quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A RELAÇÃO DA PALAVRA COM O ESPÍRITO SANTO

Há, desenvolvida no transcurso da história, uma grande diferença de opiniões a respeito da eficácia da Palavra, e, conseqüentemente, quanto à ligação existente entre a efetiva operação da Palavra e a obra do Espírito Santo.
1. O nomismo, em suas várias formas, tais como o judaísmo, o pelagianismo, o semipelagianismo, o arminianismo, o neonomismo e o racionalismo imaginam a influência intelectual, moral e estética da Palavra como a única influência que se lhe pode atribuir. O nomismo não crê na operação sobrenatural do Espírito Santo mediante a Palavra. A verdade revelada na Palavra de Deus age somente pela persuasão moral. Nalgumas de suas formas, como nas do pelagianismo e do racionalismo, o nomismo nem sequer sente necessidade de uma operação especial do Espírito Santo na obra de redenção, mas em suas formas mais moderadas, como nas do semipelagianismo, do arminianismo e do neonomismo, ele considera a influência moral da Palavra insuficiente, de modo que precisa ser suplementada pela obra do Espírito Santo.
2. De outro lado, o antinomismo não considera a Palavra externa necessária, de modo nenhum, e ostenta um misticismo que espera que tudo da palavra interior ou da luz interior ou da operação imediata do Espírito Santo. Seu lema è, “A letra mata, mas o espírito vivifica”. A palavra externa pertence ao mundo natural, não está à altura do homem verdadeiramente espiritual e não pode produzir resultados espirituais válidos. Embora os antinômios de todas as categorias revelem uma tendência para menosprezar, senão para ignorar totalmente os meios de graça, essa tendência recebeu sua mais clara expressão das mãos de alguns anabatistas.
3. Em oposição a estes dois conceitos, os Reformadores sustentavam que a Palavra, sozinha, não é suficiente para produzir a fé e a conversão; que o Espírito Santo pode agir sem a Palavra, mas ordinariamente não o faz; e que, portanto, na obra de redenção a Palavra e o Espírito trabalham juntos. Embora a princípio houvesse pouca diferença sobre este ponto entre os luteranos e os reformados, aqueles desde o início davam ênfase ao fato de que o Espírito age por meio da Palavra como Seu instrumento (per verbum, pela palavra), ao passo que estes preferiam dizer que a operação do Espírito Santo acompanha a Palavra (cum verbo, com a Palavra). Com o tempo, os teólogos luteranos desenvolveram a doutrina realmente luterana, de que a Palavra de Deus contém poder convertedor do Espírito Santo como um depósito divino, que agora se acha tão inseparavelmente ligado a ela, que está presente mesmo quando a Palavra não é utilizada, ou não é utilizada legitimamente. Mas, com o fim de explicar os diferentes resultados da pregação da Palavra no caso de pessoas diferentes, eles tiveram que recorrer, ainda que de forma branda, à doutrina do livre arbítrio do homem. Os reformados, na verdade, consideravam a Palavra de Deus como poderosa sempre, quer como sabor de vida para a vida, quer como sabor de morte para a morte, mas afirmavam que ela se torna eficaz na condução à fé e à conversão somente pela conjunta operação do Espírito Santo nos corações dos pecadores. Eles se recusavam a considerar esta eficácia como um poder impessoal residente na Palavra.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.613)

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