da fé, como diz o Catecismo de Heidelberg, “pela pregação do santo Evangelho”.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.607)

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