terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A Ceia do Senhor

A. Analogias da Ceia do Senhor em Israel.
Justamente como havia analogias do batismo cristão em Israel, havia também analogias da Ceia do Senhor. Não somente entre os gentios, mas também entre os israelitas, os sacrifícios muitas vezes eram acompanhados de refeições sacrificiais. Isto era um traço particularmente característico das ofertas pacíficas. Destes sacrifícios, somente a gordura ligada às entranhas era consumida no altar; o peito movido era dado aos sacerdotes, e a coxa da oferta alçada ao sacerdote oficiante, Lv 7.28-34, enquanto que o restante constituía uma refeição sacrificial para o ofertante e seus amigos, desde que estivessem leviticamente limpos, Lv 7.19-21; Dt 12.7, 12. De maneira simbólica, estas refeições ensinavam que, “justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). Expressavam o fato de que, com base no sacrifício oferecido e aceito, Deus recebia Seu povo como hóspedes em Sua casa e se unia a eles em jubilosa comunhão, a vida comunitária da aliança.
Era proibido a Israel tomar parte nas refeições dos gentios exatamente porque isto expressaria sua lealdade a outros deuses, Ex 34.15; Nm 25.3, 5; Sl 106.28. As refeições sacrificiais, que atestavam a união de Jeová com seu povo, eram ocasiões de júbilo e alegria, e, nesta qualidade, às vezes sofriam abusos e davam lugar a orgia e bebedeira, 1 Sm 1.13; Pv 7.14; Is 28.8. O sacrifício da Páscoa também se fazia acompanhar de semelhante refeição sacrificial.
Contrariamente aos católicos romanos, os protestantes procuravam às vezes defender a posição segundo a qual essa refeição constituía a Páscoa completa, mas esta posição é insustentável. A Páscoa era, antes de tudo, um sacrifício de expiação, Ex 12.27; 34.25. Não somente se lhe chamava sacrifício, mas também, no período mosaico, estava relacionada com o santuário, Dt 16.2. O cordeiro era imolado pelos levitas, e o sangue era manipulado pelos sacerdotes, 1 Cr 30.16; 36.11; Ed 6.19. Mas, embora fosse antes de tudo um sacrifício, não era somente isso; era também uma refeição, na qual o cordeiro assado era comido com pães asmos, isto é, não levedados, e com ervas amargas, Ex 12.8-10. Do sacrifício se passava diretamente a uma refeição, que mais tarde veio a desenvolver-se de forma muito mais elaborada que em sua origem. O Novo Testamento atribui à Páscoa uma significação típica., 1 Co 5.7, e, assim, vê nela não somente uma rememoração da libertação do Egito, mas também um sinal e selo da libertação da escravidão do pecado, bem como da comunhão com Deus no Messias prometido. Foi em conexão com a refeição pascal que Jesus instituiu a Santa Ceia. Utilizando elementos presentes naquela, Ele efetuou uma transição muito natural para esta. Ultimamente alguns críticos têm procurado lançar dúvida sobre a instituição da Ceia do Senhor por Jesus, mas não existe nenhuma boa razão para duvidarmos do testemunho dos evangelhos, nem tampouco do testemunho independente do apóstolo Paulo em 1 Co 11.23-26.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg648)

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